Home > O Economista > Evidências da desaceleração global são ainda mais claras

Publicado em 15 de Julho às 13:41:49

Evidências da desaceleração global são ainda mais claras

Os dados do PIB do 2T22 da China deram margem para uma precificação ainda maior de uma desaceleração de caráter global. De acordo com o National Bureau of Statistics, o produto interno bruto do país recuou 2,6% ante o primeiro trimestre do ano. Isso reforça nossa visão de que a meta de crescimento de 5,5% em 2022 não será alcançada, ao passo que esperamos uma expansão da ordem de 3,5%. Por um lado, tal cenário implica em menores pressões inflacionárias, haja vista a menor demanda por commodities – que tanto tem contribuído para as leituras negativas do CPI ao redor do mundo – ; por outro, pode pressionar as economias mais sensíveis à atividade econômica do país, como o Brasil.

Além disso, os dados referentes aos gastos com consumo das famílias nos Estados Unidos deixam claro o cenário de condições financeiras mais apertadas. Em sua última atualização sobre o PIB do 2T22 do país, o Bureal of Economic Analysis revisou de 3,1% para 1,8% o crescimento do consumo das famílias. Em linha, os gastos com consumo pessoal – em termos reais – medido pelo PCE recuaram 0,4% mês a mês em maio. Acreditamos que esse comportamento deve se estender pelos próximos meses dados alguns fatores, como, por exemplo, a menor poupança privada acumulada, que até então se mostrava como a principal fonte de recursos das famílias. Outro ponto relevante a respeito da economia norte-americana é o rumo que deve tomar a política monetária. Em nossa visão, a persistência inflacionária e uma clara resiliência do mercado de trabalho em meio à contração monetária farão com que o Federal Reservedê passos maiores em suas próximas reuniões – esperamos um aumento de 75 bps na reunião de julho. Observamos, inclusive, que os últimos dados levaram até os membros da ala mais dove do Fed a considerar elevações maiores nos juros.

De modo geral, há uma série de evidências que apontam para uma desaceleração em nível global. Contudo, em relação à resposta dos formuladores de política a esse fato, encontramos divergências. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve parece atribuir menos importância ao trade-off ente inflação e emprego e, assim, segue sua conduta hawkish a fim de convergir a inflação para a meta. Vis-a-vis, a China segue anunciando diversos pacotes de estímulo à economia, em uma clara tentativa de atingir sua meta de crescimento anual. Em nossa visão, ainda há fatores que tornam nebuloso o futuro da economia chinesa, mas acreditamos que, se a política de Covid Zero continuar, dificilmente a meta será atingida. Quanto aos Estados Unidos, mesmo que dados de consumo mostrem que, talvez, a desaceleração já esteja em curso, outro cenário se mostra no mercado de trabalho. Portanto, acreditamos que o Fed deve ir além nas altas, levando a taxa básica de juros norte-americanaao intervalo de 3,75% a 4%. Dito tudo isso, atribuímos força maior ao vetor da política monetária contracionista dos países avançados, em detrimento dos estímulos da economia asiática, e projetamos uma desaceleração global nos próximos trimestres.

Acesse o disclaimer.

Leitura Dinâmica

Recomendações

    Vale a pena conferir