Com maior lucro do setor no trimestre, o Banco do Brasil fechou o 1T23 com um lucro líquido recorrente de R$ 8,55b, ampliando em 29% a/a e alcançando um ROE de 20,5% — rentabilidade um pouco abaixo dos 22,5% de ROE postados no 4T22 por conta de alguns itens não-recorrentes ajudando o resultado do tri passado, como bonificação de bandeira de cartões e reversão de provisões de folhas de pagamento. O lucro veio em linha com nossas estimativas de R$ 8,49b e levemente acima do mercado em 5%.
O trimestre foi marcado por um forte crescimento da margem financeira (NII) de 38% a/a, bem acima do topo do guidance. O resultado das subsidiarias e coligadas 57% maior a/a também ajudaram o resultado do trimestre. A carteira de crédito expandida cresceu 17,9%, acima do guidance de 2023 de 8% a 12%, com destaque para a carteira de agronegócio que continua crescendo em ritmo acelerado de 26,7% a/a, mas que deve desacelerar até o final do ano. Do lado um pouco mais negativo, as provisões de crédito ampliadas de R$ 5,9b continuam em patamares elevados e o banco deve terminar o ano na faixa mais alta do guidance de R$ 19b – 23b. O índice de cobertura caiu substancialmente no trimestre, mas quase metade da queda pode ser explicada por um reperfilamento de uma dívida bancária 100% provisionada de R$ 2,55b em uma debenture (operação explicada com mais detalhes na seção de inadimplência e provisão).
Continuamos otimistas com os fundamentos do BB. A sequência de trimestres positivos deve continuar até o fim do ano. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço alvo de R$ 55,70. Negociando a 3,52x P/L 2023 e 0,69x P/L, o banco continua com grande desconto de seus pares privados.
Carteira de Crédito: Mais rápido que o guidance
A carteira de crédito registrou um forte saldo de R$ 915,2b (+16,1% a/a e + 2,7% t/t) com crescimento acima do topo do guidance em todas as linhas da carteira.
A carteira de pessoa física (+11,5% a/a e 3,6% t/t) registrou alta devido ao crédito consignado, financiamento de veículos, empréstimo pessoal e CDC salário. Além disso, a carteira de crédito PJ registrou alta expressiva de 12,2% a/a e 0,9% t/t, mas o destaque foi a carteira de agronegócio com crescimento excelente de +24,6% a/a e +3,9% t/t, impulsionado pelas operações de custeio e de investimentos.
Margem Financeira (NII): Bem acima da expansão de credito
A receita de margem financeira atingiu R$ 21,2b, mostrando crescimento robusto de +38% a/a (-1,4% t/t), superando o topo do guidance em 17 pp.
O resultado foi impulsionado pelo NII Clientes (+35,1% a/a e +4,6% t/t), com o crescimento trimestral puxado pelo reprecificamento da carteira de crédito. Já o NII Mercado (tesouraria) apresentou queda de 7,8% t/t devido ao impacto das aplicações interfinanceiras de liquidez com menor receita, porém ainda com forte contribuição para a margem e alta expressiva de 72% a/a. O custo de captação (funding) registrou aumento de +52,2% a/a e +3,1% t/t impactado pela alta da Selic e dos saldos médios das captações (depósitos a prazo, LCA e depósitos de poupança).
Serviços: Crescendo a despeito do macro mais delicado
A receita de prestação de serviços ficou em R$ 8,1b, crescendo +8,1% a/a, influenciada pelas linhas de previdência e capitalização, comissão de seguros, rendas de cartões e administração de fundos. A queda trimestral de -3,6% t/t se deu pelo efeito sazonal do trimestre.
Provisão e Inadimplência: O ponto mais negativo do tri
As provisões atingiram o total de R$ 5,9b, uma alta de +112% a/a, mas com queda -10% t/t, por conta do provisionamento de 50% da exposição a Americanas no 4T22. O índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 2,62%, um leve aumento de 0,11pp t/t, mas ainda abaixo do mercado, reflexo do mix mais conservador da carteira de crédito. A inadimplência de pessoa jurídica pirou de 1,83% no 4T22 para 2,13% no 1T23. Do lado mais positivo, o inadimplência de pessoa física caiu de 5,44% no 4T22 para 5,34% no 1T23.
O trimestre foi marcado por um cliente de grandes empresas do setor agroindustrial, que teve processo de recuperação judicial homologado em 2019. Esse cliente era adimplente com essa dívida reestruturada em 2019 no montante de R$ 2,55b, mas que por conta de uma mudança de controle, teve a liquidação dessa operação de crédito, simultaneamente à emissão de debêntures no mesmo montante. Como o BB já havia provisionado 100% desse crédito, o banco reverteu (realizou uma recomposição da linha de risco de crédito) e constituiu uma perda por imparidade em 100%. O efeito no trimestre foi neutro.
No entanto, o índice de cobertura sofreu com essa operação. A cobertura para crédito duvidoso (acima de 90 dias) ficou em 202,7%, queda de 24,4pp t/t, impactado pelo reperfilamento da dívida do cliente de grandes empresas. Sem este efeito, o índice teria sido de 213,3%.
Despesas Administrativas: sob controle
As despesas administrativas ficaram em R$ 13,1b, queda de -1,5% t/t devido a diminuição da linha de outras despesas administrativas (-2,1%), influenciada pelo efeito sazonal de redução nas linhas de publicidade, relações públicas e doações filantrópicas. No a/a aumentou em 7,6% devido ao reajuste salarial ocorrido em set/22.
O guidance de despesas administrativas é de crescimento entre 7% a 11% para 2023. Com as iniciativas de investimento em tecnologia, acreditamos que as despesas acelerem um pouco e termine na faixa do guidance.
Capital: Sólido
O índice de capital principal ficou estável t/t em sólidos 12,01%, enquanto o Índice de Basileia chegou a 16,19% (-0,46pp t/t). Já o Índice de Capital Nível I ficou em 14,60% (-0,14pp t/t).
Dividendo: Interessante
Com um payout de 40%, projetamos um dividend yield de 11,4% para 2023.
Após a divulgação, o banco anunciou o pagamento de dividendos e JCP complementar, somando aproximadamente R$ 0,78/ação (1,75% de dividend yield). Os proventos serão pagos dia 12/06/2023 e terá como base a posição acionária do dia 01/06/2023.