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Publicado em 21 de Julho às 11:02:42

Alta de juros na Europa: antes tarde do que nunca

O Banco Central Europeu elevou a taxa básica de juros da Zona do Euro em 50 bps, levando-a para 0% a.a. e surpreendendo parte do mercado, que esperava 25 bps. Dessa forma, além de marcar o primeiro aumento na taxa em mais de 11 anos, simboliza o início, ainda que tardio, do combate à inflação por parte da autoridade monetária do velho continente.

Na terça-feira, o CPI da Zona do Euro – formada pelos países que, além de integrarem a chamada União Europeia, adotaram o euro como moeda – confirmou a leitura preliminar ao avançar 0,8% em junho frente a maio e acumular uma alta de 8,6% nos últimos 12 meses. De acordo com os dados divulgados pelo Eurostat, a agência de estatística do bloco econômico, a maior contribuição para o CPI no mês foi energia, correspondendo a 4,1 pontos percentuais. Alimentação, álcool e tabaco contribuíram com 1,8 ponto percentual. A manutenção da trajetória de deterioração da dinâmica inflacionária na Europa abriu caminho para uma postura mais agressiva do Banco Central Europeu, saindo do território negativo pela primeira vez desde a crise da dívida grega em 2014.

De acordo com o comunicado emitido pela autoridade monetária, o Conselho, de maneira unânime, considerou a decisão de aumentar em 50 bps a taxa de juros. Esta medida, segundo a presidente Christine Lagarde, é vista como apropriada para garantir que a taxa de inflação retorne para o patamar de 2% nos próximos anos. Durante a conferência de imprensa, a presidente do BCE reafirmou a mensagem contida no comunicado da decisão de política monetária, que os passos futuros serão completamente dependentes dos dados, renunciando ao forward guidance dado na reunião de junho. Embora o aumento de 50 bps tenha surpreendido uma parte do mercado, a decisão ficou em linha com o discurso de que um aumento superior a 25 bps poderia se materializar em caso de deterioração dos indicadores ligados ao nível de preços.

Portanto, é perceptível que a continuidade do conflito no Leste Europeu continua contaminando os preços de energia e alimentação na região, devido a menor oferta de commodities agrícolas e energéticas. Infelizmente, não é possível, em nossa visão, estimar quando o conflito terminará. Contudo, é evidente que sua extensão por mais alguns meses impactará diretamente a leitura do produto interno bruto da Europa deste ano, haja vista que uma das consequências desse conflito é a escassez energética, que pressionará a capacidade produtiva da indústria. Isso leva a uma maior percepção de risco associada a alta incerteza e a um euro ainda mais fraco, tudo o que Lagarde não precisa enquanto luta contra a inflação.

O movimento mais agressivo do BCE veio em linha com a última decisão de juros do Banco do Canadá, que entregou uma alta de 100 bps da taxa de juros. Estes movimentos trazem à mesa uma maior probabilidade de que tanto o Banco Central da Inglaterra quanto o Federal Reserve se juntem à festa, entregando altas de 50 bps e 100 bps, respectivamente.

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