As expectativas para o 1º trimestre de 2023 seguem sem direção única, com alguns setores enfrentando desafios e outros se beneficiando de melhores condições de mercado.
Em um cenário de desaceleração econômica global e brasileira, com taxas de juros elevadas e inflação persistente, as empresas que conseguirem gerar caixa e manter suas margens de lucratividade serão especialmente valorizadas pelo mercado.
No mercado interno, a mudança de governo aliada às incertezas sobre o futuro do fiscal brasileiro não só contribuiu para uma redução no nível de investimento como trouxe volatilidade para o mercado. Além disso, a manutenção da Selic, tão como as expectativas ao redor de um início de sua queda seguem afetando as empresas como um todo, mas principalmente aquelas que possuem alavancagem elevada.
Já no mercado internacional, o foco ainda permanece nas expectativas de fim do aperto monetário de bancos centrais como FED e BCE. Apesar das contínuas altas nas taxas de juros, os componentes nucleares de inflação permanecem inconsistentes com o cumprimento da meta de inflação de longo prazo (2%), principalmente quando olhamos para o setor de serviços. A dinâmica de preços desfavorável e o desempenho ainda aquecido do mercado de trabalho devem continuar sendo os principais pontos de atenção nos próximos meses.
Dentro deste contexto, investidores e analistas estarão atentos aos seguintes aspectos:
Geração de caixa: Empresas com sólida geração de caixa são mais resilientes durante períodos de incerteza econômica, pois podem financiar investimentos, cumprir obrigações e aproveitar oportunidades de crescimento sem depender excessivamente de financiamento externo.
Margens de lucratividade: A manutenção das margens de lucratividade em um ambiente econômico adverso indica que as empresas são capazes de enfrentar pressões inflacionárias e aumentos nos custos de produção, adaptando-se às mudanças no mercado e mantendo a rentabilidade.
Gestão eficiente de custos: Empresas que conseguem controlar e otimizar seus custos de produção e operacionais têm maior probabilidade de manter a rentabilidade em períodos de desaceleração econômica.
Flexibilidade e inovação: As empresas que demonstram capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças no ambiente de negócios, inovando em produtos, serviços e processos, estão em melhor posição para enfrentar desafios e se manter competitivas.
Diversificação de receitas: Empresas com fontes diversificadas de receita, seja geograficamente ou em termos de segmento de mercado, são geralmente mais resilientes a choques econômicos específicos.
Neste cenário, as empresas que demonstrarem sucesso em gerar caixa e manter margens de lucratividade saudáveis podem se destacar no mercado e atrair maior interesse de investidores, resultando em valorização de suas ações e maior confiança na sua capacidade de enfrentar desafios econômicos.
Alimentos
Para o 1T23, esperamos resultados fracos para o setor de frigoríficos. Os custos do gado continuam altos nos EUA e, assim, esperamos margens apertadas para Marfrig (MRFG3) e para as operações nos EUA de carne bovina da JBS (JBSS3). Demais operações da JBS devem apresentar melhorias sequenciais ao longo do ano, mas ainda reportarem resultados fracos neste trimestre. Em relação à BRF, seguimos cautelosos dado seu alto grau de endividamento e monitorando seu plano de desalavancagem, além de que parte dos fatores que prejudicaram o resultado do 4T22 seguem presentes, logo, resultados também devem vir fracos. Minerva (BEEF3) deve, assim como os demais frigoríficos, apresentar resultados fracos no 1T23, em virtude da suspensão de exportações de carne bovina brasileira à China, a qual durou 27 dias.
No setor de bebidas, para o 1T23, esperamos que Ambev (ABEV3) reporte resultados melhores para suas operações no Brasil do que para seus segmentos internacionais. No entanto, já devemos ver, neste início de ano, uma gradual recuperação dos volumes nas operações CAC (América Central e Caribe), impulsionada pela retomada da demanda na República Dominicana, e no Canadá. No consolidado, o crescimento esperado de receita será decorrente de melhores preços, ao invés de volumes maiores. Nota-se ainda que estamos observando uma tendência de queda nas principais commodities utilizadas pela companhia, como trigo, milho e alumínio, fator que contribui para melhorarmos nossas expectativas quanto os resultados da Ambev no médio prazo.
