O Banco do Brasil registrou um lucro de R$ 9,3b no 1T24, com queda sazonal de -1,5% t/t e crescimento de +8,8% a/a, ficando em linha com nossas estimativas e 2% acima do consenso de mercado. A rentabilidade (ROE) continuou em patamares atrativos em 21% (-0,85pp t/t e +0,63pp a/a), bem acima de pares privados como Bradesco e Santander.
Apesar das eventuais preocupações com uma normalização do desempenho do Banco Patagonia e uma potencial deterioração na inadimplência do agro, acreditamos que o operacional do Banco do Brasil continua resiliente com sólida e consistente geração de lucro. Os múltiplos do banco continuam em patamares bastante atrativos, com um P/L de apenas 4,1x para 2024e e um P/VP de 0,8x para o mesmo período, além de um generoso dividend yield de 9,8%. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço-alvo de R$ 34.
A carteira de crédito segue em um ritmo de expansão atrativo (+9,5% a/a), ficando acima dos demais incumbentes. Destaque positivo para o agronegócio que cresceu +12,7% a/a e empresas +10,7% a/a.
A receita líquida de juros (NII) do Banco do Brasil teve um aumento de +21,6% a/a, principalmente devido ao crescimento das receitas de crédito e do resultado de tesouraria. No entanto, o resultado da tesouraria foi continuou sendo impactado pela performance volátil e ainda positiva do Banco Patagonia, que, apesar de ter registrado um aumento significativo de +43,7% a/a em sua margem financeira, sofreu uma queda de -41,9% t/t. Esse desempenho reflete a instabilidade econômica da Argentina e continuam levantar dúvidas sobre a sustentabilidade desses resultados elevados.
O trimestre foi beneficiado em parte pela redução no custo de crédito, puxado pela linha de perdas por imparidade que apresentou uma melhora de 83,9% t/t e 93,9% a/a. No 4T23, a linha de perdas por imparidade foi afetada negativamente pelo agravamento do risco no segmento Empresas (reforço de balanço). Já no 1T23, a linha de perdas por imparidade foi agravada por um cliente de grandes empresas do setor agroindustrial, que teve processo de recuperação judicial homologado em 2019. Esse cliente era adimplente com essa dívida reestruturada em 2019 no montante de R$ 2,55b, mas que por conta de uma mudança de controle, teve a liquidação dessa operação de crédito, simultaneamente à emissão de debêntures no mesmo montante. Como o BB já havia provisionado 100% desse crédito, o banco reverteu (realizou uma recomposição da linha de risco de crédito) e constituiu uma perda por imparidade em 100%. O efeito no trimestre foi neutro.
A inadimplência consolidada de 2,90% ficou praticamente estável em relação ao 4T23. No entanto, a inadimplência no segmento de agronegócio que permaneceu baixa por muito tempo (em torno de 0,6%), vem crescendo nos últimos trimestres, alcançando 1,19% no 1T24, devido principalmente a efeitos climáticos advindos ainda do El Nino e questões conjunturais que afetaram o fluxo de caixa do produtor rural, que atuam principalmente na cultura de soja. Com a queda de preço de vários grãos por conta de supersafra nos últimos trimestres, alguns produtores resolveram estocar com a esperança de vender eventualmente quando o preço melhorar. No entanto, o banco acredita que esses produtores em atraso terão que vender esses grãos e acertar suas dívidas para poderem tomar novas linhas de crédito para financiar a safra de meio de ano.
Por fim, nesse trimestre o banco decidiu tratar os reforços de balanço como não-recorrente nesse trimestre, diferentemente do 4T23. O banco obteve um ganho extraordinário referente a uma regularização tributária e optou pelo reforço prudencial de balanço com a constituição de uma imparidade de um caso específico praticamente compensando o efeito do ganho. Ambos tratados como não recorrentes.
