O BMG apresentou mais um trimestre de avanços positivos no 2T24, com crescimento de lucro, maior rentabilidade, fortalecimento do capital e um balanço mais robusto. No entanto, essas melhorias foram parcialmente impulsionadas pela cessão significativa de uma carteira de alta qualidade (FGTS), resultando em contração da carteira de crédito. Embora o ritmo de evolução possa ser mais lento do que o desejado e as pressões regulatórias continuem a comprimir os spreads nos produtos core de consignado, seguimos confiantes de que a nova gestão está direcionando o banco rumo a um crescimento de rentabilidade mais sustentável.
O BMG registrou um lucro líquido de R$ 105 milhões no trimestre, alta de 11,7% t/t, revertendo o prejuízo de -R$ 14 milhões no mesmo período do ano passado, e superando nossas expectativas em 4%. O ROE atingiu 10,3%, ainda abaixo do ideal, mas com melhora de +0,9 pp t/t e +11,8 pp a/a. O capital principal aumentou +0,6 pp t/t, alcançando 9,9%. A melhora mais sensível foi no lucro antes de impostos que saltou 20% t/t e reverteu o prejuízo operacional de -R$ 55 milhões.
Do lado da qualidade dos ativos, a inadimplência apresentou melhora, apesar da venda da carteira de alta qualidade, o que proporcionou uma dinâmica mais favorável no custo de crédito de -R$ 343 milhões com queda de -1,7% t/t e -15,1% a/a e possibilitou o aumento da cobertura.
Do lado menos positivo, o banco realizou a cessão de R$ 1,2 bilhão de sua carteira prime de antecipação do FGTS, sem retenção de riscos e benefícios. Apesar disso, essa decisão contribuiu para o fortalecimento do capital e criou espaço para reforçar o balanço. Grande parte do ganho de receita dessa operação foi compensada por: (i) menor receita de crédito da carteira cedida no trimestre e (ii) reforço do balanço, com provisões para comissões (R$ 30 milhões) e para uma disputa tributária (R$ 60 milhões). Para o 3T24, esperamos que os ganhos com a venda de sua participação na empresa de adquirência Granito, no valor de R$ 48 milhões, possam ser utilizados para reforçar ainda mais o capital, aumentando a capacidade do banco de reter carteira e, consequentemente, crescer de forma mais rentável nos próximos trimestres.
Apesar da melhora nos resultados e das ações do BMG estarem sendo negociadas a múltiplos atraentes, a baixa rentabilidade ainda justifica valuations mais baixos. Por ora, reiteramos nossa recomendação de MANTER, com um preço-alvo de R$ 4,00, o que representa um upside de 9,6%. De acordo com nossas estimativas, o BMG está sendo negociado a 5,2x P/L para 2024e, 4,0x P/L para 2025e e 0,5x P/VP para 2024e, com um dividend yield estimado de 10,4% para 2024.
BMG (BMGB4) | Resultado 2T24: Lucro operacional segue em ritmo de melhora
Venda da Adquirente Granito
Além de ser deficitária, a Granito se tornou desalinhada com a nova estratégia do banco, que sob a nova gestão, passou a concentrar-se no core business de crédito consignado. A estratégia de manter uma adquirente para fomentar o crescimento da carteira de pequenas e médias empresas perdeu relevância.
No 2T24, o BMG concluiu a venda de 50% do capital social da Granito, uma empresa de adquirência com 150 mil clientes e um volume transacionado (TPV) anual de R$ 30 bilhões, para o Banco Inter por R$ 110 milhões. Com um valor patrimonial contábil de R$ 19,6 milhões, o ganho de capital antes de impostos é estimado em aproximadamente R$ 90,4 milhões. Esse ganho será refletido no lucro do 3T24, impactando os resultados do trimestre.
Carteira de Crédito: Venda de Carteira Derruba Crescimento
A carteira de crédito ficou em R$ 24,3 bilhões no 2T24, uma redução de -2,4% t/t e -1,5% a/a. Essa queda é principalmente devido à cessão de R$ 1,2 bilhão da carteira de antecipação do FGTS, realizada sem retenção de riscos e benefícios.
Além da venda da carteira de FGTS, o banco manteve sua estratégia de ceder parte da originação da carteira de crédito consignado. Neste trimestre, o BMG originou R$ 725 milhões em crédito consignado e cedeu R$ 381 milhões. Embora acreditemos que a venda da carteira de FGTS seja uma medida pontual, a estratégia de venda parcial do consignado deve continuar a ser executada nos próximos trimestres.
O valor total da carteira vendida, que inclui tanto o FGTS quanto o consignado, representa 35% do volume de crédito originado no trimestre (R$ 4,5 bilhões).
Por outro lado, houve crescimento, mesmo que moderado, nas carteiras de crédito consignado (+1,5% t/t e +3,7% a/a) e crédito na conta (+5,4% t/t e +2,2% a/a).
