Esperamos um bom resultado para a Cielo no 2T22 com as receitas sendo beneficiadas pelo avanço do volume e reprecificação. A dinâmica favorável de receitas e continuidade do controle de custos devem beneficiar o lucro. Esperamos um avanço do lucro recorrente de R$271m, alta de 46% t/t e 50% a/a, 18,4% acima do consenso de mercado. Do lado negativo, a menor posição de caixa sinalizada no resultado do 4T deve prejudicar a receita financeira.
Continuamos a ver um arrefecimento da competição à medida que o mercado de adquirência reprecifica os produtos de antecipação (d+2), dada a alta do custo de funding (Selic) para recompor margens, mas por outro lado refletindo em um churn mais elevado no setor. A menor competição beneficia a rentabilidade e o market share da Cielo, que vinha caindo nos últimos anos e se estabilizou no 1T.
Mesmo com dinâmicas mais favoráveis em 2022, ainda vemos desafios para a companhia no longo prazo. Dentre eles podemos destacar: (i) a commoditização dos serviços de adquirência; (ii) a grande competição no segmento, e; (iii) a disrrupção de novas soluções. Revisamos nossas estimativas de curto prazo para cima, com o lucro saindo de R$932m para R$1,163b em 2022. Mas mesmo assim, com o valuation 8,77x de P/L 2022 (sobre o lucro contábil), preferimos outras escolhas mais baratas principalmente pelo ambiente de incertezas no longo prazo, justificando a nossa recomendação de MANTER, mas com um aumento do preço alvo para R$4,22.
Receita: impulsionada por volume e preço
A Cielo realizou reprecificação mais lentamente que outras adquirentes, provavelmente para observar o churn dos pares e evitar desgastes com seus clientes. Segundo nosso levantamento, parte da concorrência começou a aumentar preços no final de 2021, enquanto a Cielo fez uma primeira reprecificação em jan/22. Dado o baixo impacto no churn, a companhia fez um aumento de preço mais expressiva em abr/22. Esperamos que a nova rodada tenha um impacto maior no churn, mas seja mais que suficiente para impulsionar sua receita no 2T22.
No resultado do 1T22, a Cielo já havia antecipado um aumento no take rate de PME na última semana de abr/22 de 28bps. O yield de receitas no mesmo período foi para 0,76% (vs. 0,67% no 1T22). No trimestre consolidado o yield deve ser menor do que o observado na última semana de abr/22 em função do churn e mudança de mix, já que a Cielo vem crescendo em grandes contas que tem uma margem menor.
Sob efeitos da inflação, retomada da economia e cenário competitivo mais brando, esperamos um bom crescimento do TPV a/a. O TPV cresceu 23,9% a/a no 1T22 e esperamos que esse crescimento se mantenha em linha com estimativa da ABECS de 21% para o ano.
A combinação do maior volume financeiro e reprecificação deve impactar positivamente a receita do trimestre e do ano. Esperamos um crescimento da receita de 10,2% a/a no 2T já excluída a Merchant-e.
Competição: tirando o pé do acelerador
A concorrência na adquirência está arrefecendo, revertendo a perda de share e pressão de preços que a Cielo vinha enfrentando nos últimos anos. O arrefecimento da competição se deve ao ambiente macro mais desafiador. A alta dos juros e decorrente aumento da despesa financeira reduz o espaço para companhias serem competitivas em preço.
Mas a reprecificação dos produtos de adquirência deve elevar o churn do mercado como um todo. O share da Cielo deve ser beneficiado pela maior demora em reajustar os preços. Além disso, a Cielo já vinha antecipando que estava conseguido renovar contratos de grandes contas, o que pode ter mitigar o churn e aumentar o share no segmento. A maior resiliência em grandes contas pode levar a uma mudança de mix no trimestre.
Financeiro: resultado de uma selic mais alta e menos caixa
Segundo divulgação do 1T22, a Cielo enviou US$ 270m para os EUA a fim de amortizar uma dívida que vence no fim do ano. A menor posição de caixa no Brasil, onde seria remunerado pelo CDI, deve reduzir as receitas financeiras. Além disso, como o custo da dívida é mais elevado do que a remuneração dos depósitos americanos, o resultado financeiro deve ser marginalmente impactado até que a dívida seja liquidada. Os juros da dívida a amortizar são de 3,75% a.a. em comparação a remuneração de 2,1% a.a. dos time deposits.
Outro detrator do resultado financeiro deve ser a continuidade da elevação da taxa Selic, que pressiona as despesas financeiras. Contudo, diferentemente de 2021, esperamos que a reprecificação seja mais do que suficiente para compensar o impacto da elevação das despesas financeiras no lucro.
Custos e despesas: foco na melhora operacional
No 1T a Cielo apresentou custos e despesas sob controle, caindo 4,0% a/a. Apesar de ainda esperarmos despesas sob controle para o ano, a alta inflação e maior força comercial devem gerar uma pressão adicional nas despesas a partir do 2T.
Apesar da dinâmica positiva no curto prazo, em função da retomada de receitas e melhora operacional, desafios da Cielo no longo prazo continuam. Na nossa avaliação os principais são a commoditização dos serviços de adquirência, grande competição no segmento e disrrupção de novas soluções. O PIX já vem diminuindo o crescimento dos volumes de débito na indústria, o que esperamos que continue acontecendo.