Publicado em 10 de Outubro às 01:15:00
A carteira recomendada de investimento em renda fixa de outubro de 2023 da Genial foi feita para facilitar o processo de escolha dessa classe de ativos, através de uma análise de cenário macroeconômico e prêmios de risco, tanto para títulos públicos, emissão bancária, crédito privado e ETFs.
As curvas de juros locais encerram com alta nas taxas em comparação ao mês anterior, devido a elevação dos yields das treasuries nos Estados Unidos e do maior desafio na questão fiscal que passa o Governo, impactando diretamente na alta principalmente dos juros de vencimento mais longo. Com relação as rentabilidades, as debêntures indexadas ao CDI (IDA-DI), assim como no mês anterior, foi o ativo de renda fixa com o melhor desempenho, muito pelo fechamento dos spreads de crédito que vem ocorrendo nos últimos meses.
No cenário econômico atual, os indicadores setoriais apresentam uma performance heterogênea devido a um ambiente macroeconômico desafiador, caracterizado por taxas de juros contracionistas e deterioração dos indicadores de crédito e piora no risco fiscal. Alguns setores, como o varejo e a produção de grãos, registraram crescimento, enquanto a produção industrial teve uma queda generalizada.
O mercado de crédito também mostra desaceleração, especialmente para famílias, com aumento da inadimplência e do endividamento. Embora o mercado de trabalho tenha mostrado certa resiliência, existem indicadores de enfraquecimento, e a taxa de desemprego é sustentada em parte pelo aumento dos programas de transferência de renda.
No que diz respeito à inflação, a trajetória de desinflação enfrenta desafios, incluindo o aumento do preço do petróleo e a possibilidade de um El Niño severo. As leituras recentes de índices de preços mostraram surpresas positivas, mas a pressão sobre os componentes voláteis da inflação pode aumentar com possíveis reajustes de preços pela Petrobras. O Índice Geral de Preços (IGP-M) registrou inflação após seis meses de queda, principalmente devido a produtos industriais e piora no câmbio.
Quanto à política monetária, o Banco Central reduziu a taxa de juros, mas destaca a importância de manter as metas de superávit primário para sustentar a queda dos juros. Há divergências entre os membros do comitê sobre o que deve orientar a política monetária, seja a desaceleração da inflação de serviços, a estabilização das expectativas acima das metas ou o fechamento do hiato do produto.
A incerteza sobre o cenário econômico torna difícil prever o ritmo futuro de cortes na taxa de juros. Projeções sugerem uma taxa Selic de 11,75% no final de 2023, mas há riscos associados a esse cenário, incluindo mudanças no cenário fiscal e no diferencial de juros com os EUA.
Os leilões de títulos do Tesouro (treasuries) têm enfrentado demanda abaixo da média, e as expectativas de um aumento adicional de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros no segundo semestre estão pressionando ainda mais os rendimentos dos títulos do Tesouro, que estão em patamares próximos ao de 2007, na crise do subprime.
Apesar do aumento das taxas de juros americanas, o impacto na atividade econômica tem sido limitado, já que as principais dívidas das famílias estão travadas em taxas de juros baixas. No entanto, o fim do excesso de poupança das famílias pode levar a uma recuperação na taxa de participação e pressionar a taxa de desemprego, ameaçando a perspectiva de um “pouso suave”.
Se ocorrer de forma moderada, isso pode contribuir para atender às condições estabelecidas pelo presidente do Fed, Jerome Powell, para não aumentar mais as taxas de juros.
A Zona do Euro encontra alívio na persistência do excesso de poupança das famílias, que sustenta o consumo mesmo diante de altos preços e taxas de juros. Esse padrão de aumento na poupança das famílias, provavelmente devido à aversão ao risco após uma recessão técnica em 2022-2023, pode ser uma fonte de estímulo.
Existe a possibilidade de uma valorização do dólar em relação ao euro, já que o Banco Central Europeu (BCE) sugere o fim do ciclo de alta de juros enquanto o Fed sinaliza uma continuação do mesmo, o que beneficiaria as exportações europeias. Se essa desvalorização do euro não ocorrer, a Zona do Euro pode enfrentar uma atividade econômica contracionista no terceiro trimestre.
Para saber mais detalhes da conjuntura macroeconômica, entre aqui.
