Home > O Economista > Guerra entre Rússia e Ucrânia: Como o conflito pode afetar o Brasil e como investir nesse cenário

Publicado em 27 de Janeiro às 16:29:53

Guerra entre Rússia e Ucrânia: Como o conflito pode afetar o Brasil e como investir nesse cenário

Ontem o presidente Putin oficializou a invasão a Ucrânia e tropas russas já realizam bombardeios em Kiev e outras cidades do país, por mar, terra e espaço aéreo. A Europa e os EUA já prepararam uma série de sanções para intimidar o governo russo e o presidente ucraniano já declarou que não deve abrir mão da liberdade e independência do país. Otan e EUA já declararam que não enviarão tropas para dentro das fronteiras ucranianas e a China aparenta não ter intensões de interferir no assunto de seus aliados.

As bolsas ao redor do mundo já respondem aos ataques, com Ibovespa e S&P 500 acumulando quedas acima do 2% e o dólar, que seguia rumo a desvalorização (sendo cotado a R$ 5,00 na última quarta (23)), voltou a subir e já é cotado acima dos R$ 5,14.

Como o conflito impacta os mercados globais?

O aumento da incerteza global e da aversão ao risco têm impactos diretos em ativos mais arriscados, provocando um movimento de flight to safety em que se configura uma fuga de ativos de risco – bolsas e moedas emergentes – para ativos mais seguros, sobretudo, títulos de países desenvolvidos.

Esse movimento provoca uma elevação da volatilidade dos mercados e do câmbio, além de impactar as cadeias globais de produção/suprimentos, visto que essas economias são importantes players na exportação de commodities agrícolas e energéticas. Esse fato torna mais preocupante o fenômeno de elevada inflação global, impondo mais desafios nas decisões de política monetária dos principais bancos centrais, em particular, o Banco Central americano (Fed).

Nesse contexto, o conflito e as possíveis sanções econômicas impostas pelos países podem agravar a crise energética global, inclusive acarretando déficits energéticos no velho continente. Assim, as possíveis restrições ao consumo de energia impõem piores perspectivas de crescimento global que, juntamente com a persistente e generalizada alta inflacionária, impactam negativamente na atividade.

Ainda, um processo mais duro de ajuste de política monetária para controlar as expectativas de inflação nos países desenvolvidos – muito impactados pela alta nos preços de commodities energéticas – afetaria as economias emergentes, diante de uma menor liquidez global. Nesse contexto, o fluxo de capitais pode começar a sair de países emergentes, assim como o Brasil, em direção às principais economias, sobretudo, os EUA, promovendo uma pressão de desvalorização cambial.

Soma-se a isso, o impacto sobre os preços dos combustíveis em um cenário de inflação elevada que aumenta o risco de desancoragem das expectativas em horizontes mais longos de política monetária. Isso dificultaria o trabalho do Banco Central brasileiro no que diz respeito à convergência da inflação para a meta, fazendo necessário um ciclo de alta mais restritivo para combater o movimento de preços.

Quais devem ser os impactos para o Brasil?

O momento traz impactos diretos ao agro brasileiro. A Ucrânia é responsável por 17% da exportação global de milho, assumindo a terceira posição no mundo. As plantações ficam no leste do país, que é exatamente onde os Russos iniciaram os seus ataques.

O primeiro grande impacto pode ser o risco de desabastecimento de alimentos no mundo, gerando crises humanitárias em meio a um ciclo de recuperação global. Além disso, acreditamos que a aceleração do preço do milho impacta o processo de arrefecimento da inflação brasileira, sendo um obstáculo para a desaceleração da inflação de alimentos e dificultando o trabalho do Banco Central. Já na ponta positiva, como o Brasil é um importante exportador de milho, acreditamos que o eventual conflito e a consequente aceleração de preços podem beneficiar as empresas do setor agroexportador de grãos.

De imediato, já vimos uma escalada forte dos preços de grãos, o que deve ter um impacto positivo para as empresas que comercializam esses produtos – em especial, a SLC Agrícola (SLCE3) deve ser a maior beneficiada, pois é a empresa que tem a maior parcela de milho se sua carteira quando comparamos com as outras agrícolas que temos cobertura.