Já olhando para o setor agrícola, a queda nos preços dos grãos afeta negativamente as empresas desse setor. No entanto, as commodities agrícolas ainda estão sendo negociadas em um patamar historicamente alto, o que é sustentado pela quebra de safra na Argentina. Além disso, apesar de ter sofrido uma queda, o dólar ainda se encontra em um nível favorável para as empresas, que são exportadoras. Outro ponto relevante é a queda nos preços dos insumos agrícolas, que são um dos principais custos operacionais das empresas.
Bancos
Esperamos que os bancos reportem resultados totalmente dispares entre eles. Do lado positivo, esperamos que Itaú e Banco do Brasil despontem com bons resultados e rentabilidade em torno de 20% de ROE. No geral, esperamos um aumento das provisões (PDD) no 1T23, ocasionado pelas safras antigas e pela piora dos balanços das empresas tomadoras de crédito, que devem ter uma deterioração no rating. Estimamos que as carteiras de crédito terão uma desaceleração em relação ao ano passado, visando uma maior seletividade das originações buscando conter o aumento da inadimplência. Para a margem financeira (NII) esperamos que os spreads fiquem mais estáveis, já que há uma dificuldade em aumentar para o segmento de pessoa física devido ao cenário econômico desafiador. Por outro lado, devido ao caso de Americanas, houve uma restrição no crédito, fazendo com que os spreads para Pessoa Jurídica tivessem um leve aumento, mas devendo normalizar ao longo de 2023. Ainda, esperamos que Santander e Bradesco tenham uma tesouraria com retorno negativo devido aos juros elevados, enquanto Itaú deve continuar se beneficiando da proteção (hedge) realizada e Banco do Brasil com a tesouraria se beneficiando de aplicações atreladas a Selic. A frente de serviços dos bancos também deve vir mais fraca, principalmente devido as baixas operações nas áreas de Investment Banking, puxadas pela falta de oferta no mercado de ações e forte redução em renda fixa após os casos recentes de recuperação judicial. Nossa preferência no setor é por Itaú, pois acreditamos estar mais bem posicionado diante o cenário macroeconômico desafiador.
Educação
O primeiro trimestre para as empresas de Educação costuma ser um dos catalisadores do ano, visto que é onde ocorre as maiores entradas. O cenário macroeconômico ainda não traz sinais claros de retomada do poder de compra do consumidor. Alinhado a isso, vemos maiores índices de endividamento e inadimplência das famílias, que ocasiona em uma cesta de consumo mais restrita, deixando para “depois” o compromisso de longo prazo (que gira em torno de 2-4 anos) dos possíveis alunos com a ideia de realizar uma graduação. Dito isso, os números do primeiro ciclo do ano têm dado sinais de melhora vs. o de inverno e o trabalho de renovação tem sido mais bem executado por parte das empresas de nossa cobertura. As companhias têm tido como foco o liability management, para evitar maiores encargos com despesas financeiras, contudo ainda seguem alavancadas e serão penalizadas pelo resultado financeiro. Mantemos nossa visão cautelosa para o setor diante do cenário macroeconômico e maior alavancagem.
Papel e Celulose
Estamos com uma visão pessimista para o setor de papel e celulose devido ao desequilíbrio entre oferta e demanda, com uma demanda fraca e excesso de oferta. Isso se deve ao alto estoque e à expectativa da entrada de uma grande oferta da commodity com a expansão da fábrica da Arauco e da fábrica da UPM, que entrarão em operação em breve. Com isso, houve um deterioramento do preço da commodity, sendo negociado em patamares de aproximadamente USD 600/ton, bem abaixo do 4T22, quando estava sendo vendida a USD 831/ton pela Suzano.
Imobiliárias
Dentro do setor de construção, dividimos a prévia em 2 partes: baixa renda (expostas ao Minha Casa Minha Vida) e média/alta renda.
Para as construtoras de baixa renda, vemos uma continuidade de demanda alta por imóveis, garantindo com que o segmento seja o porto seguro entre as construtoras. Por um lado, tivemos ótimo performance operacional em Cury, Direcional e RNI, que seguem colhendo os frutos de um posicionamento nas faixas mais altas do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). Do outro, temos Tenda e MRV com performances mais modestas, mas já mostrando sinais de recuperação dentro das faixas que atuam. A queima de caixa/liquidez de ambas ainda é o fantasma que deve assombrar as ações por alguns trimestres, apesar de já se mostrar como um problema mais benigno e com suas respectivas estruturas de capital se direcionando para um cenário mais positivo, ainda que frágil.
