Os dados do PIB do 2T22 da China deram margem para uma precificação ainda maior de uma desaceleração de caráter global. De acordo com o National Bureau of Statistics, o produto interno bruto do país recuou 2,6% ante o primeiro trimestre do ano. Isso reforça nossa visão de que a meta de crescimento de 5,5% em 2022 não será alcançada, ao passo que esperamos uma expansão da ordem de 3,5%. Por um lado, tal cenário implica em menores pressões inflacionárias, haja vista a menor demanda por commodities – que tanto tem contribuído para as leituras negativas do CPI ao redor do mundo – ; por outro, pode pressionar as economias mais sensíveis à atividade econômica do país, como o Brasil.
Além disso, os dados referentes aos gastos com consumo das famílias nos Estados Unidos deixam claro o cenário de condições financeiras mais apertadas. Em sua última atualização sobre o PIB do 2T22 do país, o Bureal of Economic Analysis revisou de 3,1% para 1,8% o crescimento do consumo das famílias. Em linha, os gastos com consumo pessoal – em termos reais – medido pelo PCE recuaram 0,4% mês a mês em maio. Acreditamos que esse comportamento deve se estender pelos próximos meses dados alguns fatores, como, por exemplo, a menor poupança privada acumulada, que até então se mostrava como a principal fonte de recursos das famílias. Outro ponto relevante a respeito da economia norte-americana é o rumo que deve tomar a política monetária. Em nossa visão, a persistência inflacionária e uma clara resiliência do mercado de trabalho em meio à contração monetária farão com que o Federal Reservedê passos maiores em suas próximas reuniões – esperamos um aumento de 75 bps na reunião de julho. Observamos, inclusive, que os últimos dados levaram até os membros da ala mais dove do Fed a considerar elevações maiores nos juros.
De modo geral, há uma série de evidências que apontam para uma desaceleração em nível global. Contudo, em relação à resposta dos formuladores de política a esse fato, encontramos divergências. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve parece atribuir menos importância ao trade-off ente inflação e emprego e, assim, segue sua conduta hawkish a fim de convergir a inflação para a meta. Vis-a-vis, a China segue anunciando diversos pacotes de estímulo à economia, em uma clara tentativa de atingir sua meta de crescimento anual. Em nossa visão, ainda há fatores que tornam nebuloso o futuro da economia chinesa, mas acreditamos que, se a política de Covid Zero continuar, dificilmente a meta será atingida. Quanto aos Estados Unidos, mesmo que dados de consumo mostrem que, talvez, a desaceleração já esteja em curso, outro cenário se mostra no mercado de trabalho. Portanto, acreditamos que o Fed deve ir além nas altas, levando a taxa básica de juros norte-americanaao intervalo de 3,75% a 4%. Dito tudo isso, atribuímos força maior ao vetor da política monetária contracionista dos países avançados, em detrimento dos estímulos da economia asiática, e projetamos uma desaceleração global nos próximos trimestres.