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Publicado em 24 de Outubro às 14:00:00

Temporada de Resultados 3T22: Datas e Expectativas

O terceiro trimestre de 2022 teve como principal destaque o desempenho acima do esperado da economia brasileira frente à outros países, boa parte atrelado ao setor de serviços. Assim, esperamos resultados melhores por parte das empresas mais dependentes da economia doméstica, direcionada a setores mais resilientes à renda ou segmento de atuação. Selic em patamar elevado continuará pressionando o resultado financeiro de cias mais alavancadas e dificultando o acesso ao crédito. Entendemos que o 3T nos fornecerá pistas importantes sobre as empresas que estão sendo capazes de lidar melhor com este cenário adverso (inflação mais alta, juros mais altos). Mesmo que os resultados das empresas ligadas à commodities não sejam os melhores, comparado com os trimestres anteriores, provavelmente veremos anúncios de proventos interessantes como chamariz para essas empresas.

Alimentos

Analisando o cenário atual, enxergamos uma demanda por proteínas brasileiras, principalmente a carne bovina, muito positiva. Além disso, o ciclo do gado no Brasil já se mostra favorável devido a maior disponibilidade do animal e consequentemente um preço mais atrativo para os frigoríficos na compra do animal. Nos EUA, o cenário é o oposto – a oferta de gado está mais restrita e portanto o preço mais caro, o que desfavorece os frigoríficos no país.

Do ponto de vista de volumes, Minerva (BEEF3), maior exportadora de carne bovina da América do Sul, deve ser positivamente impactada. Do lado da demanda, BRF (BRFS3) deve apresentar melhores volumes, porém o resultado deve ser corroído pelas despesas financeiras. Como já havíamos mencionado anteriormente, o cenário é o oposto para JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) nos EUA, com menos gado disponível para o abate. O cenário inflacionário global vem reduzindo o poder de compra da população e pode impactar negativamente a ponta do consumo de proteínas mais nobres. Apesar disso, a JBS deve sentir menos que a Marfrig devido a maior diversificação geográfica e de produtos.

O momento do agronegócio brasileiro segue favorável, o que beneficia as principais empresas do agro listadas na bolsa. Isso vem por conta de uma resiliente demanda global pelos principais grãos e demais commodities produzidas no Brasil. Além disso, enxergamos um momento de melhor oferta de fertilizantes. Antes havia preocupação de uma oferta muito restrita por conta da Rússia, mas os níveis de importação estão bons. Favorecemos principalmente as ações da SLC (SLCE3) e BrasilAgro (AGRO3)

Bancos

Esperamos resultados dispersos para o 3T, do lado positivo temos uma Selic mais alta, o que acaba trazendo mais receitas conforme a reprecificação da carteira. Do lado negativo, acreditamos que as empresas irão desacelerar no crescimento de carteira, além de um impacto maior de inadimplência, que deve ocorrer de forma mais forte na pessoa física. Esperamos um pior resultado em Santander e Bradesco, com mais dificuldade de crescer receita e uma maior posição de pessoa física resultando em maiores provisões. Por isso, esperamos uma leve queda de lucro e rentabilidade t/t para esses dois bancos. Já em Banco do Brasil e Itaú, temos melhores perspectivas com expansão de lucro t/t e a/a, com bom crescimento de receita e inadimplência sob controle com um mix mais conservador e melhor resultado de serviços.

Educação

Os trimestres ímpares acabam sendo mais interessantes que os trimestres pares para o setor de educação. Nos ímpares, temos os ciclos de captação, que provoca a entrada de alunos e ocorre a vinda de novas safras. O cenário macro ainda segue desafiador, temos uma dinâmica ainda complexa e incerta em termos de disponibilidade de renda. Dito isso, esperamos um mais um ciclo positivo de captação, principalmente, no segmento EAD, e um melhor posicionamento de tickets – ainda não esperamos nenhuma alta robusta, mas que fique, em sua maioria, flat, porém, dado o cenário de inflação alta, ainda não consideramos um repasse integral.

Em termos de evasão, devemos esperar uma taxa ligeiramente acima do histórico para as empresas de nossa cobertura, diante de aspectos específicos de cada case. Por fim, ainda devemos observar as despesas financeiras corroendo a última linha da demonstração de resultado, dada o atual patamar de taxa de juros – nesse ambiente, as companhias estão buscando maneiras de se desalavancar e/ou diminuir seu custo de dívida.

