À medida que a temporada de balanços se aproxima do fim, a semana foi marcada por numerosas divulgações de resultados e seus respectivos impactos no mercado de ações. Além disso, a semana ganhou destaque devido à apresentação de dados sobre inflação tanto no Brasil quanto nos EUA. Essas informações influenciaram a percepção do mercado, alimentando a expectativa de uma abordagem mais flexível em relação à política monetária nos meses vindouros.
Ata mantém o tom contracionista, mas com ressalvas
O Banco Central do Brasil anunciou a redução da taxa SELIC em 0,5 pontos percentuais após reunião do Copom no dia 2 de agosto. A decisão, que dividiu opiniões, foi mais agressiva do que muitos investidores esperavam. A Ata divulgada após a reunião enfatizou o compromisso do Banco em manter uma política monetária firme. No entanto, destacou-se a remoção da frase “política monetária” de um trecho, gerando dúvidas sobre sua intenção. A Ata também ressaltou a necessidade de uma postura conservadora devido às expectativas de inflação e outros indicadores econômicos. Resta a questão: quais condições acelerariam futuras quedas da SELIC?
Vendas no varejo sinalizam desaceleração da economia brasileira
As vendas no varejo brasileiro em junho surpreenderam, permanecendo estáveis no conceito restrito e crescendo 1,2% no ampliado, contrariando expectativas de queda. Esse aumento no conceito ampliado foi impulsionado principalmente pela venda de veículos, beneficiada por um programa de subsídios do governo. Contudo, com o término desse programa, espera-se uma redução nas vendas de veículos. A estabilidade no conceito restrito indica uma possível desaceleração da economia no segundo trimestre, após o avanço da agropecuária nos primeiros três meses de 2023, refletindo a política monetária do Banco Central visando controlar a inflação.
CPI (jul/23): Índice cheio e importantes métricas de núcleo interrompem desinflação em doze meses
Em julho, o índice de preços ao consumidor dos EUA (CPI) subiu 0,2% mensalmente, totalizando uma inflação anual de 3,2%. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, também avançou 0,2% no mês, resultando em 4,7% anualmente. Os ganhos médios reais por hora e por semana cresceram, mostrando uma estabilização perto de níveis pré-pandemia. O aumento do CPI sugere que a desinflação observada em junho perdeu força, com aluguéis desacelerando a queda da inflação. Há divisões no Banco Central dos EUA sobre a trajetória da inflação. A desaceleração no ritmo de redução da inflação pode indicar desafios futuros, fortalecendo o argumento para um possível aumento adicional de 25 pontos-base nas taxas de juros para atingir metas de inflação.

Temporada de Balanços
Azul (AZUL4) | Resultados 2T23: Azul reportou dados positivos em nossa visão, surpreendendo nossas estimativas e as do mercado. O Yield, apesar da queda, ainda se mostrou em patamares elevados, o que aliado a uma redução substancial do dólar e preço do Querosene de Aviação (QAV), fez com que a companhia reportasse margens próximas e até mesmo acima dos patamares que costumávamos observar anteriormente à pandemia.
BB Seguridade (BBSE3) | Resultado 2T23: BB seguridade apresentou um lucro líquido de R$ 1,84b, em linha com nossas estimativas (+1,3%), apresentando um crescimento de 4,6% t/t e 30,9% a/a.
Cury (CURY3) | Resultado 2T23: Desde que iniciamos a cobertura em Cury, nunca tivemos um trimestre com resultados abaixo da expectativa. Pelo contrário, quase sempre somos surpreendidos positivamente o que nos leva a rever nossos números para cima constantemente. Este trimestre não foi diferente.
Direcional (DIRR3) | Resultado 2T23: A Direcional apresentou resultados consistentes, com grande destaque para a Riva e contando com efeitos não-recorrentes que impulsionaram o lucro. No geral, consideramos o resultado neutro para a tese.
Eletrobras (ELET3) | 2T23: Ainda na direção correta! O lucro liquido foi de R$1,6 bi (+16% a/a). EBITDA recorrente foi de R$5,4 bi (+2,1% a/a).
Engie (EGIE3) | Resultado 2T23: Por mais um trimestre, a ENGIE demonstra porque ela é usada como exemplo de empresa de geração privada para comparações com as demais empresas. A companhia apresentou números positivos em todas as linhas, acima de nossas expectativas e do consenso de mercado.
Gerdau (GGBR4) | Resultado 2T23: A maior parte das operações apresentaram retrações no EBITDA. Apesar de uma recuperação em Aços Especiais, a América do Norte traz uma queda mais forte. Já a ON Brasil, embora também tenha apresentado uma queda, o EBITDA veio levemente melhor do que as nossas estimativas. A geração de caixa foi seriamente comprometida.
Itaú (ITUB4) | Resultado 2T23: O Itaú reportou mais um trimestre de resultados consistentes com rentabilidade (ROE) de 20,9%, bem acima de seus concorrentes privados (Santander e Bradesco).
JSL (JSLG3) | Resultados 2T23: Confirmando as nossas expectativas, a JSL reportou números positivos no 2T23. Cabe lembrar que os dados reportados contabilizam 2 meses de operação da IC Transportes, que teve sua fusão aprovada no início de maio. As surpresas positivas foram as margens operacionais acima do que projetávamos.
Méliuz (CASH3) | Resultado 2T23: A empresa reportou um resultado fraco, abaixo das nossas expectativas. No entanto, a empresa segue mostrando evolução em sua trajetória para o break-even.
Movida (MOVI3) | Resultados 2T23: Consideramos os números melhores do que o esperado, apesar do prejuízo reportado no 2T23. Na nossa visão, o resultado da Movida trouxe mensagens positivas importantes. Sabíamos que a sazonalidade jogaria contra no RAC, porém as melhoras das margens no GTF e em Seminovos acabaram contrabalanceando esse efeito.
Pague Menos (PGMN3) | Resultado 2T23: A Pague Menos reportou seus resultados do 2º trimestre em linha com nossas expectativas. O menor reajuste de preços de medicamentos (5,6% em 2023 vs. 10,9% em 2022) impactou faturamento e rentabilidade nesse trimestre.
Raia Drogasil (RADL3) | Resultado 2T23: A companhia mostrou mais uma boa execução operacional, com uma entrega de crescimento orgânico imponente. Contudo, apesar de sua sólida entrega de resultados, a companhia negocia a múltiplos P/E 15% maiores que sua média histórica.