O resultado do 3T22 do Bradesco (BBDC4) veio bem abaixo das nossas expectativas, impactado principalmente por três itens:
1. Perdas na margem com mercado (tesouraria),
2. aumento substancial na provisão de devedores duvidosos (PDD),
3. queda no resultado financeiro da seguradora por conta da deflação ocorrida no tri.
Lucro líquido (BBDC4) Bradesco
O lucro líquido do Bradesco (BBDC4) reportado foi de R$ 5,2b, uma queda de -23,7% em relação as nossas estimativas de R$ 6,8b, -22,1% abaixo das estimativas do mercado de R$ 6,7b, e uma queda de 25,8% t/t.
Dos três itens acima, tesouraria e seguros devem gradualmente melhorar nos próximos trimestres.
No entanto, a piora da qualidade de crédito e consequentemente o aumento das provisões foi a maior surpresa negativa do trimestre, forçando o banco a revisar seu guidance com um aumento substancial na expectativa de provisão de crédito de R$ 17b a 21b para R$ 25,5b a 27,5b.
Isso significa que as despesas com provisões devem aumentar de R$ 7,3b no 3T22 para algo entre R$ 8,1b a R$ 10,1b no 4T22, ou seja, os resultados do Bradesco (BBDC4) com baixa rentabilidade devem continuar. O ROE do trimestre ficou em apenas 13,0% contra 18,1% no 2T22.
Comprar, manter ou vender ações do Bradesco (BBDC4)?
Acreditamos que o mercado não recebera bem o 3T22 do Bradesco. Apesar do resultado fraco no trimestre, entendemos que as ações do Bradesco (BBDC4) estão descontadas e, portanto, enxergamos potenciais quedas da ação como oportunidade de montar posição e reiteramos nossa recomendação de COMPRA com preço alvo de R$ 24,00 para final de 2023.
Carteira de Crédito: Desacelerando, mas ainda liderado pela pessoa física
A carteira de crédito cresceu +1,9% t/t e +10,9% a/a, apresentando uma desaceleração do 2T22 com +15,8% a/a. O crescimento do tri foi impulsionado principalmente pela linha de pessoas físicas (+3,3% t/t e +16,4% a/a) e micro/pequenas e médias empresas (+2,6% t/t e +8,6% a/a).
Os principais destaques para as pessoas físicas foram: (i) cartão de crédito (+4,0% t/t e 38,8% a/a) e (ii) crédito pessoal (+3,0% t/t e +19,0% a/a).
Para as pessoas jurídicas, destaques para (i) financiamento imobiliário (+7,1% t/t e 10,7% a/a) e (ii) crédito rural (+5,2% t/t e 30,5% a/a).
Receita com Juros (NII): O ataque e a defesa
O NII (receita com juros) é dividido em duas linhas (i) NII clientes e (ii) NII mercado. O primeiro apresentou um forte resultado com aumento de +3,4% t/t e +24,7% a/a, esse aumento está relacionado com melhores spreads, volume de crédito e maior quantidade de dias no trimestre.
O lado negativo, o banco reportou perdas na linha de NII mercado de -R$ 1,2b (vs. -R$0,6b no 2T22 e +R$ 1,65b no 3T21). A pior ainda se dá pelo elevado nível de taxa Selic que impacta negativamente a Gestão de Ativos e Passivos (ALM). O banco sinaliza uma melhora para o 4T22, mas ainda no negativo, fincando positivo somente em 2023.
PDD: O fantasma da inadimplência continua assombrando o Bradesco (BBDC4)
Provavelmente a PDD continuará assombrando o Bradesco pelos próximos trimestres devido a maior exposição a empréstimos relacionados a pessoa física baixa renda e pequenas empresas, mais sensíveis ao ciclo de crédito, juros e inflação.
