Em mais um sólido trimestre, o Banco do Brasil reportou um lucro de R$ 9,5 bilhões no 2T24, com um crescimento de +2,2% t/t e +8,2% a/a, mantendo uma sólida rentabilidade de 21,1%. O lucro do trimestre ficou praticamente em linha com nossas estimativas (+1,4%) e com o consenso de mercado (+2,7% a/a). Com um portfólio de produtos mais defensivo e balanceado, o banco soube atravessar de forma lucrativa esse ciclo de crédito, posicionando seu ROE bem acima de concorrentes privados como Bradesco e Santander. Nesse trimestre, o banco alterou 2 itens do guidance, mantendo a expectativa de lucro para 2024, que no meio da faixa indicativa totaliza R$ 38,5b, implicando em um crescimento de +8,3% a/a em 2024.
Para o segundo semestre, esperamos uma dinâmica similar, mas com a melhor sazonalidade de final de ano impulsionando o lucro do banco em direção ao guidance. Talvez a maior dúvida permaneça sendo o custo de crédito, que está vindo maior (pior) do que o esperado, forçando o banco a ajustar suas projeções. Por outro lado, os fortes resultados de sua controlada na Argentina, o Banco Patagonia, ajudaram o BB a revisar para cima o guidance de Margem Financeira (NII), neutralizando o efeito da piora no custo de crédito.
No trimestre, a receita líquida de juros (NII) apresentou uma queda em relação ao trimestre anterior, refletindo um desempenho mais fraco do Banco Patagonia em comparação com o resultado excepcional do 1T24. No entanto, a evolução anual do NII permanece positiva, com um crescimento de +11,6% a/a, alinhado com a expansão da carteira de crédito (+11,2% a/a). Adicionalmente, o custo de crédito mostrou uma melhoria trimestral significativa (-8,6% t/t), impulsionada principalmente pelos sólidos dados de recuperação de crédito, resultado do esforço comercial do Banco do Brasil.
Do lado mais negativo, a inadimplência apresentou um aumento de 0,1pp t/t, chegando a 3,0%, resultando num consumo de 4,8 pp t/t do índice de cobertura que terminou o trimestre em 191%. No entanto, acreditamos que a inadimplência deve melhorar para os próximos trimestres com o lançamento do plano safra, fazendo com que os produtores em atrasos fiquem em dia para aproveitar o novo ciclo de crédito.
Acreditamos que o Banco do Brasil permanece com um valuation atraente, sendo negociado abaixo de seu valor patrimonial e com um ROE superior ao seu custo de capital. As ações estão sendo cotadas a múltiplos descontados em relação aos seus pares, com um P/L de 4,0x para 2024e e 3,7x para 2025e, e um P/VP de 0,8x para 2024e. Apesar dos múltiplos baixos, o banco mantém um desempenho operacional robusto, comparável ou superior ao de seus concorrentes. Adicionalmente, o banco oferece um dividend yield generoso estimado em 10% para 2024. Sendo assim, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com um preço-alvo de R$ 34,00.
Banco do Brasil (BBAS3) | Resultado 2T24: ROE resiliente em 21%
Guidance: Revisões Feitas, Mas Lucro Mantido
Neste trimestre, o Banco do Brasil revisou algumas de suas projeções de guidance.
Do lado positivo, as expectativas de crescimento da margem financeira bruta (NII) foram ajustadas de um crescimento de 7% a 11% para 10% a 13%.
Do lado detrator do lucro, o guidance de custo de crédito (PCLD Ampliada) foi alterada, passando de uma faixa de R$ 27b a R$ 30b para R$ 31b a R$ 34b.
Apesar dessas revisões, a estimativa de lucro do banco permanece inalterada, com a projeção ainda situada entre R$ 37b e R$ 40b.