Já as construtoras de média/alta renda tiveram um trimestre operacionalmente positivos. Os lançamentos, na média diminuíram, mostrando disciplina das companhias em trabalhar o estoque já existente e evitar uma oferta maior do que poderá ser absorvida pelo mercado, garantindo um estoque saudável e entregas com poucas unidades não vendidas. Ainda, tivemos uma melhoria nos indicadores de vendas de forma generalizada. Na nossa visão, no entanto, esta melhoria se deve ao oferecimento de descontos e condições especiais de compra. O simples fato de haver absorção do mercado com estes descontos já é uma notícia positiva: indica que a demanda existe, mas está reprimida por fatores macroeconômicos e deve retornar com a queda esperada das taxas de juros. Do lado negativo, estes descontos (que estimamos rodar em média próximo de 15%) devem impactar negativamente a margem líquida de forma não desastrosa. Aqui vale sempre lembrar a máxima do setor: estoque pronto é o pior inimigo das construtoras.
Por fim, relembramos que devido às chuvas no sul e sudeste no início do ano, as obras ficaram paralisadas por mais tempo que o normal para um início de ano. Desta forma, devemos ver este impacto no setor inteiro (baixa e alta renda) se manifestando como um menor reconhecimento de receitas e lucros menores.
Indústria
Esperamos um trimestre neutro para as empresas do setor industrial. Por um lado, ainda esperamos bons níveis de demanda vindos do continente norte americano, puxados por um mercado de trabalho aquecido, além de uma melhora substancial no sentimento de confiança industrial do país. Por outro, tomando como base o PMI, devemos observar certa diminuição no nível de atividade industrial no continente europeu. Já no mercado interno, a mudança de governo e as incertezas em torno do novo cenário fiscal devem se traduzir em um menor volume de investimentos no curto prazo. No entanto, empresas que conseguiram construir uma boa carteira de pedidos nos últimos anos devem conseguir compensar parte da perda com produtos de ciclo curto.
Por fim, a normalização no preço de frete e matéria-prima podem ajudar as empresas do setor a recompor suas margens. No entanto, a diminuição da demanda em alguns setores e uma maior dificuldade de repasse de preços pode fazer com que o ganho de custos seja neutralizado, mantendo as margens estáveis em alguns casos.
Mineração
Com uma dinâmica sazonal de maior volume pluviométrico, esperamos que o 1T23 seja mais fraco em produção e vendas para as mineradoras brasileiras; apesar disso, esperamos que a alta de +26,8% t/t vista na curva de referência para o minério 62% Fe seja refletida no preço realizado de ambas CMIN e Vale, ajudando a arrefecer a sazonalidade negativa.
Além de causar problemas na produção, os grandes volumes de chuvas foram responsáveis por danificar sua infraestrutura, como o visto na MRS, que impediu alguns embarques de minas localizadas no Sudeste, e no porto Ponta da Madeira, responsável por embarques da Serra dos Carajás. Dessa forma, a Vale deve ser mais impactada, detraindo resultado t/t, já que divulgou na sua prévia operacional vendas menores que a esperada no Sistema Norte. Para a CSN Mineração, os impactos devem ser mais sentidos no lado dos custos, principalmente com derrumage pela maior estadia nos portos, fazendo com que o 1T23 seja apenas marginalmente melhor t/t.
Siderurgia
Revertendo a perda de volume do 4T22, a estimativa é que o 1T23 apresente uma alta nas vendas de aço, com dinâmicas diferentes para aço entre as companhias. A expectativa é de que a nossa Top Pick Gerdau, apresente uma boa recuperação t/t, com a melhora da ON Brasil e da ON América do Norte, sustentada principalmente por um melhor mix de produtos, e a exposição a setores ainda resilientes. Enxergamos que as vantagens competitivas da Companhia, entregando produtos premium e se expondo a geografias fortes, devem ajudar a fugir da dinâmica vista nos pares brasileiros.
Para a Usiminas, enxergamos que a sua grande exposição ao setor automotivo deve ser um detrator de resultado, sofrendo um desconto no repasse anual que acontece parcialmente no 1T23. Apesar disso, esperamos vendas mais perto da banda superior do guidance entre 950-1050Mt, na tentativa de compensar a perda de preço.
