Em agosto a SELIC a 13,75% ao ano fará seu primeiro aniversário. Durante estes doze meses, a taxa de inflação anual mostrou tendência de queda, resultado da diminuição de ICMS sobre combustíveis, telecomunicações e energia elétrica. Porém, os núcleos da inflação, a inflação de serviços e de serviços subjacentes permaneceram acima da meta, próximas a 7,5% ao ano, da mesma forma que as expectativas para 2023, 2024, 2025 e 2026.
Simultâneo à política monetária contracionista, a política fiscal se tornou cada vez mais expansionista com a provação da PEC Kamikase e da PEC da Transição. A combinação de política monetária contracionista e política fiscal expansionista retardou os efeitos da taxa de juros real sobre a demanda e sobre a taxa de inflação. Daí a necessidade de manter a SELIC em níveis elevados durante tanto tempo. Esta demora parece estar chegando ao fim.
O crescimento do PIB no primeiro trimestre, a desaceleração das vendas no varejo e dos serviços em abril, e as variações do IPCA-15 e do IPCA em maio mostram a força da política monetária. O PIB cresceu 1,9% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2022, acima das projeções. Mas um crescimento concentrado na Agropecuária. Os indicadores de demanda vieram bastante fracos. O consumo das famílias cresceu 0,2%, o setor serviços 0,6% e comércio 0,3% e a Formação Bruta de Capital Fixo (investimento) caiu – 3,4%. E os IPCAs mostraram forte desaceleração dos núcleos, dos serviços e dos serviços subjacentes.
A manutenção de taxas de juros elevadas por um período prolongado começa a compensar o expansionismo da política fiscal e desacelerar a demanda. Condição necessária para levar a inflação para as metas e para iniciar o processo de queda da SELIC. Caso o Conselho Monetário Nacional (CMN) mantenha as metas para a inflação, re-ancorando as expectativas, este processo poderá ter início na reunião do COPOM de setembro.
A autonomia do BCB, os mandatos fixos dos diretores que só podem ser demitidos com a aprovação do Senado, foram fundamentais para a manutenção desta estratégia. Sem autonomia, seria difícil o BCB suportar as fortes pressões do governo para a redução da SELIC, antes que as condições estivessem propícias para tal. Seria uma repetição do “Episódio Tombini” de 2011/2015, com os resultados conhecidos (mais inflação e a maior recessão da história do país). Palmas para o Congresso.