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Publicado em 23 de Novembro às 17:16:11

5 Ações para Investir no Governo Lula em 2023

Com a escolha de Lula como novo presidente, selecionamos uma carteira de 5 ações para investir em 2023 que acreditamos poder proporcionar um melhor desempenho à partir da posse do novo presidente.

A carteira Lula é uma continuação das nossas escolhas de portfólio feitas no dia 26 de setembro de 2022 (para mais detalhes: Eleições 2022: Quais as melhores ações para investir?). O objetivo de nossas escolhas é proporcionar uma orientação estratégica de alocação em ações/setores, de acordo com a opinião de nossos especialistas, pautadas no conteúdo programático do então candidato Lula. 

Estamos trocando 2 ações da nossa carteira inicial (26/set) por conta da dinâmica de curto prazo menos favorável dessas empresas.

Importante ressaltar que temos mais duas divulgações de resultados trimestrais para 2022 e nossa carteira leva em consideração os temas e dinâmica econômica do novo governo que começa apenas em 2023.

E agora, Presidente Lula?

A questão que se coloca agora é se o Presidente eleito será capaz de entender o recado das urnas que, para conseguir governar, será preciso dividir o poder com os aliados eleitorais. Em especial, a divisão de poder nos Ministérios econômicos e a definição da política econômica que será adotada pelo novo governo é particularmente importante.

Antes de falarmos sobre as 5 ações para investir em 2023, vamos citar três possibilidades para o governo Lula:

1) A primeira, e mais otimista, seria o Presidente se valer dos apoios de economistas ortodoxos que recebeu ao longo da campanha de economistas e nomear para o Ministério da Economia (ou seu substituto) um deles. O sinal seria que a política econômica iria se basear na busca de crescimento econômico e redução da desigualdade, mas dentro de parâmetros definidos pelo equilíbrio fiscal e da estabilidade econômica. A reação dos investidores seria extremamente positiva.

2) A segunda, a nosso ver a mais provável, seria nomear para o Ministério da Economia um membro do PT com experiência no setor público, um ex-governador do nordeste, por exemplo, como ocorreu no primeiro mandato do Presidente Lula, em 2003. Neste caso, nossa avaliação é que a reação dos investidores seria neutra. Esperar para ver.

3) Finalmente, a terceira possibilidade seria nomear para o Ministério da Economia um economista com perfil “desenvolvimentista”, como os que ocuparam o Ministério da Fazenda do governo Dilma Roussef, indicando uma volta ao passado na política econômica. A reação dos investidores seria extremamente negativa.

Possível Governo Lula e o que interfere nas 5 ações para investir em 2023

Por um lado, ao que tudo indica, o novo governo do Presidente Lula será marcado pelo retorno de políticas implementadas a partir do seu segundo mandato e, em especial, no governo Dilma, com forte participação do Estado na economia, sobretudo no mercado de crédito, e de maiores políticas de transferência de renda. ]

Entretanto, há um elevado grau de incerteza em torno de qual será a equipe econômica que comporá o próximo governo. Na nossa avaliação esse é um ponto central e resumirá a trajetória a ser adotada ao longo dos próximos quatro anos. No nosso cenário base, temos o anúncio de um Ministro da Economia com experiência na administração pública que entende o funcionamento do orçamento federal.

Nossa avaliação é que para cumprir seus principais objetivos, será fundamental para o governo a viabilização de um espaço orçamentário via revisão do atual regime fiscal, sobretudo, do Teto de Gastos. Acreditamos que a nova regra proposta manterá uma certa estabilidade fiscal ao passo que possibilita que a principal demanda do presidente Lula seja atendida: o aumento dos gastos sociais.

Pontos Principais

Em caso de sucesso, a folga fiscal deverá ampliar os gastos públicos, focando na política de valorização real do salário-mínimo; manutenção do Bolsa-Família em R$ 600,00; expansão dos investimentos públicos; crédito subsidiado; auxílio de R$ 150,00 para crianças de até 6 anos para as famílias contempladas pelo Bolsa-Família; e maiores despesas com saúde e educação.

Além disso, a utilização de Bancos Estatais para estimular crédito privado e do BNDES como principal meio de fomento da industrialização do país também devem estar presentes. Para tal, será necessário o desembolso de verba por meio do Tesouro Nacional, o que impactará negativamente o resultado fiscal.