Tanto juro nominal quanto juro real longo vem em uma trajetória de elevação de taxa, devido ao aumento no risco fiscal, após dados de resultado do Governo Federal virem piores que o esperado, e com perspectivas desafiadores, tanto na parte de geração de receita quanto no corte de gastos.
Outro fator relevante foi o movimento nas Treasuries, que estão rodando próximo das máximas dos últimos 15 anos, com a taxa do título de 2 anos próximo dos 5%, e a de 10 anos em 4,6%, o que gera um ruído em todas as curvas de juros ao redor do mundo.
A inflação implícita, que vinha em trajetória descendente nos últimos meses subiu com relação ao mês anterior, principalmente aos fatores decorrentes dos riscos fiscais iminentes.
Os ativos de melhor retorno no mês foram os indexados ao CDI, representados pelo IDA-DI e pelo próprio CDI, que tiveram alta de 1,23% e 0,97% no mês.
O movimento dos spreads segue em queda, os ativos de rating AAA fechando 8bps, AA fechando 11 e A 17bps. Nesse contexto, o mercado foi afetado de forma negativa por nomes como Magazine Luiza, CBD e Aeris. Acreditamos que há ainda espaço para um possível fechamento adicional de spread até o final do ano, porém não acreditamos que será tão rápido como vimos pós-covid.
Entrando agora no processo de alocação, destacamos a importância da manutenção de uma carteira diversificada entre setores e perfil de risco.
A alocação em ativos indexados ao CDI segue tendo relevância para um portfolio equilibrado. Além disso, a liquidez da classe facilita rotação para a bolsa por exemplo, movimento visto fortemente nestes últimos meses.
Porém, com a projeção de cortes na Selic se fortalecendo ainda esse ano, e talvez no inicio do segundo semestre, a atratividade se reduziu marginalmente, abrindo espaço para maior alocação nos títulos indexados a inflação e nos pré fixados curtos como forma de capturar um fechamento deste trecho da curva de juros.
Aumentamos a exposição aos indexados ao IPCA de vencimento intermediário e mantivemos com menor peso ativos de vencimento mais longo também, pois acreditamos que esse patamar atual do nível de juro real, no médio prazo, deve ser menor, além da melhora no carrego devido as últimas altas tanto na curva de juro nominal quanto na de juro real.
Continuamos gostando dos ativos pré fixados de vencimento curto, por acreditar que mesmo com todos os desafios da parte fiscal, queda no diferencial de juros do Brasil x EUA e possível depreciação do real frente ao dólar, a chance de uma mudança nos rumos das tomadas de decisão do Banco Central a partir do ano que vem pode dar uma boa oportunidade de ganhos.
É um trade assimétrico, por isso não incluímos nenhuma alocação nas carteiras. Caso essa nossa visão se fortaleça, faremos um documento com indicação de entrada nos ativos pré fixados.
Efetuamos duas alterações nas carteiras. Trocamos a debênture de Eneva pela de Petro Rio (PEJA11), e retiramos o CDB Pré Fixado do Banco Andbank. As mudanças foram táticas, e as trocas não representam uma necessidade de venda dos ativos anteriores da carteira.
*taxas indicativas referentes ao dia 09 de outubro, podendo sofrer variações.
Veja abaixo a análise dos ativos para investimento em renda fixa:
O B5P211 é um ETF criado pelo Itaú, que replica o índice IMA-B5 índice calculado pela Anbima, formado por uma carteira teórica composta por títulos públicos indexados à inflação, as NTN-Bs, com prazos inferiores a cinco anos de vencimento e controle de prazo médio de repactuação da carteira de, no mínimo, dois anos.
O IMA-B 5 tem uma metodologia de rebalanceamento dos títulos que torna esse índice um investimento muito atrativo. Em seu funcionamento, é como se os recursos vindos de vencimentos ou pagamentos de juros fossem automaticamente reinvestidos numa taxa mais elevada, em um título público indexado ao IPCA com prazo de até 5 anos.
Consequentemente, o comportamento do prazo médio (duration) do IMA-B 5 é muito mais previsível. Já no caso do IMA-B, o comportamento é mais difícil de se prever e tem correlação muito alta com os movimentos nas curvas de juros, tanto de DI futuro, quanto dos preços das NTN-Bs.
Saiba mais sobre esse índice aqui.
