A volatilidade e os receios sobre 2022 voltaram a pressionar os ativos de risco. Do lado positivo, commodities apresentaram alta e colocaram ainda mais pressão sobre a inflação global de alimentos. Bolsas globais apresentaram queda diante das expectativas sobre política monetária nos EUA, situação da China por conta da COVID-19 e com a falta de sinalizações de avanço do conflito entre Rússia e Ucrânia. No Brasil, empresas ligadas às commodities voltaram a ter bom desempenho semana, e do lado oposto, empresas domésticas e com uma correlação mais com o mercado norte-americano foram os destaques negativos.
EUA: Entre a cruz e a espada
Após forte recuperação das bolsas americanas na segunda quinzena de março, a semana voltou a ser negativa diante da divulgação da ata do FOMC (Comitê de Política Monetária) nos EUA e dos discurso hawkish de membros do Fed (Federal Reserve) sobre os próximos passos do principal banco central do mundo.
Fed reforçou o seu desconforto com o cenário inflacionário atual, sinalizando alta uma de 50bps no próximo FOMC e que a redução do seu balanço vai ser de USD 60 bilhões de Treasuries (Tesouro Direto Americano) e USD 35 bilhões de MBS (títulos hipotecários) por mês. Nesse ritmo, o Fed levaria cerca de 5 anos para retornar aos níveis pré COVID-19. O maior desafio para este ano se dá no sucesso desde evento. Já que o cenário inflacionário em conjunto com o mercado de trabalho aquecido podem “forçar” o Fed a agir de maneira mais rápida do que a estimada hoje e assim trazer volatilidade para o mercado de títulos e ações globais.
Outro tema que vem ganhando espaço nas discussões, está relacionada a inversão da curva de juros nos EUA. Normalmente, depois que esse evento ocorre, numa janela entre 12 a 18 meses os EUA estram em recessão.
Nosso time fez um levantamento completo sobre essa situação. Saiba mais: Inversão da curva: um sinal de recessão?
Inflação de alimentos
Os preços globais dos alimentos estão subindo num ritmo mais rápido do que o visto nos últimos anos, à medida em que a guerra entre Rússia e Ucrânia diminuiu a oferta de alimentos, principalmente grãos, gerando mais pressão inflacionária sobre os consumidores. O conflito tem causado estragos nas cadeias de suprimentos na região crucial de escoamento pelo Mar Negro, derrubando os fluxos comerciais globais e alimentando o pânico sobre a escassez de produtos básicos, como trigo e óleos vegetais.
A alta dos preços dos alimentos é sentida mais nos países pobres, onde os mantimentos representam uma grande parte dos orçamentos dos consumidores – e as consequências da invasão da Rússia elevou os custos de alimentos básicos, como o pão. O indicador de preços globais da FAO subiu cerca de 75% desde meados de 2020, superando inclusive os níveis vistos entre 2008 e 2011, e que contribuíram para as crises alimentares globais.
China: revisão de crescimento para baixo
Em Xangai, houve recorde de casos nesta semana. A política governamental de lockdown não vem surtindo o efeito como deseja, fazendo com que o mercado comece a precificar consequências mais graves para o tanto para o crescimento da economia chinesa (vide os PMIs nas mínimas), como também para a economia o comércio global.
A atividade no setor de serviços da China contraiu no ritmo mais acentuado desde o início da pandemia, com um aumento nos casos de coronavírus restringindo a mobilidade e pesando sobre a demanda. O Índice de Gerentes de Compras (PMI) de serviços da Caixin caiu para 42,0 em março, de 50,2 em fevereiro, ficando abaixo da marca de 50 pontos, o que aponta para contração na atividade do setor.
Investidores ainda seguem na expectativa de que em breve poderemos ter o anuncio de medidas econômicas mais estimulativas, porém, caso isso não se confirme, entendemos que isso pode afetar diretamente na precificação das commodities globais e que por sua vez podem impactar as expectativas sobre o desempenho da economia brasileira.
BRASIL: seguindo a maré
Depois de três semanas consecutivas de alta, o mercado brasileiro passou por uma realização diante da maior volatilidade global. Empresas ligadas à commodities voltaram a ser destaque positivo, e companhias ligadas à economia local apresentaram performances negativas.
Nessa sexta feira foram divulgados os dados sobre inflação (IPCA) referente ao mês de março, com números bem acima das expectativas e que também contribuíram para uma abertura da curva de juros. Veja mais detalhes sobre a inflação divulgada em nosso relatório: IPCA (Mar/22): Inflação aumenta 1,62% m/m com impacto de alimentos e transportes.
Recentemente começar a defender a tese de rotação no mercado brasileiro, ao diminuir exposição em empresas ligadas à commodities e aumentando em empresas locais. Assim, acreditamos que a volatilidade recente está abrindo oportunidades interessantes para conseguirmos aumentar nossa posição com preços mais atrativos. Ainda mantemos o tom de cautela e recomendação de entrada com parcimônia, porém, mais atentos em oportunidades que possam surgir no curto prazo.