Energia Elétrica

No setor de energia elétrica, não esperamos grandes destaques operacionais por parte das nossas empresas. Como principais pontos de atenação, citamos o resultado da Eletrobrás – o 1º pós privatização. Não achamos que os números em si devem devam chamar atenção, mas esperamos ter um maior grau de orientação em relação aos primeiros passos da empresa com a nova gestão. Vale lembrar que o CEO da empresa, Wilson Ferreira Jr., chegou ao cargo a aproximadamente um mês.

Imobiliário

Dentro do segmento de construtoras de baixa renda no 3T, esperamos que as águas ainda estejam divididas: Cury, Direcional e RNI com margens saudáveis, queima pequena ou geração de caixa e VSO mais elevada; Tenda e MRV ainda com margens pressionadas, queimando caixa e apresentando queda de VSO. De forma geral, esperamos que a uma queda nas margens brutas de todas as companhias no trimestre, mas com maior magnitude para a Tenda. Esta, por sua vez, viu suas ações se desvalorizando 20%+ esta semana em uma antecipação do mercado a uma margem bruta de um dígito e prejuízo líquido perto de R$ 200 milhões. Como as prévias de todas já foram divulgadas e precificadas com expectativas de margens baixas, entendemos que a assimetria dos resultados é positiva, ou seja, podem acabar surpreendendo com margens mais saudáveis/menos anêmicas do que o esperado.

No segmento de shoppings, a sazonalidade joga contra o crescimento de vendas no comparativo trimestral, mas na comparação contra 2019 devemos ver todas as companhias apresentando crescimento de vendas acima dos 15%. O destaque de vendas e recuperação quase completa da pandemia segue indo para Multiplan e Iguatemi, enquanto brMalls e Aliansce ainda apresentam vendas crescendo menos que o IPCA dos últimos 3 anos e aluguel crescendo menos que o IGP dos últimos 3 anos. Mesmo assim, esperamos que todas sigam apresentando números sólidos e margem FFO (proxy da geração de caixa) na casa dos 40-60% a depender da companhia. Recentemente atualizamos o preço-alvo de Multiplan e a escolhemos como top pick do setor, dando preferência ao posicionamento em shoppings com maior exposição ao público de alta renda em 2023

Indústria

No segmento industrial nossa expectativa é mista. De maneira geral, a visão é positiva para os segmentos de máquinas e autopeças, com as empresas em cobertura, apresentando crescimento de receita e EBITDA na comparação trimestral, e negativa para pás eólicas. Os preços de materiais passam a incorporar as quedas dos preços das commodities, portanto, a expectativa é de aumento das margens operacionais. Por outro lado, os juros elevados pressionam o resultado financeiro, o que deve inibir o crescimento de lucro.

Em autopeças, as vendas de pesados nos EUA no Brasil voltaram a subir mesmo num cenário desafiador de preços, reforçando nossa tese de recomposição de estoques e renovação de frota.

No segmento de máquinas e equipamentos, os volumes financeiros de exportação do Brasil voltaram a subir de maneira expressiva, puxados pelo mercado de global de commodities.

Em renováveis, voltamos a observar melhora no solar, devido à manutenção da demanda e melhora na oferta de componente oriundos da China. No eólico, não esperamos acréscimo de volume de aerogeradores instalados. O destaque negativo do trimestre, mais uma vez, deve ser o segmento de pás eólicas.

Mineração & Siderurgia

Entendemos que no curto prazo a demanda por minério de ferro sofrerá um impacto e isso deve continuar a ser traduzido nos resultados das mineradoras nesse 3T22. Com uma demanda mais baixa nesse trimestre, sobretudo no comparativo a/a uma vez que no 2S21 a China começou a reabrir parcialmente as atividades para então aplicar novos lockdowns em 2022, os volumes mais fracos de venda das Companhias do setor de mineração devem interferir na apresentação de crescimento de receita.

Esperamos em termos de margem operacional que esse efeito de um top line mais morno seja quase neutralizado por um arrefecimento do custo logístico/frete, causado, sobretudo, pela retração no preço do barril de petróleo, diminuindo o valor do óleo diesel, combustível usado nas embarcações que levam o minério até a China e nas ferrovias, que escoam o minério para os portos.

No mesmo sentido da mineração, enxergamos um cenário macro se deteriorando e sendo refletido no preço do aço, principalmente pela desaceleração da China e provável recessão nos EUA. Mas diferentemente das mineradoras muito expostas ao país asiático, as siderúrgicas estão mais expostas no mercado nacional.  