A PRIO (PRIO3) é uma empresa brasileira com foco em produção de petróleo e gás, especializada na gestão eficiente de reservatórios e no desenvolvimento de campos maduros. A empresa é dedicada à produção, exploração, comercialização e transporte de petróleo e gás natural. Antiga HRT, a petroleira quase faliu em meio a insucessos de exploração de petróleo na Amazônia e na África antes de se transformar em uma empresa de redesenvolvimento, sendo atualmente a maior petroleira independente do Brasil.
A equipe de Equity Research da Genial Investimentos tem recomendação de Compra para os papéis tendo em vista o fato do mesmo negociar à 5,7x EV/EBITDA 23E (de acordo com as nossas estimativas), ser um case baseado em forte crescimento da produção (>150k bpd até 2026E/2027E), exímia execução de redesenvolvimento dos campos maduros adquiridos, preços do Brent em patamares elevados devido ao subinvestimento em E&P nos últimos anos e com forte atividade em fusões e aquisições interessantes (como o caso recente da aquisição da Dommo, que deve gerar créditos fiscais interessantes e a recente conclusão da aquisição do campo de Albacora Leste).
Essa debênture tem rating AA pela Fitch.
Índice de Basiléia: O Índice de Basileia determina a relação entre o capital próprio da instituição e o capital de terceiros (captações) que será exposto a risco por meio da carteira de crédito. Por exemplo, se um banco possui Índice de Basiléia de 20%, significa que, para cada R$ 100,00 emprestados, o banco possui patrimônio de R$ 20. O índice mínimo exigido pelo Banco Central do Brasil é 11%.
Rating: É a nota que emissores recebem das agências de rating pela probabilidade de pagarem seus títulos nas datas pactuadas. Cada agência de risco tem sua classificação, mas a mais alta seria AAA, ou equivalente, e a mais baixa seria D, na qual o emissor não possui condições de honrar seu título no montante e nas condições originais.
Risco de crédito: É quando o mercado cobra pelo risco hipotético de um emissor conseguir “repagar” o que você emprestou na data do vencimento. Por exemplo: o governo brasileiro é considerado o melhor risco de crédito do mercado, e seus títulos negociam a taxa livre de risco (a mais baixa). Porém, existem outros emissores que possuem ótimas classificações de risco de crédito, inclusive apontadas por agências independentes de rating, que emitem seus títulos com um spread sobre os títulos do governo. Na Renda Fixa, quanto melhor for o risco de crédito do emissor, menos ele rende, e vice-versa.
Risco de Mercado: Quando um título é emitido, ele conta com condições adequadas para aquele momento. Se as condições de mercado (economia, juros ou inflação) se alterarem durante a vigência do seu investimento, o valor do seu título poderá ser alterado, e você poderá ter ganhos ou perdas caso venda seu título antes do vencimento.
Duration: Prazo médio ponderado de recebimento dos fluxos de caixa dos papéis. É uma medida de sensibilidade com relação a variação das taxas de juros e preço dos títulos. Quanto maior, mais volatilidade tem o titulo.
Ebitda: Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.
Spread: Diferença entre a taxa cobrada de uma operação e a taxa de referência (Ex.: NTN-B), com mesma duration.
High Grade: Ativos de renda fixa atrelados a devedores com bom risco de crédito, ou seja, de baixo risco.
High Yield: Ativos de renda fixa atrelados a devedores com risco elevado, consequentemente com maior remuneração.
Carry ou Carrego: Ganhos de capital ao carregar o ativo em carteira até a data de vencimento.
ROE (Return on Equity): Retorno sobre o capital é um indicador financeiro percentual que se refere à capacidade de uma empresa em agregar valor à ela mesma utilizando os seus próprios recursos.
Estrutura a termo (ETTJ): É a relação, em dado momento, entre taxas de juros de títulos de renda fixa de mesma qualidade de crédito, mas com diferentes prazos de vencimento.
CRA: Os Certificados de Recebíveis Agrícolas ou Imobiliários (CRA) são ativos de renda fixa emitidos por empresas securitizadoras com o objetivo de financiar atividades ligadas ao setor agrícola.
CRI: Os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) são ativos de renda fixa emitidos por empresas securitizadoras com o objetivo de financiar atividades ligadas ao setor imobiliário