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Publicado em 06 de Julho às 20:05:44

Stablecoins – O que são e para que servem?

Uma stablecoin é uma moeda digital, criada em blockchain, cujo preço é atrelado a um ativo real, como ouro ou moedas fiduciárias. Sua principal utilidade é servir como alternativa para se proteger da alta volatilidade dos criptoativos, sem que haja a necessidade de retirar seu capital do mercado cripto.

As stablecoins tentam unir os benefícios das criptomoedas com a baixa volatilidade e a confiança das moedas fiduciárias. Dentre os benefícios das criptomoedas se destacam a possibilidade de realizar transações rápidas, baratas e com privacidade.

A maior parte das stablecoins são pareadas na proporção de 1:1 com moedas fiduciárias, como o dólar ou o euro, e podem ser negociadas em Exchange de criptoativos. Outras stablecoins podem ser atreladas a outros tipos de ativos, como metais preciosos, ou até mesmo a grupos de criptomoedas.

As diferentes categorias de stablecoins são segmentadas de acordo com os ativos que as lastreiam. Existem 4 categorias principais: (i) lastreadas em moeda fiduciária, (ii) lastreadas em commodities, (iii) lastreadas em outros criptoativos e, (iv) stablecoins algorítmicas.

Lastreadas em moeda fiduciária

As stablecoins com lastro em moeda fiduciária (fiat) são a principal categoria de stablecoin do mercado. As stablecoins com lastro em fiat são lastreadas por moedas como dólar, euro e real. São o tipo mais simples de stablecoin, com uma relação 1:1 entre cripto e colateral. Isso significa que para cada stablecoin existente, há uma moeda fiduciária em uma conta bancária.

Os usuários podem resgatar suas moedas através da entidade que administra a stablecoin. O usuário pode enviar as stablecoins ao administrador, que envia de volta a quantidade equivalente de moeda fiat para a conta bancária do usuário. Ao mesmo tempo, as stablecoins são retiradas de circulação (queimadas). Isso significa que, ao comprar uma stablecoin atrelada ao dólar americano em proporção 1:1, você pode devolver essa stablecoin ao emissor e resgatar US$ 1.

A vantagem dessa categoria de stablecoin está na grande liquidez e, consequentemente, na facilidade de transferência e usabilidade. A simplicidade desse tipo de stablecoin oferece uma vantagem para os novos usuários entenderem melhor as criptomoedas. Por isso, as stablecoins lastreadas em fiat podem ter um papel importante no incentivo à adoção de criptomoedas em larga escala.

Os principais representantes de stablecoins lastreadas em fiat são o Tether (USDT), a USDCoin (USDC) e o Binance USD (BUSD).

Tether USD (USDT)

O Tether é a stablecoin mais amplamente utilizada no mercado e atualmente representa 45% da capitalização total de todas as stablecoins, com cerca de US$ 70b em circulação.  O Tether é emitido principalmente na blockchain Ethereum  A Tether Ltd., com sede em Hong Kong, é a única responsável pela criação e resgate de tokens, bem como pela manutenção dos depósitos.

As Exchange são os principais usuários de USDT, reduzindo ou eliminando a necessidade de manter relacionamentos bancários externos. A Tether Ltd. compartilha muitos executivos e tem fortes laços com a Bitfinex, corretora de criptoativos com sede em Hong Kong. Tanto a Tether quanto a Bitfinex são controladas pela iFinex Inc.

Desde a fundação em 2014, o Tether tem sido objeto de controvérsia por não fornecer demonstrações financeiras auditadas, provando que possui reservas adequadas lastreando o USDT. A Tether não divulga seus cronogramas de emissão com antecedência. Em vez disso, eles fornecem relatórios diários de transparência, listando o valor total de suas reservas de ativos e passivos.

Em março de 2019, a Tether atualizou sua declaração de tesouro, alegando que seus tokens não são mais 100% garantidos por depósitos em dólares americanos. Em vez disso, o Tether passou a ser lastreado 100% por reservas, que incluem moeda tradicional, outros ativos e recebíveis de empréstimos. Entretanto, a dúvida quanto à capacidade da Tether conseguir honrar suas obrigações ainda paira sobre o mercado.

USD Coin (USDC)

Lançada em outubro de 2018, a USD Coin (USDC) é uma stablecoin com lastro em moeda fiduciária do consórcio CENTER, uma parceria entre a Circle e a Coinbase, criada para desenvolver criptoativos e protocolos de blockchain. É a segunda maior stablecoin do mercado e possui mais de US$ 50b em circulação, que representam cerca de 35% da capitalização de todas as stablecoins.

Os membros do CENTER são os únicos capazes de alterar o fornecimento circulante de tokens USDC. A emissão de tokens ocorre quando os usuários depositam moeda fiduciária nas contas bancárias do CENTER, em contrapartida, o CENTER destrói os tokens quando os usuários realizam a conversão de volta para moeda fiduciária.