Entretanto, a grande marca do governo Lula deve ficar por conta da reforma tributária, com destaque para a tributação sobre lucros e dividendos, proposta pelo Ministro Paulo Guedes no PL 2337/2021 e já aprovada na Câmara dos Deputados.

Nesse contexto de um aumento dos gastos, será necessário o pedido de um waiver fiscal. De acordo com as nossas estimativas, o impacto sobre o resultado primário de 2023 gira em torno de R$ 300 bilhões, cerca de 3,5% do PIB.

Ademais, outro ponto sensível a um eventual governo do ex-presidente será a política de preços da Petrobrás, que hoje está alinhada com os preços internacionais. A mudança da legislação infraconstitucional (Lei das estatais e S.A.) e até mesmo no estatuto da companhia devem ser ideias ventiladas em seu governo.

Por fim, devemos observar a paralização do processo de reformas estruturais e de privatizações que vinha ocorrendo desde o governo Temer, bem como dos processos de concessão e PPPs que também devem perder força ao longo do governo Lula.

Impactos

Essas políticas terão impactos substanciais na economia tanto no curto quanto no longo prazo. Em primeiro lugar, diante da manutenção da elevada incerteza e crescente risco fiscal, a taxa de câmbio deve sofrer desvalorização, refletindo a deterioração da trajetória de longo prazo da dívida pública brasileira.

Nesse contexto, a taxa de juros deve permanecer em território contracionista, como forma de contrabalancear os vetores inflacionários decorrentes de uma política fiscal mais frouxa, com possível retorno dos déficits primários.

Além disso, na ausência de uma agenda de reformas estruturais que visam melhorar tanto o ambiente de negócios brasileiro quanto o arcabouço fiscal, devemos observar também uma elevação da taxa de juros neutra da economia, desestimulando os investimentos privados, que é um importante vetor positivo de crescimento do PIB.

Diante da autonomia do Banco Central, acreditamos que a inflação não entrará em uma trajetória explosiva, porém, com um custo significativamente elevado em termos de atividade econômica, em face de uma taxa Selic que deve permanecer em um patamar bastante elevado e por mais tempo. Em suma, o governo Lula deve ser marcado, principalmente, pelo significativo aumento do risco fiscal por conta de uma agenda econômica mais expansionista e da ausência de reformas estruturais.

No entanto, vale destacar que realizar todas essas mudanças não serão simples. O governo precisará escolher prioridades diante da limitação temporal e do capital político a ser empregado, afinal o governo não vai dedicar esforços somente revertendo reformas anteriores, também se dedicará para deixar sua marca (reforma tributária). Além disso, a composição da Câmara e do Senado com um perfil mais de direita implicará em maiores negociações para se aprovar os projetos desejados pelo poder Executivo.

Dessa forma, para afrouxar ou revogar o teto de gastos será necessária a aprovação de uma Emenda Constitucional (PEC), que demanda apoio de três quintos do Congresso Nacional. Isso para um governo que não terá maioria no Congresso e que precisará negociar com partidos mais ao centro.

Outro ponto importante é que, com a aprovação das emendas impositivas, o executivo não pode mais contingenciá-las tendo perdido uma importante ferramenta de negociação com os parlamentares. Ou seja, hoje o poder do congresso nacional sobre o orçamento é maior, reduzindo a liberdade e o poder de negociação do executivo.

Carteira de ações para o governo Lula 2023

Algumas mudanças na escolha das 5 ações para investir em 2023 no governo Lula

Sai YDUQ3, entra ASAI3!

Chegando ao fim do ciclo de captação, pudemos ter um melhor panorama de como seria o segundo ciclo do ano, culminando em um caminho menos favorável para a maioria das empresas de educação.

Dado o cenário macroeconômico incerto, vemos que o aluno, apesar de diversas campanhas de incentivo ao volume, ainda pensa duas vezes ao adquirir o compromisso de se matricular em uma faculdade, resultando em um menor ciclo de captação – sendo o EAD o mais impactado.

Nesse ambiente desafiador, algumas praças têm se comportado de maneira diferente, enquanto umas estão mais resilientes, como São Paulo, outras tem sofrido mais, tal como o Rio de Janeiro. Isso trouxe um efeito adverso para a Yduqs, no qual possui a maior concentração entre as listadas no RJ.