Já para os frigoríficos, o impacto é negativo, pois as commodities são utilizadas como ração para os animais, então os custos devem aumentar e, portanto, suas margens podem sofrer. A BRF (BRFS) terá o pior impacto, pois o milho é especialmente usado para a ração de frangos e suínos. Já os demais frigoríficos (JBSS3, BEEF3 e MRFG3), cujos focos são na comercialização de carne bovina, o impacto deve ser menos severo. Apesar do boi também se alimentar com milho em alguns casos (na criação através do confinamento), eles também comem o próprio pasto quando a criação deles é extensiva (no pasto) e não dependem tanto do milho para se alimentar.

Impactos no setor de óleo e gás

O atual conflito deve seguir pressionando para cima o preço do petróleo. O motivo não poderia ser mais simples: A Rússia é o segundo país com maior produção diário de petróleo de todo mundo, produzindo 10,8M barris/dia vs Estados Unidos, com uma produção de 12,1M/dia e responsável pelo abastecimento de aproximadamente 1/3 do gás natural consumido na Europa.

O acirramento da guerra somada à eventuais sanções que a Rússia deve sofrer jogam ainda mais gasolina na fogueira dos preços do Petróleo. Ou seja, empresas produtoras de Petróleo devem se beneficiar desse cenário. Nossa preferência no setor segue com na 3R Petroleum (RRRP3), que ao longo de 2022 deve finalmente concluir a aquisição dos ativos comprados da Petrobrás e, finalmente, começar o trabalho de revitalização dos campos adquiridos. Petrobrás seria outro nome natural para se jogar nesse momento, mas incertezas quanto ao cenário político nos fazem manter cautelosos em relação a empresa.

Vale lembrar que o preço do barril de petróleo já se encontra sendo negociado acima dos US$ 105/barril, valor que não era visto desde 2014. Não bastasse isso, a circulação de navios no Mar Negro está prejudicada, o que pode encarecer os fretes marítimos.

Dessa forma, um conflito armado entre as duas nações teria significativo impacto nos mercados. O aumento da incerteza global teria impacto direto nos preços dos ativos brasileiros e causaria uma imediata pressão de desvalorização cambial. Em termos macroeconômicos, o risco de uma menor oferta de commodities energéticas e agrícolas aumenta a pressão sobre preços, elevando os riscos de desancoragem das expectativas de inflação e uma política monetária mais contracionista.

Como proteger seus investimentos?

Sobre o ponto de vista de estratégias de investimento, a recomendação para aquele investidor mais conservador é de aproveitar a alta da taxa de juros aqui no Brasil. Temos expectativa de que os juros fiquem acima dos 12% ao ano no decorrer de 2022. Já para aquele investidor mais agressivo e que está em busca de oportunidades em renda variável, existem três estratégias possíveis.

  1. Proteção via exportadoras e que podem se beneficiar desse movimento de alta das commodities. Ainda gostamos bastante de empresas exploradoras de petróleo.
  2. Eventos como esse apesar de trágicos e que trazem volatilidade aos mercados, podem abrir oportunidades de compra em ações de qualidade, levando em consideração o histórico do mercado que teve recuperação dos preços após a indicação de conflitos geopolíticos. Empresas do Varejo Brasileiro, algumas Small Caps e o Setor Elétrico podem oferecer boas oportunidades para aquele investidor com visão de mais longo prazo.
  3. O real frente ao dólar apresentou ótimo desempenho em 2022, então, por mais que acreditamos que poderíamos ter um dólar mais baixo se as condições existentes (Fluxo de Investidor Estrangeiro) persistir, a entrada em tranches é uma estratégia bastante interessantes nesses momentos. A dolarização do seu patrimônio é algo muito importante e aproveitar essas janelas se torna essencial.
  4. Com maior aversão à risco, ativos considerados porto-seguros como dólar, franco suíço, iene japonês e o ouro tendem a se favorecer.

Apesar do curtíssimo prazo estar sendo impactado por esse evento, ainda temos temas relevantes para 2022 como eleições no Brasil e a subida de juros nos EUA. Esteja em dia com suas metas de investimento e perfil para aproveitar essas oportunidades e estar tranquilo quanto a sua carteira.

Acesse o disclaimer.

Leitura Dinâmica

Recomendações

    Vale a pena conferir