As despesas com PDD continuam pressionando o bottom line (lucro) do Bradesco, apresentando um aumento de +5,4% t/t e +95,5% a/a. O crescimento da provisão foi principalmente pela grande exposição de empréstimos em segmentos que possuem maior probabilidade de inadimplência: pessoas físicas (54,2%) e as micro/pequenas e médias empresas (24,8%).
O índice de inadimplência acima de 90 dias está em alta desde o 2T21, saindo de um total de 2,5% para 3,9%. Para base de comparação, a pessoa física saiu de 3,4% para 5,1%, PME de 2,6% para 4,5% e grandes empresas de 0,4% para 0,1%. Na nossa visão, a piora no índice deve continuar, com pico da inadimplência somente em algum momento no primeiro semestre de 2023.
Por outro lado, o índice de inadimplência de curto prazo de 15-90d continuou estável t/t em 3,6%, indicando que possivelmente os efeitos de um maior controle poderiam estar começando a fazer algum efeito.
Com o ciclo piorando, a carteira renegociada continua crescendo (+3,8% t/t e +15,6% a/a) alcançando R$ 32,6b. O banco continuou vendendo carteiras no trimestre (R$2,7b ativa e R$ 2,9b write-off).
Seguros Bradesco: resultado financeiro impactado por deflação
O resultado de seguros apresenta um bom resultado comparado no a/a com crescimento +8,0%, porém com uma queda de -6,4% t/t. A variação negativa em relação ao 2T22 se dá pela deflação do IPCA que impactou negativamente o resultado financeiro, o qual apresentou uma queda de -25,5% t/t.
As linhas que possuem maior impacto no resultado (prêmios ganhos e sinistros) vieram flat com o 2T22, dessa forma não conseguiram agregar de forma positiva no resultado para ofuscar a queda do resultado financeiro.
Receitas de Serviços Bradesco: estagnado
O resultado de receitas de serviços ficou estagnado em R$ 8,9b no trimestre com uma leve redução de -1,3% t/t e aumento de +1,1% a/a. O resultado no t/t apresentou uma variação negativa mesmo com mais dias úteis no 3T22 (65 dias) em relação ao 2T22 (62 dias).
Parte do impacto se deu pela redução das receitas de Conta-Corrente por conta de uma menor utilização em serviços como saque, transferências via TED/DOC e outros, provavelmente por conta da canibalização do PIX. Ademias, a receita com administração de fundos sofreu com a migração de dinheiro de fundos de alto valor agregado (multimercado) para ativos mais conservadores de renda fixa que possuem menores taxas de administração, que ficaram mais atrativos por conta da alta de juros.
Outros destaques negativos foram: operações de crédito com queda de -8,9% t/t; e consórcios com baixa de -22,7% t/t. O primeiro apresentou variação negativa pelo fato do tri ter tido menor volume de originação de operações de financiamento imobiliário, capital de giro e de veículos para não correntistas. Já para o segundo, o resultado se deu pela nova regra de contabilização disponibilizada pelo Banco Central.
Do lado positivo, o destaque foi as receitas com cartão que subiram 3,8% t/t e 21,3% a/a.
Despesas: Abaixo da inflação
As despesas operacionais apresentaram um crescimento de 7,7% t/t e 4,5% a/a (abaixo da inflação), puxado principalmente pelas despesas com pessoal que apresentou um aumento de 8,8% t/t e 14,4% a/a, impulsionado pelo reajuste do dissídio que ocorreu em setembro, além de maiores despesas com processos trabalhistas.
Imposto: Uma ajuda no tri (poderia ser pior)
A alíquota de imposto de renda efetiva foi de 25,5% no trimestre, uma redução de 5,68 pp t/t e 9,84 pp a/a, explicada principalmente pelo pagamento de JCP e auxiliando o lucro reportado pelo banco.
Capital: Acima dos limites regulatórios
O capital (tier 1) do Bradesco fechou em 13,6% no 3T22 (-0,55 pp t/t e -0,16 pp a/a). O índice permaneceu acima dos limites regulatórios de 9,5%, o que deve possibilitar a manutenção do payout de 30-40%.