O banco apresentou um lucro líquido de R$ 94 milhões, em linha com nossas estimativas de R$ 95m, representando um aumento de +308,7% a/a, mas uma queda de -24,2% t/t. Após um 4T23 mais forte, impulsionado por cessões de carteira que reduziram as despesas de provisão e um significativo benefício tributário, o desempenho do Banco BMG no 1T24 passou por um processo de normalização devido a fatores sazonais desfavoráveis e uma base comparativa mais desafiadora. Acreditamos que o desempenho do 1T24 demarca uma boa proxy dos próximos trimestres e ancora nossas projeções de R$481m de lucro para 2024 (11,9% de ROE).
A rentabilidade (ROE) do 1T24 ficou apenas em 9,5%, ainda aquém de pares como Agi e Mercantil que entregaram uma rentabilidade em patamares bem mais elevados de 42,4% e 34,7%, respectivamente. Esse cenário indica que ainda há um amplo espaço para a melhora de rentabilidade do banco. Ainda assim, o ROE do 1T24 do BMG representou uma melhora significativa em relação aos 2,3% do 1T23 (+7,2pp a/a).
O principal destaque positivo do trimestre foi a margem financeira, que expandiu +9,1% a/a e +1,3% t/t, totalizando R$ 1,18b. Este crescimento foi impulsionado por uma receita robusta, proveniente dos produtos core de crédito do banco e por um custo de funding mais controlado, mesmo com o aumento da originação de crédito. Além disso, o índice de eficiência melhorou e seguiu em queda em mais um trimestre, situando-se em 56,6%, melhora de -0,5pp t/t e -4,9pp a/a. A melhora consistente é fruto da nova gestão que começou em meados de 2023 e que vem promovendo redução de custos, melhorias de processos e que em 2024 tem o desafio de impulsionar as receitas.
Nos últimos trimestres, o banco tem realizado cessões de carteira do consignado INSS para lidar com o consumo de capital, que foi fortemente impactado pelo crescimento da carteira, baixa lucratividade e altos pagamentos de dividendos (JCP). Atualmente, a folga sobre o capital mínimo requerido não é tão grande, e a gestão de cessão de carteira sem retenção de risco se torna cada vez mais necessária. O banco aumentou suas linhas de instituições cedentes e está incluindo cessões de carteiras mais rentáveis, como as antecipações de FGTS, para mitigar eventuais pressões de capital até que a lucratividade venha ajudar a crescimento orgânico de capital de forma mais significativa e sustentável.
Como resultado, o crescimento da carteira de crédito tem sido limitado, apresentando uma contração de -0,6% a/a no 1T24. Ao longo de 2024, o banco deve retomar a expansão na originação de crédito nas áreas core (cartão consignado, empréstimo consignado, consignado benefícios, FGTS e crédito pessoal) como parte da sua estratégia de crescimento.
Do lado negativo, a provisão para perda de crédito (PDD) expandiu +12,3% t/t, normalizando após o baixo valor do 4T23, que foi beneficiado pela cessão de carteira. Apesar do aumento, a provisão no trimestre foi inferior ao NPL formation e não foi suficiente para evitar o consumo de cobertura, que registrou queda de –8,7 pp t/t e –4 pp a/a, totalizando 99%, devido a uma expansão na inadimplência em +1,2 pp t/t, chegando a 4,7%.
Do lado mais qualitativo, o novo CEO vem implementando melhorias notáveis nos processos internos do banco, com uma agenda de eficiência de custos nos últimos trimestres. Para 2024, acrescentou-se ao plano uma agenda de cross-selling, melhoria na jornada do cliente e crescimento da produção com ganho de market share. Além disso, o CEO tem atraído executivos com experiência no mercado e de instituições maiores, como o Santander. A contratação mais recente de destaque foi Marcelo Picanço, ex-CEO da vertical de seguros da Porto, para liderar todas as iniciativas de seguros do banco.
Para 2024, estimamos um lucro de R$ 481 milhões, resultando em uma expansão de 135% a/a e uma rentabilidade de 11,9% (+6,7 pp a/a). Esperamos que o ano seja beneficiado por um crescimento da receita de juros (+12% a/a) acima do aumento da carteira (+10,4% a/a), além de provisões (+0,6% a/a) e despesas operacionais (+3,6% a/a) controladas.