Observamos os preços de referência para aços caindo em dois dígitos. Já seus principais insumos seguiram dinâmicas diferentes no 3T22. (i) sucata: os preços domésticos da sucata ferrosa caíram em média -R$100/ t. Para Gerdau (GGBR4), que utiliza nas mini-mills a sucata, a margem deve vir menos pressionada.  (ii) carvão: para o carvão vegetal a lógica é o reverso, esperamos um aumento de +18% t/t, o que deve resultar em margens menores para CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5).  

Óleo & Gás

Seguimos positivos em nossa amostra de empresas produtoras de petróleo tendo em vista: I) os ainda elevados preços do brent ao longo do trimestre (c. US$90-100/barril), II) produção: todas as empresas sob nossa cobertura apresentaram expansão em suas produções na comparação ano vs ano. Em nossa leitura, principais destaques do trimestre devem ser Prio e Petrobrás.

A Prio não apenas conseguiu alcançar um novo patamar de produção (45k bpd no 3T22 vs 35-33k bpd nos últimos trimestres) como não tem nenhum contrato de hedge (que fixa de antemão o preço do barril a ser vendido no futuro), a empresa está em um excelente momento para se apropriar de toda geração de caixa de sua atividade.

Outro nome que deve chamar a atenção é a Petrobrás, que também se encontrar em um grande momento de suas operações (principalmente devido à produção do Pré-Sal) e que também deve apresentar expressiva geração de caixa.

Saúde

O trimestre ainda será difícil para as empresas do setor de saúde, com dinâmicas distintas para os diferentes players. Para as operadoras, enquanto os reajustes nos preços de planos de saúde significará aumento de receita, o maior número de dias úteis no período e a manutenção da utilização dos planos acima do patamar pré-pandemia pode ser uma âncora para a sinistralidade no trimestre. Já os laboratórios se beneficiam do período maior no trimestre, o que deve levar a crescimento da receita. Para os prestadores de serviços hospitalares, o 3T geralmente implica em menor sazonalidade de viroses e doenças respiratórias, mas este ano esses efeitos foram estendidos, implicando em maior ocupação dos hospitais. No geral ainda estamos cautelosos com as teses do setor, esperando o ciclo de reajustes e alta sinistralidade esclarecer o andamento do setor para o final do ano e o começo de 2023. Em nossa cobertura, estamos positivos para Fleury (FLRY3) e Odontoprev (ODPV3), neutros para Hapvida (HAPV3) e Rede D’Or (RDOR3) e negativos para Qualicorp (QUAL3) e SulAmérica (SULA11).

Seguradoras

Em seguradoras temos um olhar mais positivo, no geral esperamos maiores receitas financeiras impactadas por uma Selic média maior, além de uma normalização de sinistralidade quando comparado a/a. Em BB Seguridade, vemos uma forte melhora de prêmios emitidos, principalmente no segmento rural e com a volta do prestamista, resultando em um lucro recorde. Em Porto, esperamos uma recuperação do fraco desempenho do 2T22, com o melhor lucro trimestral desse ano, puxado principalmente pelo forte crescimento de prêmios, melhora marginal de sinistralidade e melhor desempenho do resultado financeiro. Já em IRB continuamos com um cenário mais pessimista, a companhia acabou de divulgar o resultado de julho e agosto, acumulando um prejuízo de R$ 223,6m e acreditamos que o resultado de setembro não será muito diferente, insuficiente reverter mais um trimestre no vermelho.

Serviços Financeiros

Em serviços financeiros, vemos uma contínua melhora em Cielo e Valid. Acreditamos que a Cielo terá um bom resultado com lucro crescente, boa dinâmica de volumes e competição mais racional, permitindo aumento de preços. No caso da Valid, esperamos um bom resultado na linha de EBITDA, por conta de uma maior volumetria. Em B3, acreditamos que teremos um volume médio maior que o 2T22 devido ao aumento da volatilidade da bolsa por conta da eleições presidenciais, que contribuirão para um crescimento de lucro t/t.

Tecnologia

Empresas de tecnologia que tenham seu core bussiness focado em crédito sentem dificuldades de crescer resultado. Com a SELIC subindo 100bps entre o 2T22 e o 3T22, chegando a 13,75%. As Companhias tiveram que fazer uma boa gestão entre crescimento de carteira e inadimplência. Vimos recentemente muitas fintechs sendo mais cautelosas com aprovação de crédito nesse 3T22.  

