Adotamos dentro de nossas recomendações de renda fixa uma preferência mais relevante nos titulos pré-fixados de vencimentos mais longos para clientes com perfil agressivo. Iremos analisar as principais variáveis que levaram a essa escolha.
Mais a frente iremos entrar no detalhe das escolhas das Top picks, que serve como um guia, com as melhores opções disponíveis de alocação.
*taxas do dia 02/08/22, podendo sofrer variações.
Cenário externo
O FED de maneira unânime, elevou a taxa básica de juros americana em 0,75 p.p., repetindo o ritmo de aumento da reunião anterior. Como forma de atingir a meta de plena emprego e estabilidade de preços com uma taxa inflação de 2% no longo prazo, o comitê decidiu, de maneira unânime, elevar o intervalo da taxa básica de juros (Fed Funds rate) para faixa entre 2,25% e 2,50% ao ano.
Ademais, o comitê estabeleceu que manterá a redução do balanço de ativos do Fed, iniciada no dia 1 de junho, em um montante de US$ 47,5 bilhões que deverá ser elevado após 3 meses para US$ 95 bilhões.
Curiosamente, a primeira alta de juros em 12 anos na Europa e duas altas de 75 bps nos EUA desde maio foram interpretadas como uma antecipação do ciclo total de alta, e as curvas de juros em ambos os países passaram a precificar taxas terminais de juros neste ciclo mais baixas do que observado dois meses atrás, ou mesmo cortes de juros já no primeiro semestre de 2023.
Apesar disso, o curto prazo parece seguir marcado por receios de recessão nos próximos 12 meses, o que tem gerado maior volatilidade ou mesmo rallies em alguns ativos de risco, como vimos com o desempenho muito positivo da bolsa americana e das treasuries pós decisão do FOMC.
Cenário local
No Brasil, o ciclo de alta parece se aproximar do final com taxas de juros já em terreno significativamente contracionista por algum tempo.
Apesar dos núcleos de inflação ainda elevados e expectativas de inflação de médio prazo pressionadas, o BCB provavelmente contará com o impacto defasado do intenso aperto monetário implementado nos últimos 15 meses para recolocar a inflação em trajetória de convergência à meta no médio prazo.
Os estímulos fiscais (redução do ICMS em itens essenciais e PEC dos benefícios) darão impulso econômico adicional para o 2º semestre do ano, postergando os impactos mais significativos da política monetária sobre a atividade.
As políticas fiscal e monetária caminham em direções opostas: enquanto o Banco Central busca arrefecer a economia com uma taxa de juro real elevada, a política fiscal é estimulativa, dando sustentação à demanda no curto prazo, e não sabemos por quanto tempo esse estimulo fiscal continuará existindo, o que causa incerteza com relação a sustentabilidade do endividamento publico.
Dado este contexto, tudo indica que ao final do ciclo de altas (que é precificado que se encerre na reunião de setembro), hoje projeta a Selic será de 13,75% a.a, até meados de 2023, que é um patamar muito alto por um longo período.
Nós projetamos a Selic encerrando 2023 em 10,5% a.a. Portanto, aplicações em títulos indexados ao CDI seguem também como uma boa oportunidade de alocação na classe de renda fixa.
Porque investir em prefixados
Obviamente, em renda fixa o ideal é investir quando a taxa de juros está alta, portanto, fizemos um estudo detalhado mostrando qual o melhor momento para se investir em ativos prefixados, e concluímos que esse momento é agora.
Utilizamos o histórico da taxa Selic nos últimos 10 anos, e comparamos os retornos de investimentos em títulos prefixados e títulos indexados ao IPCA. E, para essa comparação ter validade no tempo, pois por exemplo, uma LTN (Letra do tesouro nacional – titulo prefixado) de vencimento em 2025 tem hoje, aproximadamente uma duration de 2,5 anos. Esse mesmo titulo não teria o mesmo vencimento há 2 anos atrás por exemplo, teria uma duration maior. É para comparar os mesmos ativos ao longo do tempo, basicamente.
Então nos baseamos na analise nos índices de duration fixo criados pela Anbima, tanto índices representando os títulos prefixados, quanto índices que representam os títulos indexados ao IPCA.