- Autorregularização incentivada de tributos: Ganho líquido de R$ 894m (ganho bruto R$ 949m – R$ 55m efeito fiscal)
- Imparidade de TVM: Perda liquida de R$ 889m (perda bruta de R$ 1717 – R$ 828m efeito fiscal)
Banco do Brasil (BBAS3) | Resultado 1T24: Menor provisão líquida impulsiona o lucro
Guidance 2024 vs. realizado no 1T24: Rumo ao guidance de lucro de R$ 37b – 40bNo geral, quase todas as linhas vieram dentro das estimativas do guidance. O custo de crédito, que anualizado ficaria em R$ 34b, acima da faixa informada no guidance (R$ 27 bilhões – R$ 30 bilhões). No entanto, temos uma perspectiva para o ano de redução gradual da provisão, convergindo para a faixa do guidance. O crescimento da carteira de crédito estipulado no guidance refere-se à visão ampliada, diferente do que acompanhamos (visão Bacen)
Carteira de Crédito: Crescimento acima do mercado
A carteira de crédito (visão Bacen) alcançou R$ 1t, com um crescimento de +2,8% t/t e +9,5% a/a, apresentando uma expansão bem acima dos outros incumbentes (Itaú, Santander e Bradesco). Destaque positivo para as carteiras do Agronegócio que cresceu +12,7% a/a, e a carteira de Empresas, subindo +10,7% a/a e Consignado em pessoas físicas (+10,3% a/a).
O crescimento da carteira agro esteja relacionado com o Plano Safra. Durante os primeiros nove meses do Plano Safra 2023/2024 (jul/23 a mar/24), o Banco do Brasil liberou R$ 160,7 bilhões em créditos ao agronegócio, um aumento de +8,4% em comparação ao mesmo período da temporada anterior. O plano, anunciado em julho de 2023, prevê um desembolso total de R$ 240 bilhões até junho de 2024.
Receita Líquida de Juros (NII): Forte expansão a/a
No 1T24, a Receita Líquida de Juros (NII) atingiu R$ 25,7b, ficando estável t/t (-0,1% t/t) e forte expansão de +21,6% a/a, crescendo bem acima da carteira de crédito (+9,5% a/a).
Visão contábil (tabela):
As receitas financeiras contraíram -4,6% t/t, mas expandiram +18,6% a/a. O desempenho foi puxado pelas receitas de tesouraria (-10,4% t/t e +18,6% a/a) e, na comparação anual, também pelas operações de crédito (+6,2% a/a) devido ao maior volume da carteira.
As despesas financeiras contraíram -9,7% t/t e -3,3% a/a, beneficiando o NII. A melhora foi impulsionada pela queda das despesas de captação comercial (-11,5% t/t e -4,4% a/a).
Visão gerencial:
A Margem com Clientes cresceu +0,6% t/t e +4,1% a/a, beneficiada no trimestre pelo maior saldo médio, já que o spread com cliente contraiu -0,31pp t/t e -0,62pp a/a, ficando em 8,18%.
A Margem com Mercado caiu -2,7% t/t, mas expandiu +223,6% a/a. A queda trimestral se deu pelo desempenho da margem financeira do Banco Patagonia, impactada pelo cenário macroeconômico da Argentina e pela maxidesvalorização ocorrida em dez/23. A comparação anual, também foi afetada por efeitos do Patagonia.
Serviços: Retração t/t devido à sazonalidade
As receitas de prestação de serviços atingiram R$ 8,3b no 1T24, caindo sazonalmente em -4,6% t/t mas crescendo apenas +2,6% a/a, abaixo do guidance. O trimestre foi impactado negativamente pela sazonalidade, puxado pelas linhas de Renda de Cartões (-18,9% t/t e -22% a/a) e conta corrente (-6,5% t/t e -1,3% a/a). Já na comparação anual, o crescimento foi impulsionado pela expansão nas linhas de Comissões de Seguros, Previdência e Capitalização (+5,8% t/t e +11,5% a/a), Administração de Fundos (+5,5% t/t e +5,8% a/a) e consórcios (+2,0% t/t e +20,3% a/a).
Por fim, acreditamos que as linhas de receita possam ter sido impactadas negativamente pelo fato do 1T24 ter tido 2 dias úteis a menos que no 1T23.
