A guerra continua. Diante de sanções econômicas cada vez mais duras, o governo russo tem reagido militarmente, com o envio de mais tropas, mais bombardeios, mais destruição e mais mortes. Entretanto, ao contrário do que muitos esperavam, o país não adotou qualquer represaria na área econômica. Pelo menos por enquanto. Uma questão particularmente preocupante é qual será a reação do governo russo diante da tentativa dos governos ocidentais de cortar o acesso dos bancos russos ao sistema de transações financeiras internacionais (SWIFT) e de congelar as reservas do país denominadas em ouro e em dólares, que estão depositadas em bancos de países ocidentais.
Se o país não tem acesso às reservas e os bancos não têm acesso ao mercado financeiro internacional, como irá à Rússia honrar os pagamentos de sua dívida? Segundo o FMI, os bancos ocidentais estão expostos em US$ 120 bilhões à dívida russa. Por outro lado, qual o incentivo para que o país honre seus compromissos, tanto públicos quanto privados? Nos últimos dias, o governo russo tem indicado que deverá pagar sua dívida em rublos à taxa de câmbio oficial. Seria quase um default. Os primeiros vencimentos de juros ocorrem nesta semana.
O aumento da incerteza no sistema bancário global pode ter consequências drásticas. Lembremos da crise financeira que ocorreu em 2008, até então a maior desde a grande depressão em 1929, resultante de uma má gestão de risco e de uma bolha imobiliária, que culminaram no derretimento dos preços de ativos atrelados a hipotecas. Instituições financeiras que detinham estes papéis sofreram graves consequências, atingindo seu clímax com a falência do banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008, e dando início a crise econômica global decorrente da forte redução dos gastos com consumo e investimentos. Soma-se a isso as incertezas em torno de quais instituições eram os detentores desses papéis, o que limitou também o fluxo de capital dentro do sistema financeiro, um clássico problema na teoria econômica devido à assimetria de informações entre os agentes econômicos, que ocorre em um ambiente de elevada incerteza onde os agentes não conseguem distinguir os players solventes dos insolventes, devido à elevada assimetria informacional.
Além disso, o fechamento da Bolsa russa, desde o início do conflito, impossibilitou a negociação de ativos de empresas russas por parte dos detentores desses papéis que tiveram que observar o desmoronamento do valor destes ativos. Abaixo vemos os gráficos de empresas consolidadas russas – Sberbank e Gazprom – cujos papéis sofreram quedas dramáticas e com a bolsa russa fechada torna a liquidação desses ativos uma missão impossível. Este cenário contribui para elevar as incertezas no sistema financeiro, afinal quais instituições internacionais detém estes papéis e qual o tamanho da sua exposição? Esta melodia, a sinfonia dos canhões, é o plano de fundo de um filme de suspense no qual todo o sistema financeiro mundial é o suspeito do crime. De volta a 2008?