O resultado apresentado nesse trimestre reitera nossa tese de que o BMG está passando por um significativo processo de turnaround e aos poucos vem entregando melhores resultados. Assim, continuamos com um viés mais otimista para as ações do banco e reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço-alvo de R$ 4,10. As ações continuam a ser negociadas a múltiplos atrativos, com um P/L esperado de 4,1x para 2024, 3,2x para 2025 e um P/VP esperado de 0,5x para 2024. Além disso, estimamos um dividend yield de 12% para 2024.
BMG (BMGB4) | Resultado 1T24: Lucro expande a/a, mas sem tantos benefícios fiscais dessa vez
Reclassificações: Consolidações de cinco controladas
Neste trimestre, o BMG reclassificou sua forma de reportar resultados, consolidando subsidiárias que antes eram reportadas por equivalência patrimonial. O banco passou a consolidar cinco empresas controladas (BMG Seguradora, BMG Seguros, Araújo Fontes, CBFácil e Help Franchising) com o intuito de proporcionar uma melhor visualização e compreensão do desempenho das operações do Grupo Financeiro BMG. As demais controladas continuarão sendo reportadas na linha de equivalência patrimonial.
Nossa análise (números da tabela acima) consideram ainda a visão anterior para compararmos os resultados com seu histórico e nossas estimativas.
DRE Anterior e Reclassificação: Resultado das subsidiárias sai de equivalência patrimonial e passa a compor o resultado consolidado do banco
Carteira de Crédito: Pouco crescimento devido às cessões de carteira
No 1T24, a carteira de crédito atingiu R$24,87b, contraindo levemente em -0,6% a/a, mas crescendo +4,4% t/t. A expansão trimestral está relacionada, em parte, com a base comparativa fraca do 4T23, que foi marcado por uma cessão de carteira no valor de R$ 384m (1,5% da carteira total). Caso o evento não tivesse sido realizado no trimestre anterior, o crescimento da carteira seria de +2,7% t/t (1,7pp menor que o apresentado). Já a leve queda anual foi impactada pela redução na carteira de empréstimo consignado (-35,5% a/a), devido as cessões no consignado INSS, e queda de -11,8% a/a na carteira de atacado.
O trimestre também apresentou expansão na originação crédito das linhas do consignado em 27% t/t, totalizando R$1,73b, com cartão consignado crescendo +3,75% t/t e empréstimo consignado +55% t/t, dando uma pausa na sequência de quedas apresentadas nos últimos trimestres. A estratégia da empresa para os próximos trimestres é continuar aumentando a originação nessas linhas, por isso, esperamos que o crescimento da carteira acelere, chegando a uma expansão de +10,4% a/a ao final de 2024.
Receita de juros (NII): Crescendo mais que a carteira de crédito
No 1T24, a receita de juros (NII) totalizou R$ 1,18b, aumento de 1,3% t/t e de 9,1% a/a. O aumento esteve relacionado principalmente pelas receitas de operação de crédito (+1,4% t/t e +4,9% a/a), beneficiadas pelo crescimento da carteira do cartão benefício e antecipação do FGTS; e crescimento das receitas de TVM (-0,3% t/t e +13,5% a/a), devido ao montante elevado de títulos públicos mantidos pela empresa. Além disso, houve uma redução do custo de captação (-0,3% t/t e -0,4% a/a), impactado pelo menor prêmio de risco das novas captações.
Esperamos continuidade na expansão da linha em 2024 (+12% a/a), impulsionado em parte pelas receitas de cessões de carteira e melhor custo de funding com a queda da Selic.
Inadimplência e Provisão: Piora t/t com consumo de cobertura
As provisões para devedores duvidosos (PDD) ficaram em R$ 374 milhões, um aumento substancial de +12,3% t/t, refletindo um processo de normalização em relação ao 4T23, que se beneficiou de cessões de carteira. No entanto, observamos uma forte queda de -18,5% a/a, resultado, em nossa visão, do processo de limpeza de carteira que o banco vem realizando desde a posse do novo CEO, Felix Cardamone.
Contudo, as provisões ficaram abaixo do NPL formation. Com isso, o índice de cobertura teve uma forte contração de -8,7pp t/t, despencando para 99%. No entanto, olhando para o 1T23, a cobertura apresentou melhora de +4,0pp a/a.