Na Holding CSN, esperamos que a diversificação de negócios deve ajudar a compensar mais um trimestre desacelerado por parte da siderurgia, que apesar de esperarmos resultados marginalmente melhores por conta de volume, ainda enxergamos grandes dificuldades para os repasses de preços anunciados por conta de pressões de custos. Avaliamos que a CMIN seja o grande resultado positivo dentro da holding, que mesmo em uma dinâmica sazonal fraca, conseguiu aumentar seu preço realizado seguindo a tendência da curva de referência, para trazer bons números de bottom line.
Óleo e Gás
Os principais destaques operacionais no 1T23 deverá vir da Petrobrás e Prio, que são exatamente os cases que estão operando sem grandes contratempos em suas operações e surfando bem os preços do petróleo ao longo do trimestre. Vale lembrar que especificamente no caso da Petrobrás, o resultado deve apresentar queda nas comparações ano/ano muito devido à queda no brent à medida que os preços ao longo do 1T22 chegaram a alcançar US$120/barril no pico de preços vs c. US$80/barril no 1T23. Ainda assim, não achamos que o foco desse trimestre não deverá ser o seu resultado operacional (que deverá ser muito bom), mas o direcionamento do que diz respeito a política de preços, foco do fluxo de investimentos, etc.
Os cases de redesenvolvimento por terem expandido as suas produção entre um ano e outro, acabarão por serem menos impactado no relativo do que a Petrobrás. Entretanto, é importante mencionar que o atual nível de preços (US$70-80/barril) é um nível mais do que saudável para geração de caixa da empresa e duvidamos muito que os resultados do 1T23 sejam interpretados como negativos. 3R, como amplamente divulgado em suas notas mensais de produção, atravessaram o trimestre com produção muito aquém do necessário derivado das performances do Polo Macau e Papa-Terra.
Saúde
A narrativa para o setor de saúde se mantém, vemos tanto as operadoras de planos de saúde quanto os prestadores de serviços de saúde sob pressão. A sinistralidade ainda é algo que preocupa, operadoras como Hapvida e Sul América tem tido dificuldades em melhorar esse indicador, e esperamos que essa dinâmica continue. Para os prestadores de serviços de saúde, como Rede D’Or e Fleury, o primeiro trimestre do ano costuma ser de recuperação, pautado em maiores volumes. Ainda assim, continuamos cautelosos com os resultados das companhias do setor de saúde e ainda não vemos uma luz no fim do túnel para o setor.
Saneamento Básico
Como grande detalhe a ser comentado neste trimestre, chamamos atenção da reoneração dos impostos de ICMS na linha de custos de energia elétrica para todas as empresas de nossa cobertura. Entendemos que essa linha é considerada como custo não-gerenciável e deve ser inteiramente repassada para as tarifas nos respectivos aniversários dos reajustes – ou assim imaginamos, tendo em vista o mau costume de uma empresa ou outra represar reajustes… sendo assim, no geral, achamos que a interpretação do impacto do fim da reoneração da energia elétrica vá trazer uma interpretação negativa.
Seguradoras
Estamos otimistas com os resultados da Porto para 2023. Para o 1T23, esperamos que o desastre de chuvas ocorrido no litoral norte de São Paulo tenha um impacto próximo de R$ 60m, com impacto não tão representativo frente aos prêmios ganhos. Estimamos que o índice de sinistralidade total tenha uma melhora de 1,3pp a/a, ficando em 59,7%. Esperamos que os prêmios emitidos continuem em ritmo acelerado, sendo reportado pela SUSEP, referente ao segmento auto, no 3M23 um aumento de 26,7% a/a e uma queda de -3,6pp a/a no índice de sinistralidade, além de projetarmos um maior resultado financeiro a/a. Esperamos um lucro de R$ 324m no 1T23 (+85,1% a/a).
Para BB Seguridade, esperamos que a companhia continue com o bom desempenho realizado ao longo de 2022. Para o 1T23, esperamos um resultado financeiro forte com uma Selic estruturalmente mais alta que no 4T22 e com prêmios emitidos em ritmo acelerado (+35% a/a 3M23 – SUSEP). O destaque negativo para o trimestre fica com o índice de sinistralidade, impactado pelo evento de La Niña prejudicando as safras agrícolas do sul. Estimamos um lucro de R$ 7,3b para o 1T23 (+21,6% a/a).
