O Bitcoin (BTC) iniciou a semana em queda, saindo do patamar de US$ 20,8k na segunda-feira para US$ 18,9k na quarta-feira, prosseguido por um rali de alta, retornando aos preços mais altos durante o final de semana. A desvalorização de aproximadamente 9.4% até quarta foi justificada pelas expectativas da divulgação dos dados de inflação dos Estados Unidos. O relatório divulgado na quarta-feira apresentou um aumento de inflação superior às expectativas de mercado, com uma inflação atingindo 9,1% nos últimos 12 meses – a maior taxa dos últimos 40 anos.
Em teoria, uma inflação mais alta pode fazer com que o Banco Central americano aumente ainda mais as taxas de juros no fim do ciclo. Juros mais altos, por sua vez, dificultam a performance de ativos de risco, que incluem o mercado cripto. O sentimento pessimista resultou em 5,9% de desvalorização do BTC no intervalo de uma hora da divulgação dos dados de inflação. Entretanto, no restante da semana, o mercado de criptoativos se recuperou mais rapidamente do que o mercado tradicional. A correlação do Bitcoin com os ativos de tecnologia (índice Nasdaq 100) atingiu um coeficiente inferior a 0,50, valor mais baixo desde Jan/22, indicando que podemos estar presenciando o início da descorrelação entre os criptoativos e o mercado tradicional, o que na nossa avaliação é um indicativo positivo.
A grande queda sistêmica provocada pela alta alavancagem de participantes centrais do mercado cripto aparenta ter cessado – um indicativo é o pedido de recuperação judicial da plataforma de empréstimos Celsius, feito essa semana. Ademais projetos promissores, como a Ethereum, Polygon e Aave, seguem anunciando novidades. A maior clareza quanto as consequências dos envolvidos na grande alavancagem do mercado, indica que contratempos do cenário micro possam já estar todos precificados. Dessa forma, se torna ainda mais importante acompanhar o cenário macro, o rumo que o mercado tradicional irá tomar após as próximas reuniões do FED e a eventual descorrelação entre mercado cripto e acionário.
Análise de Dados
A dominância do BTC frente aos outros criptoativos permanece estável, se mantendo acima dos 40%. Em contrapartida, o ETH vem retomando espaço de mercado, crescendo para 17% sua representatividade frente ao resto do mercado cripto.
O sucesso da implementação do The Merge nas redes de teste da Ethereum, assim como a confirmação de uma data por parte dos desenvolvedores, para a implementação da atualização na rede principal ainda este ano, fez com que o ETH acumulasse uma valorização de cerca de 37% desde seu valor mais baixo na semana, voltando a ser negociado acima de US$ 1,4k.
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Os anúncios positivos para a tão aguardada atualização da Ethereum também geraram movimentações nas carteiras de “baleias” do mercado. As maiores carteiras detentoras de Ether – top 1% dos endereços – atingiram um novo pico de 116 milhões de Ethers, indicando mais compras por grandes players do mercado. Essa quantidade representa 95% de toda oferta circulante de Ether.
Apesar do crescimento da Ethereum, o BTC permanece sendo o parâmetro para o resto do mercado cripto. Analisar o volume negociado em BTC pode nos indicar a futura volatilidade da criptomoeda. A aparente resolução dos riscos de alavancagem aos quais o mercado cripto estava exposto, apresentando clareza quanto ao possível futuro das instituições envolvidas (3AC, Celsius, BlockFi, Voyager, Babel Finance, etc), fez com que o mercado passasse a contar com maior estabilidade.
Com isso, podemos atestar a redução nos índices de volatilidade do BTC. O que pode nos indicar um prolongamento do período de lateralização de preços.
Polygon: Boas novas trazendo bons ganhos
O token Matic, nativo da rede Polygon está com uma valorização acumulada de 46% nos últimos 7 dias e mais de 140% de valorização no último mês. Polygon é uma das principais representantes das blockchains de segunda camada da Ethereum, responsáveis por ajudar na escalabilidade da Ethereum. Parte do motivo pelo qual o Matic está valorizando se deve aos últimos anúncios do protocolo.
