Os dados da economia americana divulgados recentemente, sugerem que o Federal Reserve (Fed), banco central do país, errou pela segunda vez no ciclo atual de combate à inflação. Na primeira vez, diante da volta da inflação com o arrefecimento da pandemia, o Fed avaliou que o fenômeno era transitório decorrente de gargalos no sistema produtivo e que seriam revertidos automaticamente com a volta à normalidade.
Como o problema era, pelo menos em parte, decorrente de excesso de demanda devido a políticas fiscais expansionistas, a taxa de inflação acelerou, atingiu o nível mais elevado em mais de 40 anos, forçando o Fed a acelerar o aumento da taxa de juros.
Após elevar a taxa de juros para o intervalo entre 4,25% a 4,50%, com aumentos de 0,75 e 0,50 pontos de porcentagem, o Fed decidiu desacelerar os aumentos de juros para 0,25p.p., na suposição que a desaceleração da inflação ocorrida nos últimos meses, devido à queda dos preços das commodities, seria o resultado da política monetária e que a manutenção deste aperto monetário seria suficiente para levar a inflação para a meta.
Os dados da economia dados de janeiro deram o sinal de alerta. Foram gerados 517 mil postos de trabalho no mês, contra expectativas de 190 mil, a taxa de desemprego caiu de 3,5% para 3,4% da força de trabalho e os salários médios cresceram 4,34%. Ao mesmo tempo as vendas no varejo aumentaram 3,0% em janeiro em relação a dezembro (expectativa de 1,9%) e, sem considerar as vendas de automóveis, cresceram 2,3% (expectativas de 0,9%).
A inflação desacelerou menos do que a esperada. O CPI, Índice de Preços ao Consumidor, variou 0,5% no mês de janeiro em relação a dezembro e a taxa de inflação anual atingiu 6,4% contra expectativas de 6,2%. Os núcleos surpreenderam, com aumento de 0,4% no mês e 5,6% em doze meses (expectativas de 0,4% e 5,5%, respectivamente), o Índice de Preços ao Produtor, PPI, aumentou 0,7% no mês e o núcleo do índice variou 0,6% (expectativas de 0,4% e 0,3% respectivamente).
Diante das elevadas taxas de inflação ainda vigentes (6,0% ao ano), a taxa de juros real continua em níveis baixos e negativa. Com isto, diretores do Fed passaram a reforçar a mensagem de que a taxa de juros deverá superar 5,0% ao ano no final deste ciclo, permanecer em níveis elevados por um longo período de tempo, e os aumentos podem ser acelerados. Mais juros pela frente.