Estimamos que o 1T23 do IRB apresente um resultado positivo, revertendo a situação de prejuízo de 2022. Apesar da retomada do lucro, esperamos que o resultado operacional ainda seja negativo com um índice combinado acima de 100%, sendo o lucro líquido composto pelo resultado financeiro e imposto. Os dados do 2M23 da SUSEP já mostram uma queda forte nos prêmios emitidos em -17% a/a, porém com aumento em +27% a/a nos prêmios ganhos. Já o lucro, no acumulado dos dois primeiros meses de 2023, ficou em R$ 23,4m (-63% a/a), sendo que o índice combinado continua elevado em 109%.
Serviços Financeiros
Para Cielo, esperamos que o 1T23 seja marcado pela sazonalidade de início de ano, apresentando uma contração de aproximadamente 10% no volume transacionado t/t, além de uma perda de market share em grandes empresas. Por outro lado, esperamos que as receitas sejam menos impactadas devido a reprecificação realizada nos trimestres passados e maior penetração dos produtos de antecipação, fazendo que a tese deixe de ser volume e passe a ser mais voltada para preço. Estimamos um lucro líquido de R$ 374m para o 1T23, crescimento de +102,4% a/a. Ademais, esperamos que os resultados comecem a acelerar no 2T23 devido, principalmente, as mudanças regulatórias de intercâmbio.
Para B3, apesar do número de dias úteis ser maior no 1T23 que no trimestre passado, o volume financeiro médio diário de ações apresentou uma queda de -22% t/t, além de desaceleração no aumento do número de CPFs individuais na B3, saindo de 447 mil novos investidores no 4T22 para 263 mil novos CPFs no 1T23. Por outro lado, estimamos uma melhora nas despesas e um resultado financeiro mais robusto, sendo esperado um lucro próximo R$ 1b no trimestre, apresentando um leve crescimento t/t.
Para Valid, temos uma visão positiva para o 1T23 que deve ser beneficiado pelo pré-pagamento de grande parte da dívida nos trimestres passados, além de apresentar uma mudança na estrutura de resultados, deixando de ser uma empresa de recuperação e expansão de margens para uma tese de crescimento de receita e manutenção de margens. Esperamos que a frente de ID continue com forte emissões de documentos, o segmento de Pay deve continuar com bons resultados na Argentina e Mobile ainda deve continuar com preços altos devido à falta de chips. Estimamos um lucro de R$ 56m para o 1T23, saindo de um múltiplo próximo de 50x P/L 2022 para 4x P/L 1T23E.
Tecnologia
Com uma Selic ainda em patamares elevados, devemos continuar vendo um impacto sobre o setor de Tecnologia, principalmente o segmento de fintechs. Frente a um cenário macro desafiador, pressionando a capacidade de pagamento da população e fomentando o risco de inadimplência, ainda devemos observar um menor ritmo de crescimento das carteiras de crédito das empresas do setor na tentativa de diminuir o risco de suas operações. Apesar de esperarmos uma posição conservadora neste trimestre, acreditamos que o rápido crescimento das carteiras das fintechs em períodos anteriores ainda deve pressionar os níveis de inadimplência desse trimestre. Em nossa visão, para atingir o nível de crescimento acelerado nos últimos anos, as fintechs concederam crédito para clientes com perfil mais arriscado. Com uma taxa de juros mais alta, uma maior parcela da carteira fica inadimplente e, dado que os juros têm se mantido em um patamar de duplo dígito nos últimos 12 meses, a tenência é que essas parcelas em atraso continuem sem ser quitadas. Para empresas como Mercado Livre, que começaram a frear o ritmo das originações no 1S22, podemos começar a observar sinais mais positivos para o futuro em termos de inadimplência. Para este trimestre, ainda devemos observar um aumento do over 90, pelo efeito de aging comentado anteriormente. Porém, a parcela inadimplente a menos de 90 dias deve apresentar uma leve melhora, refletindo uma melhor qualidade da carteira em termos de risco, o que deve ajudar a promover um crescimento mais sustentável da operação de crédito no futuro.