A taxa de inadimplência acima de 90 dias (NPL 90+) alcançou 4,7%, aumento considerável de +1,2pp t/t e queda de -0,6pp a/a. O aumento em relação ao 4T23 deve-se a cessão de carteira realizada no trimestre anterior. Já a melhora anual, foi beneficiada especialmente pelo segmento de Varejo Pessoa Física (crédito pessoal, cartão de crédito aberto e antecipação FGTS) que contraiu -7,4pp a/a.
Despesas: Continuidade da melhora do índice de eficiência
As despesas (ex-receitas operacionais) ficaram em R$ 541m, apresentando um aumento de +4,6% t/t e queda de -1,8% a/a. O destaque positivo ficou com as despesas administrativas que contraíram -1,2% t/t e -11,4% a/a, totalizando R$ 256m e demostrando que a nova administração continua fazendo um bom trabalho em custos. Na comparação trimestral, as despesas administrativas foram beneficiadas por menores gastos com serviços técnicos especializados e serviços de terceiros.
As despesas de pessoal aumentaram +3,7% t/t e +4,9% a/a. Apesar do aumento, houve um redimensionamento dos times, chegando a 1.963 colaboradores (-3,6% t/t e –6,9% a/a).
As outras despesas/receitas operacionais, que inclui principalmente as provisões cíveis, aumentaram +12,8% t/t e +0,7% a/a. O banco tem adotado medidas para mitigar a entrada de novas ações cíveis e aumentar a taxa de êxito nas já existentes, que inclui: adoção de inteligência artificial e automações para monitoramento de processos; termo de consentimento; formalização por vídeo; entre outras.
Por fim, o índice de eficiência ficou em 56,6%, apresentando uma melhora de -0,5pp t/t e -4,9pp a/a. A melhora é fruto da gestão de custos que o BMG vem realizando e do aumento das receitas.
Índice de Eficiência (cost to income): Melhoras consistentes após a nova gestão começar em meados de 2023
Lucro antes de Imposto: Piora sequencial
O lucro antes de imposto do BMG ficou em R$ 73m no 1T24, uma queda significativa em relação aos R$ 106m reportados no 4T23. A queda se deu pelo: 1) maior nível de provisão no trimestre; 2) menor patamar de crédito recuperado; 3) menos dias úteis; 4) pior sazonalidade nos primeiros trimestres; 4) leve avanço t/t das despesas operacionais. No entanto, os R$ 73m estão bem acima do valor negativo de -R$ 49m reportados no 1T23.
Imposto: Créditos tributários continuam a ajudar o lucro
O imposto continuou contribuindo positivamente para a geração de lucro neste trimestre em R$ 31m. Acreditamos que a linha foi beneficiada pelo pagamento de JCP e uso de créditos tributários.
Capital e Dividendos: Queda de capital principal a despeito do baixo crescimento
O banco continuou consumindo capital a despeito do baixo crescimento de carteira de crédito. O capital principal atingiu 9,3%, redução de -0,1 t/t e -0,7pp a/a. O capital nível 1 alcançou 9,7%, refletindo uma queda de -0,1pp t/t e -0,8pp a/a. Já o índice de Basiléia apresentou uma queda de -0,1pp t/t e aumento de +0,4pp a/a, ficando em 13,2%.
Do lado um pouco mais positivo, o Patrimônio de Referência vem sendo impactado pela marcação a mercado de títulos públicos, com um impacto de aproximadamente 1,0 pp no índice de Basiléia. Levando em conta o fechamento do 1T24, cerca de 53% do accrual dessa marcação deve ocorrer ao longo de 2024, aliviando o Banrisul aproximadamente 0,5pp. Apesar do accrual estar sendo feito, o capital do banco vem sendo consumido.
O banco deve seguir pagando o máximo de JCP possível para dedutibilidade do imposto mesmo que consuma capital. Se por um lado isso pode significar um dividend yield robusto. Em 2023, o banco pagou R$219m em JCP, contabilizando um payout de 106%. Dado que o patrimônio do banco ficou estável em 2023, se considerarmos um JCP de aproximadamente o mesmo valor, o payout estimado seria de 46%. O dividend yield implícito, nesse cenário, seria de 11% aproximadamente.