Para provar que existem reservas, o USDC conta com um sistema de prova de reservas. A prova de reservas garante que o número de USDC em circulação corresponde ao valor dos fundos mantidos em contas operadas pelos membros do CENTER. O CENTER publica relatórios mensais com atestados da Grant Thornton LLP, comprovando as reservas em dólares americanos que respaldam os tokens USDC em circulação.

Binance USD (BUSD)

A terceira maior stablecoin em circulação é o Binance dólar (BUSD), emitido pela Binance em parceria com a Paxos. O ecossistema BUSD cresceu exponencialmente em 2021. A stablecoin cresceu de uma capitalização de mercado de cerca de US$ 1 bilhão no início de 2021 para mais de US$ 17 bilhões em 2022, representando cerca de 4% de todo o mercado de stablecoins.

O BUSD possui suas reservas em dólar ou títulos do tesouro americano. Além disso, é aprovado e regulamentado pelo Departamento de Serviços Financeiros do Estado de Nova York (NYDFS), e seu Relatório de Auditoria Mensal pode ser visto no site oficial.

Lastreadas em Commodities

As stablecoins lastreadas em commodities têm o lastro em diferentes ativos intercambiáveis, como metais preciosos. A commodities mais comum utilizada como garantia é o ouro. Por definição, uma commodity é um bem produzido em larga escala e com características físicas homogêneas.

Também é possível encontrar outras commodities sendo utilizados como lastro de stablecoins, como petróleo. Os proprietários de stablecoins com lastro em commodities tem a propriedade indireta de um ativo tangível, que possui um valor real.

As stablecoins lastreadas em commodities oferecem possibilidades de diversificação e de alocação em ativos que se comportam como reserva de valor. O exemplo mais comum de stablecoin lastreada em commodities é a Pax Gold (PAXG).

Pax Gold (PAXG)

O PAXG é uma criptomoeda lastreada em ouro, lançada pelos criadores do Paxos Standard (PAX) em setembro de 2019. Como um token na blockchain Ethereum, a Pax Gold tem se tornado uma maneira acessível para os investidores começarem a investir em ouro. Possui uma oferta de aproximadamente US$ 600m.

O principal objetivo por trás do Pax Gold é tornar o ouro mais acessível, pois o ouro físico não é facilmente divisível ou facilmente transportável. O Pax Gold foi criado para permitir que os investidores comprem pequenas quantidades de ouro por meio do ecossistema de criptomoedas, eliminando virtualmente os limites mínimos de compra da commoditie.

Os tokens Pax Gold têm uma proporção de um para um com o armazenamento de ouro em tesouro. Isso significa que há uma moeda PAXG para cada onça de ouro em custódia pelo protocolo Pax Gold. Cada token PAXG é lastreado por uma fração de barra de ouro London Good Delivery, armazenada nos cofres de ouro da Brink, que é a empresa de armazenamento aprovada pela London Bullion Market Association.

Ao combinar a segurança e a liquidez oferecidas pelo formato de criptoativos e o nome estabelecido do ouro como commodity, a Pax Gold traz uma nova oportunidade de investimento para os investidores. O PAXG inspirou outros desenvolvedores de criptomoedas a criar tokens lastreados em ouro também.

Lastreadas em Criptoativos

Stablecoins lastreadas em outros criptoativos utilizam um conjunto de criptos para manter a paridade. O emissor desse tipo de stablecoin é descentralizado, fazendo com que todo o histórico de emissão e quantidade de lastro fiquem registrados na blockchain. Por ter histórico público, as stablecoins lastreadas em criptoativos são muito mais transparentes. No entanto, seu mecanismo complexo de difícil entendimento mitigam sua maior adoção.

As stablecoins lastreadas em criptoativos são emitidas a partir de um empréstimo. A garantia deixada pelo tomador serve de lastro para as moedas emitidas. Caso a garantia passe a valer o equivalente ao que o tomador emprestou mais os juros, o emissor utiliza a garantia para recomprar as moedas de sua emissão e tirá-las de circulação. Com isso, não haverá stablecoins em circulação sem que haja lastro.

Para manterem a estabilidade, as stablecoins lastreadas em criptoativos são sobrecolateralizadas. Ou seja, para a sua emissão é necessário depositar mais colateral do que o valor do empréstimo.  Por exemplo, para emitir 100 stablecoins cujo valor é de US$ 1 cada, é necessário um deposito US$ 150 em Ether. Caso o preço do Ether caia e a minha garantia passe a valer US$ 100, o emissor da stablecoin recompra as 100 stablecoins, retirando-as de circulação.

A sobrecolaterização é o que traz segurança para essa categoria de stablecoin, mas em contrapartida é o que a torna menos economicamente eficiente. A stablecoin lastreada em criptomoedas mais popular é a DAI, criada pela MakerDAO, cujo valor está atrelado ao dólar americano.

Dai (DAI)

O DAI é o principal representante entre as stablecoins colateralizadas em criptomoedas. O preço do DAI é atrelado ao dólar americano e é garantido por uma mistura de outras criptomoedas. Existem cerca de 6 bilhões de DAI em circulação, que correspondem a 4% de todo o mercado de stablecoins.

