Publicado em 12 de Abril às 22:01:00
No início do ano, montamos nossa carteira das Top 5 ações para 2022. Com base em 4 possíveis cenários para o Brasil e para a economia global, escolhemos 5 ações que entendíamos ter maior potencial de valorização ao longo de 2022 com melhor risco/retorno. Passados quase três meses, estamos fazendo pequenas modificações na carteira e mexendo no peso de alocação do portifólio (para acessar o primeiro relatório, clique aqui).
Neste relatório, também analisamos o desempenho da carteira teórica e atualizamos as teses de cada uma das empresas escolhidas. Reiteramos quatro nomes da nossa carteira inicial, adicionamos uma nova ação e rebalanceamos a composição de cada ação. Estamos substituindo Porto Seguro por Itaú, pois acreditamos que o 1T22 da Porto venha pior que as expectativas com um alto custo de sinistralidade por conta de uma inflação de quase 20% de automóveis e auto peças, assim como um desempenho fraco no financeiro antecipados nos dados de janeiro e fevereiro da Susep. Nossa tese de Porto continua construtiva, mas taticamente estamos substituindo por Itaú que está com uma boa dinâmica de crescimento de receita e lucro, melhor que seus pares.
Além disso, estamos aumentando o peso de 3R e SLC Agrícola para de 20% para 25%, mantendo Vale com 20% e colocando Alupar e Itaú com 15%, basicamente refletindo o grau de convicção dos analistas. Continuamos com uma carteira mais alocada em commodities (óleo, minério, agrícola) que no mercado doméstico.
Conforme o gráfico abaixo, nossa carteira teve uma performance de +12,6% do dia 20 de janeiro (dia de lançamento do Top 5) até o dia 11 de abril, 5,4 pp acima do Ibovespa com 7,2%. Os principais destaques sendo 3R (RRRP3), Porto (PSSA3) e Vale (VALE3), com valorizações de 20,9%, 13,7% e 12,6% (números ajustados pelos proventos).
Seguimos convictos com nossas escolhas, e preparamos uma breve análise a respeito de cada um deles abaixo.
Ação com a melhor performance da nossa carteira Top 5, com valorização de 21% desde a publicação da carteira. Em nossa leitura, a performance das ações da 3R podem ser explicada por duas grandes questões. Primeiro e mais fácil de se explicar: preço do petróleo. Desde o início dos conflitos entre a Ucrânia e a Rússia, o preço da commodity tem estado sob pressão devido às sanções internacionais. Sendo assim, observamos parte da performance plenamente por preços do petróleo estruturalmente mais altos. O segundo ponto, diz respeito à própria performance operacional da empresa, com a sua produção total alcançando 9,4k bpd em março/22 e uma produção média de 9.2k bpd ao longo do 1T22. Tais números representam um crescimento de 21% em comparação com 4T21 e de +61% vs 1T21. À despeito do bom crescimento em volumes, ainda observamos a empresa com expressivo potencial de valorização à medida que diversos ativos adquiridos ainda não foram consolidados pela empresa (Papa-Terra, Peroá, Fazenda-Belém, etc) e que a empresa ainda não iniciou o processo de redesenvolvimento dos seus campos, o que pode ser demonstrado pelo nosso potencial de valorização esperado.
Depois de sofrer uma correção no final de 2021, vimos uma forte recuperação no preço da ação da Vale desde o início deste ano. A demanda por minério segue bastante elevada mundialmente, principalmente impulsionada pela China e intensificada pela Guerra na Ucrânia. Vale lembrar que uma parcela da produção mundial de minério de ferro e aço é proveniente tanto da Rússia quanto da Ucrânia, como discutimos no relatório aqui, o que corroboram para uma situação de preços elevados do minério e beneficia exportadoras de grande porte, como é o caso da brasileira.
Além disso, reforçamos a alta qualidade do seu minério de ferro, sobretudo no Sistema Norte (da Serra dos Carajás), o que, juntamente com seu sistema logístico, possibilita um baixo custo de transporte, tornando o produto da companhia altamente atrativo para a exportação. Outro ponto é o alto teor de ferro no minério, o que diminui a necessidade de processamentos adicionais e reduz a emissão de gases poluentes, indo na direção pró-ESG e nos planejamentos mais sustentáveis da China para os próximos anos.
Apesar disso, continuamos confiantes com a nossa recomendação de Vale, pois esperamos que em 2022 ela se beneficie em grande parte pelo aumento de preços do minério, ao mesmo tempo que alguns metais básicos ganham mais espaço (é o caso do níquel e do cobre). Assim, estimamos que a Vale consiga remunerar seus investidores com dividendos na ordem de 10% e uma geração forte de caixa, com Free Cash Flow Yield de 15%. No curto prazo, esperamos que o 1T22 venha com números fortes.