Custo de crédito e Inadimplência: Reversão de provisão dá fôlego
O custo de crédito ficou em R$ 8,5b (-14,4% t/t e +45,9% a/a). No trimestre, o custo de crédito foi impactado positivamente pela redução da linha de perdas por imparidade (-83,9% t/t e -93,9% a/a). A queda substancial de imparidade foi causada por conta dos comparativos do 4T23 e 1T23 estarem inflados.
No 4T23, a linha de perdas por imparidade foi afetada negativamente pelo agravamento do risco no segmento Empresas (reforço de balanço). Já no 1T23, a linha de perdas por imparidade foi agravada por um cliente de grandes empresas do setor agroindustrial, que teve processo de recuperação judicial homologado em 2019. Esse cliente era adimplente com essa dívida reestruturada em 2019 no montante de R$ 2,55b, mas que por conta de uma mudança de controle, teve a liquidação dessa operação de crédito, simultaneamente à emissão de debêntures no mesmo montante.
Como o BB já havia provisionado 100% desse crédito, o banco reverteu (realizou uma recomposição da linha de risco de crédito) e constituiu uma perda por imparidade em 100%. O efeito no trimestre foi neutro.
Já o crescimento anual se dá por conta do risco de crédito (+141% a/a), que reflete o impacto residual da mencionada reversão de provisão no 1T23 e um aumento no perfil de risco nos segmentos de Agronegócio e Empresarial.
Nesse contexto, durante o trimestre, houve um aumento significativo de +86,1% a/a no saldo de provisão do segmento Agro, que contrasta com um crescimento de +12,7% a/a na carteira Agro. Paralelamente, a inadimplência do agro aumentou em +0,6 pp a/a para 1,19%. Esse aumento na inadimplência pode ser parcialmente explicado pelos baixos preços internacionais da soja, que levam os produtores a estocarem o produto, adiando as vendas e, consequentemente, o pagamento de dívidas. Espera-se que essa situação se estabilize no segundo semestre de 2024, quando os produtores provavelmente venderão seus estoques de grãos para buscar novos créditos.
No segmento Empresas, observou-se um aumento de +19% a/a no saldo de provisões para devedores duvidosos (PDD), frente a um crescimento de +10,7% a/a na carteira Empresarial. Além disso, a inadimplência neste segmento cresceu +1,06 pp a/a, alcançando 3,19%.
O índice de inadimplência total acima de 90 dias (NPL 90+) ficou estável t/t em 2,9% (-0,02pp t/t), mas com aumento de +0,28pp a/a. No entanto, a inadimplência do banco continua abaixo do sistema financeiro (3,2%).
No trimestre, o BB consumiu levemente o índice de cobertura, com o indicador chegando em 196,0% (-0,7pp t/t). Já o índice médio do setor bancário aumentou +5,8pp t/t para 190,6%. Na comparação anual, a cobertura do banco foi consumida em -6,7pp.
Despesas Administrativas e Outras Despesas/Receitas: Sob controle
As despesas administrativas totais atingiram R$ 13,7b (-5,2% t/t e +4,5% a/a), abaixo do guidance. O bom desempenho foi puxado principalmente pelas outras despesas administrativas, que contraíram -8,0% t/t e expandiram apenas +3,6% a/a.
Do lado negativo, a linha de “outras receitas/despesas” ficou em -R$ 1b vs -R$ 135m no 4T23 e -R$ 154m no 1T23. No 4T23, houve impacto do resgate do fundo garantidor (FGO) que reduziu a linha de outras despesas.
Capital: Piora marginal
No 1T24, o capital principal piorou 0,22 pp t/t, atingindo 11,90%. O índice foi impactado negativamente por questões atuariais, marcação a mercado e variação cambial, além de ajustes prudenciais e RWA. O Índice de Basileia atingiu 15,13% (-0,34pp t/t e -1,06pp a/a), e o índice de capital nível I alcançou 13,88% (-0,03 pp t/t e -0,72pp a/a).