Ainda consideramos a Yduqs, como um player “kit lula”, diante de ser uma das companhias listadas mais bem posicionadas para se beneficiar dos efeitos de programas de financiamento estudantil (FIES) e universidade para todos (ProUni). Contudo, estamos observando com cautela o tamanho de tais incentivos e como se dará o formato, pois será primordial para saber a trajetória desses programas e seus respectivos impactos. Desse modo, com os benefícios chegando, acreditamos que o efeito é em uma cauda de médio/longo prazo na base de alunos.

Visto o cenário mais desafiador para o curto prazo, apesar de considerarmos a YDUQ3 um bom player para o cenário lula, estamos optando por colocar na carteira a tese de ASAI3.

À medida que o formato de cash-and-carry ganhou mais espaço no bolso do consumidor, as companhias que operam nesse formato ganharam munição para poder expandir os seus negócios. Segundo dados do Ebit Nielsen de 2021, o modelo de atacarejo apresentou uma importância de quase 20% em relação às compras mensais do consumidor.

Com uma forte expansão à vista (61 lojas Extras + aberturas orgânicas), o Assaí tem a meta de chegar em até 300 lojas ao final de 2023.

Vale lembrar que essas novas lojas a serem convertidas devem gerar um faturamento 3x superior ao formato de hipermercado Extra os quais atuavam e tem um potencial de trazer uma margem operacional +150 bps acima da média da companhia.

Com uma forte geradora de caixa em mãos e um track record nesse modelo de conversão, vemos uma margem de segurança maior para incluir o Assaí na carteira recomendada Lula, no lugar de Yduqs.

No momento MRVE3 não, mas CURY3 sim

Entre o primeiro e segundo turno, as construtoras divulgaram suas prévias operacionais e a MRV surpreendeu o mercado negativamente: a queima de caixa no trimestre totalizou R$ 1,2b dos quais R$ 900m apenas na Resia (subsidiária americana da MRV). A companhia nunca guardou segredo sobre os custos de construção dos projetos nos EUA, mesmo assim o mercado não deu atenção prévia aos fatos e foi pego no contrapé. A nossa expectativa é que a queima de caixa da Resia continue forte nos próximos 9 meses, ultrapassando R$ 1,5b, contando com a venda de apenas um empreendimento no 4T22.

A construção dos empreendimentos da Resia (e, portanto, a queima de caixa da empresa) é em parte financiada por dívida nonrecourse, ou seja, em caso de insolvência, o mutuante toma o ativo e o mutuário (Resia) não retém nenhum passivo adicional. Mesmo que esta modalidade de dívida limite os riscos da companhia e não impacte nos covenants, o simples fato de ela existir, na nossa visão, provoca um desconforto no mercado. Este desconforto, somado a uma operação ainda fraca no Brasil nos leva a crer que os papéis da companhia devem andar em linha ou abaixo dos seus pares. Um gatilho para que a MRV volte a andar é uma melhor visibilidade da capacidade da companhia em vender os empreendimentos da Resia no 2S23.

No lugar, damos preferência à Cury, que é uma das nossas ações preferidas dentro de construção civil. Mesmo atuando dentro do Programa Casa Verde e Amarela (PCVA) e na faixa imediatamente acima, a Cury tem uma das maiores margens e velocidades de vendas do setor. Além disso, conta com uma posição de caixa líquido robusta e recorrente geração de caixa, características essenciais para o atual momento macroeconômico, com juros em patamares elevados por um tempo ainda incerto. Esperamos que a margem da Cury passe a aumentar a nos próximos trimestres (incluindo neste 3T) sem detrimento da velocidade de vendas – um presente das mudanças recentes do PCVA.

Apesar de um rali de quase 90% nas ações nos últimos 6 meses, vemos a Cury negociando a múltiplo P/E 2023E de 6,7x, implicando em um dividend yield de ~7% para 2022 e ~9% para 2023, o que nos deixa confiantes de que ainda há espaço para mais valorização.