Desde o início da nossa carteira, o papel SLCE3 teve um leve aumento de 5,4%. Pensamos que o aumento dos preços de soft commodities (principalmente milho e soja, além do algodão, que são os principais produtos que a empresa produz e vende) trará uma performance ainda melhor do que esperávamos para a companhia. Na nossa opinião, isso melhorou a percepção do futuro SLC Agrícola, atraindo mais investidores e impulsionando o preço das ações para cima. Além disso, Temos o fluxo “convencional” de maiores investimentos em commodities e em empresas com receita atreladas ao dólar diante de um cenário com muitas incertezas.
Olhando adiante, reconhecemos que a recente queda do dólar em relação ao real possa afetar a receita da companhia, que tem a grande maioria de suas vendas para clientes internacionais. Todavia, continuamos gostando do modelo de negócio da empresa, cada vez mais asset-light (hoje cerca de 50% de suas terras são arrendadas) e ainda vai incorporar um aumento de 44% de sua área de plantação durante o ano com a compra das terras da Terra Santa Agro (negócio de mais R$ 750 mi). Acreditamos em contínuo crescimento e um cenário favorável para a companhia ao longo do ano. Continuamos convictos na nossa tese de investimento de SLC, aumentando o peso de 20% para 25% frente ao desempenho mais fraco entre nossas escolhas.
Nosso case mais defensivo. Diante de um cenário que vivemos de muitas incertezas tanto no Brasil como no mundo, escolhemos uma companhia com beta baixo e pouca volatilidade para maior previsibilidade de um crescimento estável. As ações da ALUP11 valorizaram 10% desde o início da nossa carteira, um pouco acima da valorização do Ibovespa até agora – vale mencionar que achamos a performance bem razoável a medida que cases defensivos tendem a ter um desempenho abaixo da média em momentos de alta conjuntural dos ativos e que a empresa ainda deve anunciar dividendos referentes aos resultados de 2022. Entretanto, seguimos positivo no case da empresa. Gostamos da natureza do seu negócio (receitas resilientes e ajustadas à inflação), do crescimento em geração de caixa a medida que a empresa deve seguir entregando seus projetos que estão atualmente em desenvolvimento. Por último e não menos importante, citamos os dividendos, que devem ser seguir crescendo à medida que a fase mais aguda de investimentos já ficou para trás. De acordo com as nossas estimativas, vemos ALUP11 negociando a uma Taxa Interna de Retorno Implícita de 12% em termos reais e estimamos um rendimento em dividendos de pelo menos 8% para o ano de 2022.
A Porto Seguro teve desempenho 6,5 pp acima da bolsa brasileira, se valorizando 13,7% no ano. Aproveitando a boa performance e antecipando um fraco resultado do 1T22, estamos substituindo PSSA3. Pressionados pela alta sinistralidade que impactou o 2S21, esperávamos uma recuperação já no 1T22, mas o pico dos custos de sinistralidade deve ser nesse trimestre. A sinistralidade continua sendo impactada pela inflação da tabela FIP, que elevou o preço de carros em ~20% e peças em ~15% em 2021. Continuamos construtivos com a tese de Porto, portanto nossa substituição é tática. Dentre os fatores que nos deixam otimistas com Porto Seguro e nos fizeram colocar a ação na nossa carteira TOP 5 podemos destacar: (i) perspectiva de melhores receitas financeiras com elevação da selic média; (ii) reprecificação da carteira, que deverá reduzir a sinistralidade ao longo de 2022, e; (iii) crescimento de receitas, tanto no seguro auto e em outras linhas de negócio.
Apesar de continuarmos gostando da tese de Porto para 2022, acreditamos que o resultado do 1T22 deve seguir pressionado pela elevada sinistralidade do seguro auto e resultado financeiro fraco. Segundo dados da SUSEP, a sinistralidade da Porto atingiu o pico de 69,5% em jan/22 (vs. 62,2% em dez/21). A sinistralidade deve melhorar gradativamente ao longo do ano a medida que a Porto reprecifica suas apólices. Em fev/22 a sinistralidade já reduziu para 67,4%. Permanecemos positivos para Porto em 2022, mas esperamos que a melhora dos resultados deva vir mais a frente, principalmente no 2S22 e 2023. O cenário mais desfosforável no curto prazo, justifica retirar a Porto da nossa carteira de TOP 5 ações.
Para substituir a Porto estamos adicionando Itaú a nossa carteira. O banco apresentou um bom guidance para 2022, com perspectiva de um robusto crescimento de lucro que estimamos ser de 15% no meio da faixa indicativa. Mesmo esperando uma elevação da inadimplência para 2022, avaliamos que o forte crescimento de receita já observado no 4T21 deve compensar a elevação das provisões para créditos duvidosos. No 4T21 a receita líquida de juros (NII) cresceu 20,6% a/a e 8,7% t/t. Ao valuation de 8,5x P/L 2022 e 1,6x P/VP22 reiteramos a nossa recomendação de COMPRAR para Itaú e como a nossa ação preferida no setor bancário para 2022. Porto negocia a 9,5x P/L 2022 e 1,4x P/VP22.