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Publicado em 13 de Maio às 15:40:17

O Fantasma da “Estagflação”

O estímulo ao consumo originado dos pacotes fiscais que visavam suavizar os efeitos negativos à economia da Covid-19 e as restrições de oferta provenientes das medidas de contenção ao vírus geraram um processo inflacionário de caráter mundial. Ademais, o conflito no Leste Europeu e a política de Covid-Zero na China intensificam tal processo, seja pela elevação nos preços das commodities, seja pelo impacto nas cadeias produtivas no caso do país asiático. Em meio a esse cenário e à adoção de políticas monetárias contracionistas por parte de diversos Bancos Centrais ao redor do mundo, abre-se caminho para discutir a possibilidade de um cenário de estagflação, isto é, a presença de um processo inflacionário acompanhado de um baixo crescimento econômico. 

Inflação no Mundo

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Dada a importância tanto da Ucrânia quanto da Rússia para o mercado internacional de commodities agrícolas, o conflito entre ambos provocou uma elevação vertiginosa nos preços de tais ativos e, consequentemente, na inflação de alimentos. Além disso, a grande participaçãoda Rússia na oferta global de petróleo e as sanções que o país sofreu como resposta do Ocidente à guerra, causaram forte pressão sobre os preços da energia. Desse modo, sem uma clara interrupção do conflito, enxergamos que os preços das commodities podem se manter nos níveis atuais por um período mais prolongado. Ao passo que para economias como a brasileira – isto é, exportadoras de commodities – tal cenário é positivo, para a Europa, por outro lado, as consequências são adversas. O crescimento do continente está ameaçado, dentre outras coisas, por uma questão energética bem delicada: a alta dependência do gás natural russo.  

Toda essa narrativa implica num tom mais vigilante por parte dos Bancos Centrais. Em relação ao cenário doméstico, por exemplo, os diretores do BCB elevaram a Selic em 12,75% na última reunião do Copom, além de informar que mais hikes estão na mesa. De modo semelhante, o Federal Reserve, dos EUA, intensificou a elevação dos juros e anunciou a redução de seu balanço de ativos afim de enxugar a liquidez da economia norte-americana. Outros Bancos Centrais, diga-se de passagem, como o Bank of England, seguem a mesma postura. Além disso, aqui no Brasil o período eleitoral deve trazer volatilidade e pressões por mais gastos governamentais, o que naturalmente impõe pressões sobre a política monetária – afinal, o enfraquecimento do arcabouço fiscal dificulta a ancoragem das expectativas de inflação. Com a possibilidade de mais um ano com inflação de dois dígitos, pode-se esperar mais elevações na Selic e a permanência da mesma em níveis elevados por mais tempo. Essa dinâmica, no entanto, ainda não foi efetivada pelo Banco Central Europeu, um dos mais cautelosos do mundo, fazendo com que esteja bem atrás dos seus pares no aperto monetário. A guerra já prejudica a confiança e causa ainda mais problemas às cadeias de abastecimento globais já afetadas pela pandemia, um cenário que já dificulta consideravelmente o crescimento econômico. Dito isso, é crível esperar uma desaceleração da atividade econômica mundial. 

Contudo, dados relativos à atividade econômica brasileira mostram seu caráter resiliente em meio ao cenário global mais adverso. E este é um ponto de grande relevância, uma vez que a recuperação esperada do setor de serviços, principalmente de serviços prestados às famílias – ainda com defasagem de 12% em relação ao nível pré-pandemia –, em nossa avaliação, tende a ser um importante vetor de recuperação da economia neste ano. Além disso, o fim da pandemia e a redução das medidas restritivas melhoram o sentimento de bem-estar da população e, como consequência, geram um impulso à demanda rumo à normalidade. A combinação destes dois fatores aquece a demanda por mão de obra no setor de serviços, que é intensiva no emprego de trabalho menos qualificado, o que deve dar continuidade ao processo de recuperação do mercado de trabalho brasileiro, visto que este foi o segmento mais afetado pela pandemia. Tanto em queda da taxa de desemprego como em geração de novos postos de trabalho formais, os últimos dados têm surpreendido positivamente.

Além disso, estímulos fiscais como a antecipação do saque do FGTS, do 13º salário e a ampliação do Auxílio Brasil são combustíveis essenciais para fomentar a demanda das famílias, crucial para observarmos um crescimento significativo da economia brasileira neste ano em um cenário de inflação elevada. Outro ponto relevante que afasta o Brasil dessa situação de estagnação é o maior nível de investimento privado que levou as taxas de investimento do país de volta aos patamares de 2014. Em nossa avaliação, isso foi possível devido às reformas estruturais implementadas desde 2016, que melhoraram o ambiente de negócios no país, como o marco do saneamento básico, das ferrovias e a reforma trabalhista. Em adição a essa realidade, o investimento público também promete colaborar em um ano de eleição presidencial, posto que durante a pandemia os estados acumularam um caixa expressivo e tendem a usá-lo em busca da reeleição. É, portanto, devido a esses fatores menos dependentes da política monetária que esperamos um melhor desempenho do crescimento brasileiro, apesar do fenômeno global de inflação.

Dito tudo isso, o saldo entre os vetores negativos e positivos nos permitem projetar um crescimento de 1,1% para a atividade econômica nacional em 2022. Em outras palavras, os riscos de estagflação não se materializam em nosso cenário base, embora acreditemos que os mesmos não devam ser ignorados. Por outro lado, enxergamos que tais riscos se tornam mais presentes na Europa dada a composição de sua matriz energética muito dependente do gás natural russo e a postura mais leniente em relação à inflaçãopor parte do Banco Central Europeu.  

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