A Polygon anunciou a integração da sua rede com o aplicativo Robinhood, um dos principais aplicativos de serviços financeiros do mundo. A Robinhood possui mais de 22 milhões de usuários, que agora também foram expostos tanto ao produto da Polygon (blockchain), quanto ao mercado direto para compra do token Matic.
Além disso, também foi anunciado a parceira da Polygon com o Reddit, um dos principais fóruns sobre assuntos diversos da internet. O Reddit conta com mais de 400 milhões de usuários mensais e passará a usar a rede da Polygon para armazenamento e comercialização dos avatares NFTs do fórum.
E por último, a notícia mais recente sobre a Polygon foi o anúncio da Walt Disney Company incluindo a blockchain Polygon em seu programa acelerador para 2022. O Disney Accelerator é um programa de desenvolvimento de negócios que busca acelerar o crescimento de empresas inovadoras em todo o mundo. O programa deste ano se concentra na construção do futuro de tecnologias como NFTs, realidade aumentada e inteligência artificial.
GHO: AAVE entra como competidora na guerra de stablecoins
Aave é um dos maiores protocolos de empréstimos em todo o mercado cripto e conta com mais de US$ 5b em valor total travado na rede (TVL). Com o sucesso do protocolo Maker e sua stablecoin DAI, além do buraco deixado pelo colapso do ecossistema do UST – stablecoin do ecossistema Terra – passou a fazer sentido a Aave adentrar no mercado de stablecoins.
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A equipe da Aave enviou uma proposta para desenvolver uma nova stablecoin chamada GHO. O design central da GHO será semelhante ao de outras stablecoins com modelo de dívida colateralizada (CDP). Os usuários fornecerão garantias e, em seguida, poderão gerar GHOs até uma determinada proporção, dependendo da garantia fornecida. Se o usuário for liquidado ou decidir pagar sua posição emprestada, o GHO será posteriormente queimado. Enquanto isso, todas as taxas e pagamentos de juros associados à cunhagem do GHO serão direcionados ao tesouro da Aave para garantir a longevidade do protocolo.
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O conceito já é aplicado por grandes players, como a DAI por exemplo, entretanto o diferencial competitivo proposto pela Aave está em novos componentes, como a introdução de facilitadores. Um facilitador pode ser qualquer outro protocolo, aplicação ou entidade, desde que passe pela aprovação da governança da Aave. Cada facilitador aprovado poderá operar um “gerador” de GHO (chamado de bucket), e poderá mintar e queimar tokens GHO de forma segura e confiável, a partir de diferentes formas de colateralização. Em outras palavras, é como se um protocolo terceiro, por exemplo da Uniswap, pudesse utilizar um método de colateralização por meio de criptoativos para ter sua própria emissão de GHO. O protocolo DeFi RWA (sigla para Ativos do Mundo Real), também poderia se tornar um facilitador de GHO, utilizando os ativos de mundo real tokenizados, a exemplo de imóveis, como forma de colateralização.
A GHO pode ganhar participação no mercado e brigar pelo posto de maior stablecoin do mundo, junto ao USDC, USDT ou DAI. O USDC e USDT podem ter uma desvantagem por serem emitidos por agentes centralizados, que tem tido maior observância de reguladores e podem ter legislações específicas em breve. Já a DAI, que é descentralizada e não entraria no rol de criptos reguladas, pode não é tão descentralizada quanto aparenta, devido seu principal lastro ser em USDC, o que na nossa avaliação geraria uma desvantagem. Resta saber se a implementação do ambicioso projeto GHO será bem-sucedida. Apesar de teoricamente ter capacidade de se tornar uma stablecoin global, precisamos ver o protocolo sob um teste de estresse para revelar possíveis falhas.