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Publicado em 10 de Junho às 17:12:40

A desaceleração econômica da China

Dados recentes evidenciaram que o crescimento econômico mais lento da China reflete a política de controle à Covid-19 adotada com afinco pelo Governo do país. Conforme dados do National Bureal of Statistics, a taxa de desocupação avançou 1,0 p.p. em abril, chegando a 6,1% – cabe ressaltar, ademais, a taxa de desocupação entre jovens de 16 a 24 anos, que chegou ao recorde de 18.2%. Contudo, para além dos efeitos sobre a economia doméstica, as restrições à mobilidade e os lockdowns impõem mais pressões sobre o comércio internacional e a dinâmica de crescimento da economia global.

Em relação às medidas de controle à Covid-19, o surto de contágio o qual a China enfrenta desde meados de março força a manutenção de lockdowns e de severas restrições à circulação em diversas províncias do país. Tais restrições se refletiram em um dos maiores congestionamentos portuários de Xangai e contribuíram para um fraco desempenho da balança comercial da China, além de atribuírem às cadeias globais de valor maiores pressões à sua estabilização. Dados do PMI (Purchasing Managers Index) relativos à indústria mostram como o nível de importação e novos pedidos se deterioraram rapidamente nos últimos meses. Evidentemente, o congestionamento no porto de Xangai impediu que a quantidade demandada de produtos chagasse ao país, e, como consequência, seus preços tendem a subir – os preços ao produtor, por exemplo, acumulam alta de 10,8% nos últimos 12 meses. Todos esses vetores fizeram com que a produção industrial da China caísse 2,9% em abril em relação ao mesmo período do ano passado e alimentasse o sentimento negativo quanto ao crescimento econômico do país.

Para 2022, Pequim – que adota um “regime” de metas de crescimento – projeta um crescimento de 5,5% para o PIB do país. A fim de atingir tal objetivo, Pequim tem aplicado diversos estímulos, tanto fiscais quanto monetários, na economia chinesa, como, por exemplo, a redução da LTR (Long Term Rates) em 15 pontos-base, que visa estimular o mercado imobiliário que corresponde a cerca de 30% do produto interno bruto. Contudo, o timing do PBoC (People’s Bank of China) não poderia ser pior, afinal, o mesmo caminha no sentido oposto do Federal Reserve, do Bank of England e de outros Bancos Centrais. Um diferencial de juros favorável aos Estados Unidos, por exemplo, deprecia a taxa de câmbio renmembi por dólar no país, o que, embora favorável à balança comercial, significa influxo de moeda estrangeira e a possibilidade de deterioração do mercado financeiro e da inflação do país. Esse cenário, diga-se de passagem, tem efeitos negativos para a economia brasileira dada a relevante participação da China em nossa balança comercial. Por outro lado, entretanto, a desaceleração da segunda maior economia do mundo pode ser um vetor positivo para o cenário inflacionário global se considerarmos a queda marginal na demanda por commodities energéticas, metálicas e agrícolas, que tanto têm contribuído para os choques de preços.

Portanto, considerando todos os pontos citados e incorporando as falas recentes do premier chinês sobre uma possível queda no PIB no 2T22, enxergamos com ceticismo os estímulos econômicos dados por Pequim. Além disso, diante da importância do ano de 2022 em termos políticos com a possível terceira reeleição do atual presidente Xi Jinping, acreditamos que a política de controle à Covid-19 deve ser mantida, visto que é uma forte campanha de propaganda política/nacionalista do partido Comunista. Esse fato adiciona um viés pessimista para os próximos trimestres, com o risco de intensificação dos gargalos presentes nas cadeias globais de produção, além dos impactos na confiança dos consumidores, que limitará os gastos com consumo das famílias chinesas, assim como observado durante o lockdown da cidade de Xangai. Neste cenário nebuloso, resultante da propaganda política de sucesso no controle da pandemia e da persistência do uso apenas de vacinas nacionais, que se mostram de menor eficácia, acreditamos que a pandemia seguirá assombrando a economia e a população chinesa, de modo que, a China deve crescer próximo de 3% este ano, bem distante de sua meta inicial de 5,5%.

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