Do lado de Méliuz (CASH3) acreditamos que a Companhia deve focar em aumentar o net take rate, porém, com um GMV crescendo menos a/a. A Companhia deve apresentar resultados um pouco menos pressionados com relação ao 2T22. Ainda assim, acreditamos que a Companhia tem um caminho árduo pela frente para apurar breakeven no 1S23.

Telecom

As empresas de Telecom tiveram um 3T22 de consolidação da base de clientes adquiridas na compra da Oi Móvel, absorvendo suas respectivas sinergias. Nesse meio tempo, as três compradoras: TIM, Vivo e Claro avaliaram de perto todos os indicadores e ativos, e de acordo com o pré-determinado pelo contrato sobre direitos de reajuste, entraram em 19 de setembro com um pedido de revisão do valor total, saindo de R$16,5b para R$13,3b, uma diferença de R$3,2b que vai ser dividida entre as operadoras caso o processo de arbitragem siga nessa direção.  

Além disso, em junho foi sancionada a diminuição do ICMS para telecom, um imposto estadual que em algumas regiões passava de 30%, agora limitado em até 18%. Todas as operadoras decidiram repassar essa quantia, diminuindo o valor dos preços proporcionalmente, mas de forma lenta em sua grande base de clientes. Esse reajuste chegou a cerca de 80% dos planos no final do trimestre, e provisionando o retroativo para garantir o repasse integral; a diminuição do ICMS e o repasse total diminui o preço dos planos, abrindo espaço para aprimorar o tamanho do pacote contratado e serviços adicionais, e a diminuição do churn trimestral. 

Transporte

Mais uma vez, o destaque positivo deve ser o segmento de locação de pesados com volumes fortes de locação e manutenção do bom volume de vendas em concessionárias reportado no 2T22.

Já para as locadoras de leves, esperamos bons volumes de compras de veículos, devido ao enfraquecimento da demanda no varejo, com elevação no volume de vendas. Essa queda na demanda, ajuda a pressionar a margem bruta de seminovos. No RAC, mesmo sendo um trimestre sazonalmente mais fraco, nossa expectativa é de manutenção de volumes de diárias, com aumento de tarifa. No GTF, os bons volumes de carros comprados no 2T22 e ao longo do 3T22, ajudarão a reduzir o backlog e consequentemente aumentar a receita no segmento. A entrada de um volume significativo de novos contratos também deve ajudar a puxar as tarifas médias para cima.

No segmento aéreo, tivemos bons volumes e precificações assertivas das passagens, porém, do lado negativo, observamos mais de pressão de custos. Os grandes vilões seguem sendo a combinação dólar alto e querosene de aviação ainda não reajustado.

Varejo

Com exceção do segmento de vestuário, a dinâmica de resultados para o varejo deve se manter parecida com o apresentado no 2º trimestre deste ano.

As empresas de varejo alimentar serão as primeiras do setor a reportarem seus números para o mercado. O movimento divergente entre inflação e deflação para os itens alimentares em um único trimestre deve desacelerar o crescimento de receitas para o setor, uma vez que o comportamento do consumidor acaba mudando para capturar a redução de preços dos produtos ao longo do período. Esperamos que os players de atacarejo, como Assaí e Atacadão, continue a ser o “camisa 10” do varejo alimentar.

O varejo farmacêutico deve apresentar um bom trimestre. Com o reajuste do CMED de 10,9% realizado em março deste ano, as empresas devem “ganhar munição” para crescer sua margem bruta e operacional neste trimestre – mesmo que o efeito de novas lojas ainda impacte esta última margem.

No segmento de varejo vestuário, esperamos um crescimento muito menor do que foi visto no 2º trimestre. Com o consumidor antecipando as compras de inverno, que giram a uma maior ticket, o volume de vendas do 3º trimestre deve reduzir substancialmente. A onda de frio mais duradoura deve atrapalhar a transição entre as coleções de inverno e primavera.

Por último, mas não menos importante, o varejo e-commerce deve seguir em linha com o apresentado no 2º trimestre, tanto em relação ao crescimento de receitas, quanto as margens. O aumento de fluxo para lojas físicas devem beneficiar essa linha em detrimento do digital. Esperamos que Americanas seja o destaque operacional do setor.

Calendário de Resultados do 3T22

A seguir você encontra as datas de divulgação dos resultados das principais empresas listadas, bem como as ESTIMATIVAS DO CONSENSO DE MERCADO.

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