O primeiro mês do novo governo foi particularmente barulhento. A PEC da Transição criou um espaço adicional para aumento de gastos da ordem de R$ 200 bilhões, aproximadamente 2,0% do PIB, o retorno dos impostos federais sobre combustíveis foi adiado para março, no caso da gasolina, e para o final do ano no caso do diesel, foi anunciada a volta da política de reajuste anual do salário mínimo real, entre outras medidas que irão tornar a política fiscal fortemente expansionista, aumentar o déficit e a dívida pública, que deverá atingir, este ano, 79,8% do PIB.
O Ministro da Previdência declarou que a Previdência Social no Brasil é superavitária. O Ministro do Trabalho anunciou que vai “revisitar” a reforma trabalhista e que o trabalho por aplicativo é “trabalho escravo”. Finalmente, o Presidente Lula mostrou-se insatisfeito com o nível da meta para a inflação, que considera excessivamente baixo o que, segundo ele, irá forçar o Banco Central a adotar uma política monetária mais contracionista e qualificou a independência do Banco Central como uma “bobagem”.
A combinação de muito ruído, política fiscal expansionista e indícios de que a meta poderá ser aumentada gerou uma “guerra de guerrilha” entre governo e investidores, volatilidade nos preços dos ativos e aumento das expectativas para a inflação. Segundo o relatório Focus, em um mês, a expectativa para a inflação em 2023 saiu de 5,23% para 5,48%, acima do teto do intervalo de metas, para 2024 passou de 3,60% para 3,84%, para 2025 foi de 3,20% para 3,50% e para 2026 subiu de 3,01% para 3,22% ao ano. Todas acima das respectivas metas.
As projeções para a SELIC também aumentaram de 9,25% para 9,50% ao ano no final de 2023 e de 8,25% para 8,50% ao ano no final de 2024.
Em 2023, a inflação em doze meses terá um comportamento em formato de U. Nos primeiros três meses de 2022, a taxa de inflação superou 1% ao mês (fevereiro, março e abril). Nestes meses, a inflação mensal em 2023 será menor que em 2022. Em abril, o IPCA deverá atingir nível próximo a 4,0% ao ano. Em meados de 2022, tivemos três meses de deflação (julho agosto e setembro), devido à redução do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações. Em 2023 estes meses deverão ter inflação positiva, aumentando a inflação anual, que deve fechar 2023 em 6,5%, acima do teto da meta pelo terceiro ano consecutivo. A guerra de guerrilha vai se intensificar.