Carteira de Crédito 2T24: Carteira total segue caindo devido a venda de carteira Varejo PF
Receita de juros (NII): Crescendo Mais que Carteira, Mas Desacelerando
A margem financeira totalizou R$ 1,31 bilhões no 2T24, apresentando um aumento de +6,2% a/a e +0,7% t/t. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pela elevação das receitas de Títulos e Valores Mobiliários (+19,8% a/a e +1,1% t/t), beneficiadas pelo elevado volume de títulos públicos. No entanto, a manutenção das taxas de juros do consignado em níveis baixos limitou parte da expansão das receitas, uma vez que a carteira de consignado do INSS representa 56% da carteira de crédito total.
Na visão gerencial, estimamos que, se a cessão de R$ 1,2 bilhões da carteira do FGTS não tivesse ocorrido no trimestre, o NII teria registrado um crescimento de +11,3% a/a e +8,7% t/t, considerando uma receita adicional de R$ 149 milhões proveniente da carteira vendida.
Inadimplência e Provisão: Melhora Mesmo com Venda de Carteira
As provisões para devedores duvidosos líquidas de recuperação totalizaram R$ 343 milhões, com uma melhoria de -1,8% t/t e -15,0% a/a. Acreditamos que essa melhora é resultado do processo de limpeza de carteira e da melhoria nos processos de recuperação de crédito que o banco vem implementando desde a posse do novo CEO.
Com a provisão para devedores duvidosos bruta de R$ 394 milhões, superior à formação de NPL (R$ 361 milhões), o índice de cobertura aumentou em +4,9 pp t/t e +8,6 pp a/a, atingindo 103,9%.
A taxa de inadimplência acima de 90 dias (NPL 90+) alcançou 4,6%, apresentando uma melhora de -0,1 pp t/t e -0,9 pp a/a. Essa melhoria foi impulsionada pela redução da inadimplência nas carteiras dos EUA (-1,2 pp t/t) e no segmento atacado (-1,4 pp t/t). No entanto, a inadimplência da carteira de pessoa física (PF) subiu para 10,5%, um aumento significativo de +2,9 pp t/t, em função da cessão da carteira ativa de FGTS em dia (rating A).
Comissões: Reforço no trimestre leva a queda t/t
No 2T24, as despesas com comissões cresceram +5,1% a/a, mas apresentaram uma queda de -7,0% t/t, totalizando R$ 227 milhões. Essa queda trimestral deve-se ao reforço de R$ 30 milhões na conta de comissões, proveniente das receitas da carteira vendida que não foram reconhecidas na visão gerencial.
Despesas: Sob Controle
As despesas operacionais totalizaram R$ 598 milhões, com um aumento de apenas +1,0% t/t, mas uma significativa melhoria de -11,4% a/a. Esse desempenho é atribuído principalmente à linha de “outras receitas/despesas operacionais”, que inclui, entre outros, as provisões cíveis. Essas provisões apresentaram uma variação de +8,6% t/t e -17,1% a/a.
Por fim, o índice de eficiência ficou em 54,3%, apresentando uma leve piora de +0,6 pp t/t, mas uma melhoria significativa de -8,3 pp a/a. A melhoria anual é resultado da gestão de custos realizada pelo BMG e do aumento das receitas.
Lucro antes de Imposto: Melhora Relevante
O lucro antes de impostos do BMG atingiu R$ 148 milhões no 2T24, registrando um aumento significativo de +21,3% t/t e revertendo o resultado negativo de R$ -54 milhões no 2T23. Essa forte elevação foi impulsionada por (i) crescimento das receitas de operações de crédito e títulos e valores mobiliários (TVM), (ii) melhora na inadimplência e provisões para crédito e (iii) maior controle de despesas.
Imposto: Ainda contribuindo positivamente
O imposto continuou a contribuir positivamente para a geração de lucro neste trimestre, totalizando R$ 15 milhões. Acreditamos que esse resultado foi beneficiado pelo pagamento de juros sobre capital próprio (JCP) e pelo uso de créditos tributários.
Capital: Melhora de Capital abre Espaço para Crescimento
O capital principal atingiu 9,9%, com um aumento de +0,6 pp t/t e +0,5 pp a/a. O capital de Nível 1 alcançou 10,3%, refletindo um crescimento de +0,6 pp t/t e +0,5 pp a/a. O índice de Basileia apresentou uma melhoria de +0,7 pp t/t e +1,4 pp a/a, atingindo 13,9%.
O Patrimônio de Referência está sendo impactado pela marcação a mercado de títulos públicos, com um efeito de aproximadamente 0,8 pp no índice de Basileia. Cerca de 40% do ajuste decorrente dessa marcação será revertido ao longo de 2024, à medida que os títulos vão maturando, considerando o fechamento do 2T24.
No trimestre, o Patrimônio de Referência apresentou uma melhora de +4,8% t/t e +18,1% a/a, enquanto os Ativos Ponderados pelo Risco (RWA) contraíram -0,2% t/t e aumentaram +6,0% a/a. Além disso, a empresa declarou R$ 49 milhões em juros sobre capital próprio (JCP) para o trimestre, que serão pagos em 15 de agosto.