Uma das características do DAI é que seu programa foi criado e desenvolvido por uma organização autônoma descentralizada, a MakerDAO. A emissão de novos tokens é regida pela MakerDAO e pelo Maker Protocol.

MakerDAO é uma organização autônoma descentralizada, um tipo de empresa administrada de maneira descentralizada. A tomada de decisão da organização é feita através de votações dos detentores dos tokens de governança (MKR). Os detentores dos tokens atuam de forma semelhante às ações de uma empresa tradicional.

O Maker Protocol é o programa que rege a emissão de DAI. Para manter o preço em paridade com o dólar americano, o Maker Protocol garante que cada token DAI seja garantido por uma quantidade adequada de outras criptomoedas. O protocolo permite que qualquer usuário pegue um empréstimo em DAI através do depósito de criptomoedas em um Maker Vault, que funciona como cofre. O protocolo demanda um nível de garantia que varia de 101% a 175%, dependendo do nível de risco do ativo bloqueado.

Algorítmicas

As stablecoins algorítmicas utilizam um algoritmo para controlar o fornecimento da stablecoin, visando manter a paridade da criptomoeda com o dólar. Se o preço da stablecoin ultrapassar US$ 1, o algoritmo aumenta a oferta, o que tende a reduzir o preço. Se o preço da stablecoin cair abaixo de US$ 1, algoritmo reduz o número de moedas em circulação.

Assim como a maioria da stablecoins lastreadas em criptoativos, as stablecoins algorítmicas são descentralizadas, tendo o histórico de transações e emissão públicos e registrados em blockchain. Apesar de terem ganhado popularidade recentemente, essa categoria de stablecoin ainda não teve nenhum exemplar bem-sucedido no longo-prazo.

Pelo formato em que o algoritmo é programado, as stablecoins algorítmicas podem passar pela “espiral da morte”. O processo ocorre quando a stablecoin perde a paridade com o dólar, gerando uma descrença com a moeda. A descrença impede que a stablecoin recupere a paridade mesmo com a redução da oferta da moeda. O exemplo mais relevante de stablecoin algorítmica foi a Terra USD (UST), que protagonizou o maior colapso do mercado de criptoativos.

TerraUSD (UST)

A TerraUSD (UST) era a stablecoin algorítmica do ecossistema da rede Terra. Seu objetivo era manter seu valor fixo em US$ 1 a partir da arbitragem algorítmica com o token LUNA. Para manter o preço do UST atrelado ao dólar, cada UST era conversível no equivalente a um dólar em token Luna. Quando um UST valesse menos do que um dólar, se tornaria atrativo comprar UST e realizar a troca por Luna. A operação diminui a oferta de UST, elevando seu preço. Na situação contrária, em que um UST vale mais do que 1 dólar, se tornaria atrativo criar UST, aumentando a oferta do token e reduzindo seu preço.

Em Maio/2022 o UST perdeu sua paridade com o dólar duas vezes em um período inferior a 3 dias. De acordo com a Binance, a stablecoin atingiu um mínimo de US$0,62. A troca massiva de UST por outras stablecoins, como a USDC, teve início em um dos pools de liquidez da plataforma DeFi Curve. Um montante de aproximadamente US$ 200 milhões, dividido em duas transações distintas, foram responsáveis pela quebra de paridade que desencadearia o resto dos acontecimentos.

Fizemos toda a cobertura dos eventos relacionados ao UST AQUI.

A falência do protocolo de Terra (LUNA) trouxe a atenção de reguladores do mercado tradicional para as stablecoins, que possivelmente se tornarão a primeira classe de criptoativos a serem regulamentadas.

Conclusão

Tendo em vista os ativos apresentados, julgamos as stablecoins colateralizadas em moedas fiduciárias as mais adequadas para constituir caixa, em dólar, sem que haja a necessidade de conversão do capital para fora da blockchain. Entretanto, ressaltamos o risco presente na falta de transparência de determinadas empresas. Apesar da Tether ser mais amplamente utilizada, o USDT vem perdendo espaço de mercado para o USDC, justamente por conta da transparência da Circle.

A situação gerada pela TerraUSD fez com que stablecoins se tornassem o primeiro alvo de regulação dentro do ecossistema de criptoativos. Dessa forma, o mais interessante a se fazer é se expor às stablecoins já alinhadas com os órgãos reguladores, como o USDC. Caso a intenção seja utilizar um sistema completamente descentralizado, a DAI se torna a melhor opção.

A vantagem mais aparente das stablecoins é sua utilidade como meio de troca, efetivamente preenchendo a lacuna entre moeda fiduciária e criptomoeda. As stablecoins representam o meio do caminho para a integração dos mercados financeiros tradicionais com o ecossistema de criptoativos e finanças descentralizadas.

Há uma forte expectativa de que as stablecoins abram o caminho para que as criptomoedas se tornem mais populares. Além disso, com uma enorme população desbancarizada em todo o mundo, e pessoas e empresas procurando maneiras mais rápidas, fáceis e baratas de enviar pagamentos através das fronteiras, as stablecoins têm um enorme potencial de crescimento.

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