O Federal Reserve elevou a taxa básica de juros norte-americana em 75 bps em sua última reunião, a 4% a.a. Todavia, ao contrário do aumento, que já era esperado, o tom hawkish na fala de Jerome Powell, presidente da autoridade monetária, fez com que se elevassem as incertezas acerca do ciclo de alta dos juros. Se até então mais uma alta de 75 bps era certa em 2022, agora uma de “apenas” 50 bps está na mesa. Contudo, o que justifica uma desaceleração no ritmo de contração monetária?
Por um lado, as persistências inflacionárias e os desequilíbrios no mercado de trabalho continuam contribuindo para mais uma alta de 75 bps. De acordo com dados do BLS, a inflação nos Estados Unidos, medida pelo PCE, chegou a 6,2% em setembro, acima da meta do Federal Reserve, de 2%. O núcleo, que exclui alimentação e energia, e, portanto, se faz menos volátil que o índice cheio, está em 5,1% – o maior em 40 anos. Além disso, a resiliência do mercado de trabalho é surpreendente, com o payroll de outubro mostrando a criação de 261 mil postos de trabalho, por mais um mês consecutivo acima das expectativas. De modo semelhante, a taxa de desocupação, hoje em 3,7%, ainda se encontra abaixo da NAIRU (isto é, a taxa de desemprego que não acelera a inflação) estimada pelo Federal Reserve (4,0%), o que, portanto, impõe um viés altista sobre a inflação por meio da elevação dos salários.
Ademais, não é apenas a inflação e o mercado de trabalho aquecido que fazem com que um aumento de 75 bps esteja na mesa. Afinal, os gastos com consumo também evidenciam o quão resiliente está a economia norte-americana. Nos últimos 12 meses, os gastos com consumo cresceram 8,2%, sustentados especialmente pelos gastos com serviços. Para nós, o principal driver do consumo é o chamado excesso de poupança, compreendido como a poupança que as famílias norte-americanas acumularam ao longo de 2020 e 2021 acima da tendência histórica, e que hoje se encontra em US$ 1,4 trilhão (ou cerca de 8% do PIB). Diante deste valor bastante robusto, mesmo comparado aos US$ 2,3 trilhões do 3T21, acreditamos que os gastos com consumo devem se manter resilientes nos próximos meses, dificultando a tarefa do Federal Reserve de convergir a inflação à sua meta.
Por outro lado, as falas mais recentes de Powell logo após a reunião do Fomc mostraram que talvez a autoridade monetária esteja pronta para desacelerar o ritmo de altas. De acordo com o comunicado do Fomc, o Federal Reserve irá considerar os efeitos defasados da política monetária em suas próximas decisões. Para nós, isso é um sinal de que, caso o relatório do CPI que está por vir e o payroll, ambos referentes ao mês de novembro, mostrem uma desaceleração da economia norte-americana, uma alta de apenas 50 bps seria viável. Afinal, o atual ciclo de alta é, sem dúvidas, um dos mais rápidos da história dos Estados Unidos, haja vista que em média duram 17 meses, e este já soma 10. Além disso, a elevação média da taxa de juros é de 300 bps, abaixo dos 400 bps atuais. Portanto, a economia norte-americana, além de sofrer com os efeitos de juros maiores, os sofrerá de forma abrupta e não de maneira suavizada, dada a velocidade da contração monetária.
Acreditamos que a decisão mais coerente do Federal Reserve é elevar a taxa de juros em 75 bps, haja vista todas as pressões domésticas, muito embora as falas de Powell mostrem que uma alta de apenas 50 bps seja viável. Contudo, uma observação deve ser feita. Uma desaceleração do ritmo de alta não significa um pivô dovish, isto é, que o Federal Reserve começa a pensar no fim do ciclo. Afinal, Powell afirmou que a taxa de juros norte-americanapode ir além de suas próprias expectativas, ou seja, reforçando que os juros se manterão em um patamar elevado por um período prolongado. Portanto, não nos parece mais uma questão de quão rápida, mas sim de quão alta será essa subida.