Telecom
Em mais um trimestre de consolidação da aquisição da Oi Móvel, as grandes operadoras devem apresentar acessos móveis menores no pré-pago, pelo contínuo desligamento da base inativa adquirida, e pelo upsell para planos controle e pós-pago.
Ainda enxergamos a alavancagem mais alta do que a média histórica para Vivo e TIM, apresentando maiores dificuldades para crescer margem a/a no curto prazo, além da crise financeira da Oi, na qual mesmo com uma segunda recuperação judicial, preferimos manter um tom bem mais pessimista. Além da aquisição da Oi Móvel trazer clientes menos rentáveis para as operadoras, elas têm tido dificuldade de recuperar margem no curto prazo por outras dinâmicas particulares. Vemos a TIM sofrendo por conta da venda de sua rede fibra para a I-System, perdendo a necessidade de CAPEX, mas aumentando seu OPEX. Já a Vivo, na busca de se posicionar a frente dos concorrentes no segmento B2B, acaba fazendo mais investimentos, que devem resultar em melhores números no futuro, mas sem grandes mudanças por enquanto.
Mesmo assim, esperamos mais um trimestre sólido, na qual o trabalho da base de clientes continue a trazer novos clientes para o plano Pós-pago, de maior ARPU; enquanto o FTTH continue aumentando a sua relevância dentro do Serviço Fixo.
Transporte
De maneira geral, esperamos um trimestre positivo para o setor de transporte, puxado principalmente pela sazonalidade e uma demanda acima da esperada por nós. No setor aéreo, os dados de prévia divulgados pelas companhias aliados ao IPCA de passagens aéreas nos leva a acreditar que o trimestre deverá ser marcado por Yields e margens ainda em patamares elevados. Além disso, teremos efeitos positivos vindos de uma isenção de PIS/COFINS para as companhias, isenção de ICMS do QAV e uma queda significativa no preço do barril de petróleo no final de 2022.
Já em locação, esperamos que o setor de pesados siga sendo o destaque. Com a chegada do Euro 6 e a reprecificação dos caminhões, acreditamos que não só a demanda pelo serviço deva aumentar, mas também que boa parte dos caminhões ainda apresentem depreciação zero. Já no segmento de leves, a sazonalidade deve ajudar a manter os patamares de tarifas em patamares altos, assim como esperamos para o setor aéreo. No entanto, a contínua queda na FIPE deve continuar pressionando a depreciação e prejudicando os resultados das divisões de seminovos. Com isso, por conta do pior mix de carros, esperamos que Movida reporte resultados ligeiramente piores que Localiza no 1T23.
Varejo
A sazonalidade do 1º trimestre deve impactar negativamente as vendas das varejistas no período. As companhias lidarão com uma desaceleração da demanda e maior alavancagem financeira, diminuindo consideravelmente o lucro líquido nesse trimestre.
As supermercadistas, como Assaí e Carrefour, devem sentir um peso adicional das integrações de novas lojas (Extra e Grupo BIG), desacelerando consideravelmente a sua margem operacional no trimestre. Carrefour deve ser um dos mais impactados no trimestre, com forte pressão de rentabilidade no varejo e em seu braço financeiro, dado o nível de inadimplência nos três primeiros meses de 2023.
As empresas de vestuário de baixa renda também devem ter um trimestre operacionalmente negativo. Com uma fraca demanda para o setor e dada a sensibilidade de preço do consumidor, a receita líquida de varejo da Lojas Renner deve perder inclinação, crescendo 4% a/a. A rentabilidade da companhia também deve cair forte nesse trimestre, estimamos uma margem EBITDA IFRS 16 de 10,6% (-660 bps).
Para farmácias, à medida que as vendas de itens relacionados a cesta Covid-19 perdem participação, as categorias de genéricos e OTC devem ganhar penetração, contribuindo positivamente para o ganho/manutenção de margem bruta ano contra ano.
De forma a preserva caixa em meio a um 2023 incerto, vemos as companhias como a Renner, Via e Magalu cortando investimentos para manter rentabilidade.
Calendário de Resultados do 1T23
A seguir você encontra as datas de divulgação dos resultados das principais empresas listadas, bem como as ESTIMATIVAS DO CONSENSO DE MERCADO.
Para ter acesso às expectativas dos nossos Analistas, fique de olho no Genial Analisa.