De maneira geral, esperamos que o 1T23 seja um trimestre positivo paras as companhias do setor aéreo. Além de uma sazonalidade favorável, tivemos o primeiro efeito integral da isenção de PIS/COFINS (MP. 1147/22), extensão da isenção de ICMS do querosene de aviação (QAV), uma queda significativa no preço do barril de petróleo ao final de 2022 e um dólar relativamente inferior ao 4T22. O cenário de retomada fez com que o bom nível de demanda persiste ao longo dos 3 primeiros meses de 2023, isso ajudou a manter o nível de tarifa/km voado em patamar elevado. A combinação desses fatores deve fazer com que as companhias divulguem dados operacionais e margens sólidas.
Na figura do trimestre, estamos mais otimistas com Gol, que deve reportar um operacional forte com margens operacionais melhores. Lembrando que Gol segue abaixo dos níveis pre-pandemia. Na visão de longo prazo, ainda achamos Azul uma posição mais resiliente. Ao longo do semestre, ambas as Companhias podem se beneficiar do ritmo de recuperação do corporativo. Olhando para os próximos 12 meses, reiteramos nossa recomendação de VENDER para Gol e MANTER para Azul.
Fomos surpreendidos positivamente por uma taxa de ocupação mais alta do que o usual no período. O Yield no 1T23 ainda deve se manter em níveis elevados. Se observarmos o preço das passagens através do IPCA, observamos que mesmo com uma queda de 10% na média do trimestre, o patamar de preço ainda é o mais elevado da série histórica se desconsiderarmos o último trimestre de 2022.
Ressaltamos que apesar do trimestre positivo, ainda estamos com o sinal de alerta ligado para o setor. Na nossa visão, a demanda esperada pelas companhias aéreas pode não se sustentar no patamar de tarifas projetado por elas. No nosso cenário base, ainda estamos mais pessimistas que o mercado em relação à trajetória do câmbio em 2023.
Na nossa visão, para que o cenário de estabilização relação dívida/PIB apresentado no novo arcabouço fiscal se concretize, é necessário desempenhar um superavit primário de cerca de 2,0% do PIB daqui em diante, muito acima das projeções mais otimistas do mercado e do próprio governo. Ou seja, até o momento, há uma falta de detalhamento que gera certas inconsistências na nova regra fiscal. Com essas incertezas, esperamos que o câmbio volte a patamares acima dos R$ 5,50. Outro fator que pode impactar negativamente o Real seria uma possível mudança na meta de inflação de longo prazo.
Câmbio
Utilizando o câmbio de fechamento dos três primeiros meses, podemos observar uma redução marginal do preço do dólar, que por sua vez apresentou média de fechamento inferior à que havíamos visto nos últimos trimestres. Com isso, acreditamos que o resultado financeiro não deverá comprimir o bottom line das empresas nos mesmos níveis que observamos em 2021 e 2022.
Lembramos que apesar das renegociações de dívidas anunciadas pelas empresas visando a redução de pagamentos de leasings e juros, ainda não esperamos nenhum impacto nos resultados que serão divulgados.
Combustível
Apesar das constantes diminuições no preço do QAV anunciadas pela Petrobras nos últimos meses, devemos lembrar que apenas parte dessa redução irá se refletir nos resultados do 1T23, dado que existe uma defasagem de aproximadamente 45 dias até o preço ser efetivamente repassado às companhias aéreas.
Dito isso, ainda assim esperamos uma queda no preço médio pago por litro, dado que os efeitos sentidos no trimestre. Embora em novembro de 2022 tenhamos observado um leve aumento de 7,3%, nos meses seguintes duas reduções foram anunciadas, 5,8% dezembro de 2022 e 11,6% em janeiro de 2023. Adicionalmente, tivemos a prorrogação da isenção de PIS/Cofins para o QAV, o que acabou por não elevar o preço do combustível no último mês do primeiro trimestre.
Voa Brasil
Durante o trimestre, o ministro Márcio França anunciou que planeja lançar o programa “Voa Brasil”, que vai oferecer passagens aéreas a R$ 200 para aposentados, estudantes, pensionistas, funcionários públicos ou pessoas com renda até R$ 6.8k. A ideia do projeto é vender os assentos ociosos nas aeronaves, dado que, na média, as companhias voam com 80% de sua capacidade. O governo espera emitir cerca de 12 milhões de passagens ao ano através do programa. Azul, Gol e Latam se pronunciaram, dizendo que a medida é positiva do ponto de vista social e que pode ajudar a aumentar o número de voos por habitante no Brasil. Na nossa visão, o programa deve ter impacto marginal nas companhias e deve ser aprovado no próximo semestre.
Gol (GOLL4)
O volume total de passageiros transportados (RPK) pela Gol no primeiro trimestre do ano foi de 9,3 bilhões (+13,6% a/a e +2,2% t/t). A oferta total de assento (ASK) foi de 11,1 bilhões (+10,5% a/a e -1,8% t/t). A taxa de ocupação nos surpreendeu positivamente, ainda mais se considerarmos o Yield ainda elevado. Essa finalizou o trimestre em 83,3% contra 81% no mesmo trimestre do ano passado.
A surpresa positiva em relação à taxa de ocupação da Gol se dá principalmente por conta de um possível Yield elevado. Olhando apenas para os dados de taxa de ocupação, os números nos surpreenderam positivamente. Em uma primeira interpretação, acreditamos que uma maior ocupação poderia estar casada com maior queda nos yields, porém ao analisarmos os dados do IPCA de passagem divulgados, revisamos nossas estimativas de Yield para cima.
Mantemos nossa recomendação de VENDER para Gol com preço alvo de R$ 6,20.
Azul (AZUL4)
O volume total de passageiros transportados (RPK) pela Azul no primeiro trimestre do ano foi de 8,6 bilhões (+18% a/a e +5,6% t/t). A oferta total de assento (ASK) foi de 10,8 bilhões (+19% a/a e +3,6% t/t). A taxa de ocupação foi levemente inferior se compararmos com o mesmo trimestre do ano passado. Essa finalizou o trimestre em 79,6% contra 80,4% no 1T22.
Esperamos um trimestre sem muitas novidades para Azul. A recente adição dos slots de Congonhas ainda não deve surtir efeito significativo no trimestre, visto que a operação deles se iniciou no dia 26/03.
Reiteramos nossa recomendação de MANTER para Azul com preço alvo de R$ 15,00.