IDKA5A: É um índice da Anbima que apresenta o comportamento de aplicações de prazos fixos (vencimentos mantidos sempre com mesmo prazo, 5 anos de duration) em títulos públicos. O índice é calculado com base em determinados pontos (chamados vértices) da curva de juros e tem como objetivo refletir ganhos e perdas decorrentes dos movimentos do mercado. Essa reflete a curva de juros reais construída a partir dos títulos publicos indexados à inflação (NTN-B ou Tesouro IPCA +).
IDKA5PA: Essa reflete a curva de juros nominais construída a partir dos títulos públicos prefixados (LTNs e NTN-Fs com 5 anos de duration).
*Duration: Prazo médio ponderado de recebimento dos fluxos de caixa dos papéis. É uma medida de sensibilidade com relação a variação das taxas de juros e preço dos títulos. Quanto maior, mais volatilidade tem o titulo.
Retorno em janela de 24 meses de títulos com duration fixo x Ciclo da Selic
Observando graficamente, nos momentos onde há estabilidade, e na sequencia, períodos de corte na taxa Selic, marcados pelas áreas em vermelho, o desempenho do investimento em títulos prefixados com vencimento mais longo se mostra muito superior ao investimento em títulos indexados a inflação com o mesmo vencimento, chegando a ter rentabilidade acima de 70%.
Isso ocorre pelo efeito da parcela de inflação (IPCA) dos títulos projetarem carregos menores com o controle inflacionário, que é uma característica de poucas surpresas inflacionárias, ou seja, o banco central foi capaz de levar a inflação para a meta, e com isso investimento em prefixados podem gerar ganhos expressivos decorrentes da marcação a mercado, e do carrego alto que se pode auferir ao manter taxas acima de 13% por mais de 10 anos, como podemos observar no gráfico.
Logo, o que permeia uma decisão de alocação nos títulos pré fixados, é avaliar que inflação que o mercado está projetando nos títulos públicos para os próximos anos, será mais baixa do que está precificado, que é o que vemos como mais possível, dado o patamar já bastante restritivo das taxas de juros, atividade global entrando em recessão, o que faz o preço das commodities caírem, aliviando ainda mais a projeção de inflação prospectiva.
Como investir em prefixados
Dada a dificuldade operacional para fazer os rebalanceamentos para manter um investimento com prazo de vencimento fixo, como feito no estudo acima (seria o mundo ideal), ainda sim tem alguns veículos onde é possível surfar bem ao investir em prefixados.
Recomendamos alocação com duration a partir de 5 anos, com até 5% da alocação de renda fixa para clientes com perfil agressivo, reduzindo a alocação na mesma magnitude nos indexados ao CDI, e mantendo o peso na alocação nos títulos indexados ao IPCA.
Existem algumas maneiras de investir em títulos pré fixados:
– Comprando títulos do tesouro direto (tesouro pré fixado);
– Comprando títulos de dívida , como os de emissão bancária (nossa escolha foi uma LCA do BTG Pactual, banco sólido, Rating AAA. Veja analise mais detalhada aqui);
– Comprando ETFs (escolhemos o IRFM11, que replica o índice IFRM 1+, que é uma composição de títulos de renda fixa prefixados com prazo de vencimento mais longo, que chega próximo ao índice do estudo apresentado) ;
Portanto, alocar em títulos prefixados tem risco maior que investir em títulos indexados ao CDI por exemplo, mas pode gerar ganhos expressivos com estratégia e horizonte de investimento correto. Sempre deixando claro, que a ideia de “o ultimo almoço grátis”, que é a diversificação, é base também para os investimentos em renda fixa, então uma composição entre CDI, indexados ao IPCA e prefixados fazem uma carteira ter expectativa de retorno para o longo prazo muito melhor.
Riscos
Ainda vemos ventos adversos vindos do exterior, com possível recessão da economia americana, cenário bem ruim para a Europa e a China com incerteza com relação ao crescimento econômico.
Do lado local, seguimos atentos aos fundamentos do país diante da perigosa combinação entre (i) incerteza acerca do regime macroeconômico (a âncora fiscal em particular) a vigorar a partir de 2023, podendo gerar surpresas inflacionárias; e (ii) o ruído na esfera política com a proximidade da corrida eleitoral.