As que ficam

Eletrobras (ELET3)

Gostamos da Eletrobrás devido à natureza defensiva do seu negócio (energia elétrica, com exposição aos segmentos de geração e transmissão) e pelo momento em que a empresa está atravessando: com sua recente privatização, os próximos anos deveriam ser muito interessantes do ponto de vista operacional devido à “arrumação de casa”, com corte de custos diversos, reprecificação do portfólio de geração, venda de ativos não estratégicos, novos investimentos, entre outras iniciativas. Além disso, como mencionamos em nossa iniciação de cobertura recente (para maiores detalhes, clique aqui – “Eletrobras (ELET3: O que muda com a empresa privatizada?”), vemos a empresa negociando a apenas 1x VPA, muito pouco se considerarmos a expansão de rentabilidade esperada nos próximos anos. Além disso, gostamos do case da Eletrobrás para além da “arrumação de casa”. Vale lembrar que os negócios de geração e transmissão possuem contratos de longo prazo sendo reajustados por índices inflacionários. Ou seja, é uma decisão oportuna estar exposto a setores defensivos e propícios à distribuição de dividendos em um momento com pressões inflacionárias e menor crescimento de PIB.

Como grande novidade em relação ao nosso último texto, chamamos a atenção a tomada de posse do Sr. Wilson Ferreira Júnior no último dia 19 setembro. Com pouco mais de um mês no cargo, citamos como principais medidas: I) migração para o Novo Mercado, onde as ações da empresa devem passar a ser negociadas apenas como Ordinárias e II) anuncio de um novo Plano de Demissão Voluntária, com objetivo de atingir 2,3k empregados da empresa (aproximadamente 21% do total de empregados da empresa no 2T22) ao custo de R$1 bilhão – com retorno esperado em aproximadamente 11,2 meses.

Atualmente, vemos a empresa negociando com potencial de valorização interessante em relação ao nosso preço-alvo (R$66/ação), TIR implícita de 12,2% em termos reais e  P/VPA de apena 1x em um cenário de clara expansão de rentabilidade.

Prio (PRIO3)

Achamos a Petrorio um case interessante por estar em um negócio que o preço da commodity não é diretamente afetado pelas condições macroeconômicas locais em termos de perspectivas de crescimento, por exemplo. Além disso, como a empresa é exportadora, uma eventual desvalorização do real em relação ao dólar tenderia a beneficiar o negócio com as suas receitas dolarizadas.

Caso a Petrobrás resolvesse mudar a sua política de desinvestimentos, tal decisão não deveria ser necessariamente um revés para a empresa à medida que todas as suas aquisições antes de Albacora Leste foram feitas entre players privados. Vale lembrar que a Bacia de Campos (onde a Prio tem todos os seus campos adquiridos) apresenta produção agregada declinante dos seus poços, fazendo assim com que novas oportunidades de aquisição viriam a aparecer ao longo do tempo. A empresa deve fechar o ano com uma produção de 52k bpd (vs. 33k bpd em janeiro/22) em meio a impressionante campanha de revitalização do campo de Frade. Empresa fechou o 3T22 gerando c. 11% do seu valor em caixa em termos anualizados, “carrego” interessante se considerarmos o crescimento que a empresa deve apresentar adiante com entrada dos campos de Albacora Leste e Wahoo. Por último, citamos o fato da empresa poder migrar para os holofotes por uma questão fluxo à medida que o risco político de se investir nas ações da Petrobrás (PETR4) tende a aumentar tendo em vista o fato da Prio ser uma opção privada, com perspectivas de crescimento interessante e com track record muito positivo.

Bradesco (BBDC4)

No caso de uma vitória do candidato Lula, acreditamos que o Bradesco estaria melhor posicionado para se beneficiar relativo aos outros bancos privados. Os bancos sempre souberam navegar bem ciclos de juros mais altos e acreditamos que a taxa de juros deve permanecer em território contracionista, como forma de contrabalancear os vetores inflacionários de uma política fiscal mais frouxa. Os resultados financeiros das seguradoras também tendem a se beneficiar de juros altos. Pois bem, o Bradesco possui a maior seguradora do país e uma carteira de crédito mais concentrada em pessoa física (PF), com 53,4% de participação do portfólio total, mais exposto a baixa renda que seus rivais Itaú e Santander. Os possíveis estímulos à consumo e programas de transferência de renda do plano de governo Lula poderiam melhorar o consumo (ao menos de curto prazo), destravaria maior oferta de crédito e aumentaria a capacidade de pagamento das famílias da base da pirâmide, beneficiando as receitas de juros e inadimplência. Ademais, a seguradora tem uma grande relevância nos resultados do Bradesco, correspondendo a 30% do lucro em períodos normalizados. Por fim, além do ambiente mais favorável para o Bradesco, o banco negocia a múltiplos atraentes de 6,56x P/L 23 e 1,29x P/VP 22 poderiam destravar valor para a ação.

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