Em meio às persistências inflacionárias desencadeadas, principalmente, mas não somente, por restrições de oferta, a política monetária tem se tornado mais restritiva em diversos países. Diferentemente do Federal Reserve, que tem, a cada encontro do Fomc, sido mais claro quanto a retirada de estímulos à economia norte-americana, o Banco Central Europeu optou por adotar uma postura um tanto quanto dovish e, em nossa opinião, incompatível com o alto nível de preços.
De acordo com dados compilados pela Bloomberg, a mediana das projeções para a inflação na Zona do Euro neste ano está em torno de 7%. Isto é, uma completa deterioração das expectativas explicada tanto pelo cenário externo adverso como pela postura leniente da autoridade monetária, que, em sua última reunião, encerrou seu programa de recompra de ativos e sinalizou que fará o primeiro aumento na taxa de juros em 10 anos em sua reunião de julho, de 25 bps.
Entretanto, considerando o atual estágio da inflação, que chegou a 8,1% em maio, e a existência de vetores negativos para o CPI da região, acreditamos que a condução da política monetária na Europa deveria ser mais durado que se observa hoje. Em outras palavras, enxergamos que o Banco Central Europeu está demasiadamente atrasado em seu objetivo de ancorar as expectativas para a inflação e, talvez, a sinalização de uma política monetária mais dura seria capaz de transmitir para o mercado que a convergência da inflação à meta é seu objetivo central. Todavia, em nossa opinião, dada a condução da política monetária até então, é improvável que Lagarde e os demais membros da instituição adotem tal postura.
Por fim, deve-se pontuar que o ritmo da contração monetária arquitetada em outros países, como nos Estados Unidos, pelo Federal Reserve, e na Inglaterra, pelo Banco da Inglaterra, traz mais pressões ao BCE. Afinal, a elevação do diferencial de juros, isto é, o spread entre os juros externos e os juros da Zona do Euro, fará com que o euro se deprecia frente às moedas de tais países e exija ainda mais da autoridade monetária. Portanto, para cumprir seu dever de manter a estabilidade dos preços, frizamos que o ritmo de aumentosna Europa tem de acelerar consideravelmente em relação ao atual.