Todos os anos ao final de agosto, o Federal Reserve de Kansas City realiza um encontro de três dias que reúne autoridades monetárias de vários países, acadêmicos e economistas do mercado financeiro, o chamado Jackson Hole Symposium. Com início nesta sexta-feira, o encontro se dará sob o tema “reavaliando as restrições à economia e a política monetária”. Portanto, um espaço perfeito para que Powell e outras autoridades do Fed discutam sobre o atual ciclo da política monetária nos Estados Unidos e, talvez, deem pistas sobre seus próximos passos.
Mas qual a importância de Jackson Hole? Ben Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve entre 2006 e 2014, foi uma entre outras autoridades monetárias que contribuíram com a construção da fama que o simpósio possui hoje. Diante da crise financeira de 2008, Bernanke, por meio de seus discursos em Jackson Hole, sinalizou quais passos seriam dados pelo Fed para conter uma deterioração drástica das condições financeiras da economia norte-americana. Afinal, no inverno daquele ano, a taxa básica de juros já havia chegado a 0%, e nem mesmo esse nível de estímulo seria suficiente para suavizar a desaceleração da economia. Foi então que Bernanke apresentou o quantitative easing, seu programa de compra de ativos para estimular a economia dos Estados Unidos.
Contudo, nosso contexto atual é antagônico ao de 2008, ao passo que nos encontramos em um ciclo de alta da taxa de juros, e é justamente a incerteza acerca da magnitude do ajuste que tanto tem chacoalhado o mercado nos últimos dias. Acreditamos em um Fed mais hawkish em relação às expectativas do mercado, haja vista que a desaceleração do CPI em julho – que trouxe consigo um rali no mercado de ações – apenas se deu devido à correção nos preços do petróleo, ao passo que o núcleo avançou 0,3% frente ao mês anterior. Em outras palavras, o componente principal da inflação segue sua trajetória de alta e, portanto, nada mudou em relação a percepção do Fed sobre as pressões sobre os preços. Além disso, o mercado de trabalho norte-americano segue em desequilíbrio, impondo um viés de alta à inflação.
Em síntese, não acreditamos que Powell nos surpreenderá com seu discurso em Jackson Hole, haja vista que nenhuma grande mudança ocorreu nos últimos dias. Para nós, a desaceleração no ritmo de alta apenas ocorrerá quando houver sinas claros de que a inflação entrou em trajetória de queda. Desse modo, continuamos com 75 bps para a reunião de setembro do Fomc e com uma taxa terminal no intervalo de 4% a 4,25%.