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Publicado em 07 de Novembro às 15:33:33

As commodities e o crescimento econômico

Os preços das commodities guardam, historicamente, intrínseca relação com o ritmo de crescimento da economia mundial. Durante boa parte das últimas décadas, a China foi o principal motor do crescimento global, com o setor de construção, um dos principais pilares da economia do país, sendo responsável pela valorização das commodities metálicas. Já as do gênero alimentício também sofreram forte influência desse player global, mais notadamente soja e milho para ração animal, além da necessidade de um leque amplo de outros alimentos para atender o mercado consumidor interno em rápida expansão.

Numa tentativa de expor melhor essa relação, exibimos um índice de commodities (CRB Index) junto do excesso de crescimento econômico em relação à média desde 1980 (em pontos percentuais) ao invés, apenas, do crescimento do PIB real, pois o primeiro se adequou melhor aos dados. Em pontilhado, aparecem as projeções baseadas em contratos futuros para o caso das commodities. Já o excesso de crescimento (em p.p) é calculado com base nas projeções de expansão do PIB real contidas no último relatório do World Economic Outlook (WEO) do FMI de outubro de 2022.

O índice CRB apresenta boa correlação com o excesso de crescimento chinês no período pré-crise de 2008, onde anos seguidos de crescimento econômico acima da média histórica deram início ao movimento de “boom” das commodities. Com a chegada da crise, houve uma queda abrupta seguida de uma rápida recuperação, como podemos ver no primeiro gráfico acima. Com o passar do tempo, contudo, sucessivos crescimentos abaixo da média da década de 2010 inauguraram um longo período de tendência de queda das commodities que só foi revertido recentemente com a recuperação econômica do pós-pandemia. Esse movimento na ponta parece não se dever tanto à economia chinesa, com a invasão da Ucrânia pela Rússia sendo a maior responsável pela valorização recente das commodities agrícolas. Em outra abordagem, a demanda por cobre, uma boa proxy para o crescimento econômico, também parece estar em consonância com o gradual retorno à média do crescimento do PIB chinês. Nesse sentido, os contratos futuros de cobre vão ao encontro das projeções mais recentes do FMI.

Comparando agora esse mesmo índice de commodities e as cotações do cobre com o excesso de crescimento da economia mundial, vemos um padrão similar ao observado na economia chinesa, mas com um “match” melhor dessas séries aos períodos de crise (2008 e pandemia de covid-19) que foram seguidos de um ano de forte recuperação econômica. Situação muito semelhante pode ser vista quando exibimos apenas os dados de crescimento das economias desenvolvidas.

Por fim, focando mais no cenário futuro, se as previsões mais recentes do FMI para a economia mundial se confirmarem, devemos ver a trajetória futura dos preços das commodities evoluir de forma muito similar à exposta aqui, com o índice CRB apresentando recuo contínuo daqui até 2024 e com o cobre vivenciando um longo período de relativa estabilidade até meados de 2025, e, daí em diante, passando a experimentar uma leve alta com o retorno do crescimento mundial à tendência de longo prazo.

O único caso mais destoante é quando olhamos para as previsões futuras do preço do petróleo embutidas nos contratos futuros. Ao invés de expressarem uma certa estabilidade ou então uma leve tendência de alta por conta da recuperação da economia mundial e das incertezas cercando os investimentos na prospecção de novos poços, a curva futura exibe uma parábola descendente até 2027.

Esse artigo torna mais evidente a relação entre as expectativas de desaceleração da economia global e o preço das principais commodities no mercado internacional. Nossa avaliação é que, por um lado, essa desaceleração beneficiará a convergência da inflação brasileira no horizonte relevante. Entretanto, o custo de tal benefício será um menor impulso para a atividade via exportações. Além disso, devemos esperar uma redução na arrecadação federal com atividades extrativas, um importante vetor de melhora das contas públicas desde o final da pandemia.

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