Prévias de Tráfego Aéreo — Maio de 2023
Resumo
Azul e Gol divulgaram seus dados de tráfego relativos a maio, um mês que, apesar de ligeiramente superior a abril, ainda é sazonalmente fraco em termos de demanda, resultando em taxas de ocupação ainda abaixo do ideal. Na nossa visão, Azul apresentou dados ligeiramente melhores do que a Gol, com manutenção da taxa de ocupação e uma demanda superior. É importante ressaltar que parte desse aumento pode ser atribuída à adição dos novos slots em Congonhas, que ocorreu no final de março.
Devido à demanda fraca, é comum observarmos quedas relevantes nos preços das passagens aéreas, o que novamente ocorreu em maio. No entanto, mesmo com a queda, acreditamos que as tarifas devem se manter em patamares elevados para um segundo trimestre. A demanda por viagens em 2023 permanece resiliente, impulsionada pela retomada dos volumes de tráfego internacional, o que resultará em melhorias operacionais para o setor nos próximos meses.
IPCA sugere queda. Demanda forte e oferta limitada apontam na direção oposta…
O IPCA de maio revelou a maior variação do ano, com uma queda significativa de 17,73% nos preços das passagens aéreas. No entanto, é importante considerar que, historicamente, maio tem sido um mês desafiador para as companhias aéreas, devido à baixa temporada e à consequente redução na demanda. Essa tendência de menor procura pelos serviços sugere uma diminuição nos preços das tarifas.
Embora a queda registrada no período seja relevante, é interessante observar que, ao analisar a série histórica desde o ano 2000, os preços das passagens aéreas costumam apresentar quedas ainda mais acentuadas. Em alguns casos, as quedas ultrapassam a marca de 20% e, em situações excepcionais, chegam até mesmo a cair cerca de 30%. Além disso, considerando o acumulado do trimestre, essa queda não se mostra tão drástica em comparação com períodos anteriores.
Diante desses dados, acreditamos que os Yields reportados por Azul e Gol seguirão uma trajetória descendente, porém com uma redução menos acentuada em relação aos anos anteriores para o segundo trimestre.
O que aconteceu em maio?
Isenção de PIS/COFINS
A aprovação da MP 1147/2022 foi um marco significativo para as companhias aéreas em maio. Essa medida zerou as alíquotas de PIS/COFINS para o transporte aéreo de passageiros até o final de 2026. Com isso, as companhias aéreas passaram a ter uma dedução da receita bruta de aproximadamente 1%, em comparação com os 4% anteriores. É importante ressaltar que as receitas de transporte de carga e programas de milhagem ainda são tributadas.
Com essa redução relativamente pequena de 3 p.p., houve um incremento mensal de EBITDA entre R$ 40 a R$ 50 milhões, o que resulta em um aumento trimestral entre R$ 120 e R$ 150 milhões ao longo de 2023 para ambas as Companhias. Essa medida, juntamente com o novo cenário de preços do combustível e câmbio, fizeram com que revisássemos nossas projeções.
Para conferir nossa análise completa sobre a aprovação da MP 1147/2022, clique aqui.
Combustível segue em queda
Mantendo a tendência que observamos nos últimos trimestres, seguimos com o preço do Querosene de Aviação (QAV) em queda. Considerando as reduções feitas anteriormente, o preço por litro do 2T23 deve conter os reajustes realizados entre fevereiro e maio, que por sua vez podem reduzir o valor do QAV em mais de 10% em relação ao 1T23.
Além disso, durante o mês de maio a Petrobras anunciou mais uma redução no preço do QAV em suas refinarias, dessa vez em 11,5%, mas que por sua vez deverá ter um impacto significativo apenas nos resultados do 3T23.
Dólar abaixo dos R$ 5,00
A tempestade positiva para as companhias aéreas continua. Além de uma demanda ainda forte, renegociações de dívidas concluídas, isenções fiscais e combustível em queda, o dólar também deverá ajudar Azul e Gol no 2T23.
A média do câmbio em maio foi de R$ 4,98, muito em linha com a do mês anterior, assim como o câmbio de fechamento, utilizado para contabilizar os leasings reportados pelas empresas. A junção da componente cambial com as renegociações de dívidas recentemente anunciadas pode ajudar a reduzir consideravelmente a queima de caixa das companhias aéreas, ajudando ainda mais seus processos de retomada e reestruturação.
Azul (AZUL4)
Azul reportou dados positivos referentes ao mês de maio. Mesmo em um período sazonalmente mais fraco, a Azul conseguiu aumentar sua taxa de ocupação e seus números de demanda. Ainda nos resta saber se a companhia também conseguiu manter seus níveis de tarifa. Lembramos que a partir de abril tivemos o efeito completo da adição dos novos slots em Congonhas, o que distorce as bases de comparação anuais.
A demanda atingiu (RPK) 2,9b (+8,3% a/a e +8,8% m/m). A oferta total de assento (ASK) foi de 3,6b (+5% a/a e +7,4% m/m). Quando olhamos para a taxa de ocupação, observamos um crescimento relevante, finalizando o mês em 79,8% contra 77,3% no mesmo mês do ano passado.
Gol (GOLL4)
Mesmo considerando a sazonalidade, julgamos que os dados de Gol foram neutros. A queda na taxa de ocupação já era esperada, porém, foi relativamente maior que o histórico, sugerindo que a companhia vêm mantendo suas tarifas ainda altas buscando maximizar os efeitos de uma demanda forte, combustível em queda e desoneração de PIS/COFINS.
A demanda atingiu (RPK) 2,7 bilhões, +13,1% a/a e +4,5% m/m. A oferta total de assento (ASK) foi de 3,6 bilhões (+14,9% a/a e +8,5% m/m). A taxa de ocupação foi relativamente menor, finalizando o mês em 76,1% contra 77,3% no mesmo mês do ano passado. Por fim, o volume de carga se cresceu 28,4% em relação a abril, finalizando o mês de abril em 10,4 mil toneladas transportadas. Ressaltamos que a Gol ainda segue abaixo do seu operacional pré-pandemia.