O mercado de ações no Brasil pode ser divido em dois grandes momentos neste ano. Com cenário opostos e que foram impactados pelo contexto global e local, o preço das commodities e as expectativas sobre a trajetória de juros no Brasil (Selic) foram os principais fatores que ditaram o rumo dos negócios.
Primeiro semestre pode ser dividido em duas partes.
1° Trimestre: A narrativa de inflação global e a busca por proteções diante de uma expectativa de aumento dos preços das commodities fez com que a demanda por ativos brasileiros (exportadoras e bancos) aumentasse muito. O início do conflito entre a Rússia e Ucrânia, grande exportadores de commodities, acelerou esse processo de valorização dos alimentos e do petróleo no mundo. Tal movimento, que combinado com a valorização do Real (BRL) ante o Dólar Americano (USD), fez com que o Ibovespa chegasse a acumular uma alta de 15% em reais e quase 40% em dólares. Chegamos a ter a melhor bolsa e moeda em termos de desempenho global, justificados pela grande representatividade de ações como Vale, Petrobras e grandes bancos no Ibovespa em conjunto com uma taxa de juros (Selic) bastante alta, se comparada ao resto do mundo, e que atraiu investidores estrangeiros para nossa renda fixa.
2° Semestre: A narrativa de recessão global ganhou corpo e assim, o desempenho das commodities já não foi o mesmo. China foi bastante impactada pela política de casos zero de Covid-19, o mundo desenvolvido (EUA e Zona do Euro) passaram por uma normalização monetária (subida de juros e retirada de estímulos) com quedas nos indicadores de atividade e de confiança. Uma busca por proteção e ativos conservadores fez com que a nossa bolsa apresentasse um desempenho negativo e devolvemos todo o ganho acumulado no ano. Em conjunto com esse estresse provocado pela conjuntura global, passamos por um período em que o aumento nos gastos públicos fez com que o risco fiscal pressionasse nossa moeda e também as expectativas da trajetória da Selic no médio prazo. Essa combinação trouxe retornos negativos tanto para as exportadoras quanto para as empresas ligadas à economia doméstica.
Desempenho Setorial
Foram poucos os setores que conseguiram performar melhor do que a média do mercado (Ibovespa). O Índice de Materiais Básicos ou IMAT, que traz em sua composição empresas ligadas à commodities foi o único que conseguiu durante todo o primeiro semestre desse ano apresentar uma performance relativa superior ao Ibovespa. Já durante o segundo trimestre identificamos que o setor elétrico ou IEE foi o único que conseguiu apresentar uma performance relativa melhor, com investidores buscando por segurança e proteção à inflação em um ambiente já tão conturbado como dito anteriormente.
Os setores com piores performance no semestre são o Varejo e Industrial, sendo que o setor industrial não conseguiu em nenhum momento ficar com um retorno positivo na variação percentual em 2022. A combinação de um cenário de subida de juros mais a expectativa de que os juros permanecerão altos por um bom tempo justificaram o desempenho negativo desses setores que dependem de uma taxa de juros mais baixa.
Maiores altas e baixas
Até o momento, temos um time de ações bastante interessante entre as maiores altas do ano. No primeiro lugar com mais de 65% de alta encontramos a Cielo, empresa que vinha com anos de desempenho negativo, mas que de alguma maneira chamou atenção do mercado. Será que estamos próximos de uma virada para a tese? Veja a opinião do nosso time de análise. Em segundo e terceiro lugar temos as ações da Eletrobras que passaram pelo processo de privatização. Hypera e BB seguridade completam o time.
Já as maiores baixas mostraram que a alta dos juros no Brasil e no mundo pressionam os valuations de empresas consideradas de crescimento ou growth. Varejo, E-commerce e Tecnologia que foram setores de destaque em 2020/2021 mas que agora com o cenário de política monetária totalmente oposto pressionou bastante os valuations dessas companhias.
Contribuições Ibovespa por pontos
Pode até parecer mentira, mas em um ano eleitoral, temos empresas estatais como as maiores contribuições positivas para performance do Ibovespa em 2022. Alta das commodities, efeito da privatização, preços atrativos formaram a combinação perfeita para que a demanda fosse grande para essa empresas. Do lado negativo, e-commerce e o setor de saúde foram as principais contribuições negativos justificada pela alta dos juros e o aumento do custo financeiro para empresas mais alavancadas.