Guidance 2024: Mudanças, mas com lucro reiterado
Carteira de Crédito: Crescimento Superior ao dos Concorrentes
No 2T24, a carteira de crédito do Banco do Brasil (visão Bacen) atingiu R$ 1,02 trilhões, com um sólido crescimento de +2,2% t/t e +11,2% a/a. O desempenho superou a expansão dos principais concorrentes, como Itaú, Santander e Bradesco. Entre os destaques, a carteira de Agronegócio apresentou um bom crescimento de +14,9% a/a, enquanto a carteira de Empresas cresceu +10,9% a/a. O crédito consignado para pessoas físicas também teve um desempenho robusto, avançando +10,6% a/a.
Esperamos que a carteira Rural apresente uma leve aceleração nos próximos trimestres por conta da originação mais forte no crédito rural devido ao plano safra 2024/25. No Plano Safra 2023/2024, o Banco do Brasil desembolsou R$ 201,9 bilhões no setor agropecuário, aumento de 6,4% a/a. Além disso, investiu mais R$ 27,8 bilhões na cadeia de valor do agro, totalizando R$ 229,7 bilhões. Para o Plano Safra 2024/2025, anunciado em julho, o BB planeja destinar R$ 260 bilhões para crédito rural, agroindustrial e títulos.
Carteira de Crédito: Crescimento acima de outras incumbentes
Receita Líquida de Juros (NII): Impactado pelo Patagonia
No 2T24, a Receita Líquida de Juros (NII) atingiu R$ 25,6b, apresentando leve queda de -0,7% t/t, devido principalmente a menor contribuição do Banco Patagonia no período, mas com aumento +11,6% a/a, ficando em linha com a expansão da carteira de crédito que evoluiu +11,2% a/a.
Visão contábil (vide tabela de resultado):
As receitas financeiras contraíram -1,6% t/t e cresceram apenas +0,6% a/a. O baixo desempenho da linha na comparação trimestral e anual deve-se ao resultado de tesouraria que contraiu -9,5% t/t e -6,9% a/a. Por outro lado, as operações de crédito não tiveram grande expansão, mas foram positivas em +1,2% t/t e +3,2% a/a. A tesouraria foi impactada pelo resultado mais fraco do banco Patagonia nessa linha que diminuiu de R$ 3,07b no 1T24 para R$ 2,37, contraindo R$ 700m t/t.
As despesas financeiras contribuíram positivamente para o resultado da margem financeira, já que contraíram -2,7% t/t e -10,6% a/a. A melhora foi impulsionada pela queda das despesas de captação comercial (-3,6% t/t e -13,2% a/a), devido à queda da Taxa Média da Selic (TMS) no período.
Visão gerencial:
A Margem com Clientes contraiu -2,1% t/t e -1,0% a/a, impactado no trimestre pela maior quantidade de dias úteis e pelo mix de funding. O spread no trimestre ficou em 7,79%, redução de -0,4pp t/t e -1,1pp a/a. Do lado positivo, o saldo médio chegou a R$ 1,05t (+2,7% t/t e +12,4% a/a).
A Margem com Mercado apresentou um robusto crescimento de +4,4% t/t e +100,7% a/a, ainda beneficiado pelo desempenho da margem financeira do Banco Patagonia e pelo resultado de tesouraria.
Serviços: Desempenho Dentro do Intervalo do Guidance
As receitas de prestação de serviços atingiram R$ 8,85b no 2T24, expansão de +6,0% t/t e +6,7% a/a, ficando dentro do intervalo do guidance (4% a 8%). O desempenho foi beneficiado no trimestre pelas linhas de administração de fundos (+7,4% t/t), operações de crédito e garantias (+15,7% t/t) e rendas do mercado de capitais (+61,6% t/t). Já na comparação anual o desempenho deve-se a administração de fundos (+14,7% a/a), seguros, previdência e capitalização (+12,2% a/a) e taxas de administração de consórcios (+20,8% a/a).
Por fim, acreditamos que o trimestre também foi beneficiado pela maior quantidade de dias úteis (63 no 2T24 vs 61 no 1T24 e 2T23).
Custo de Crédito e Inadimplência: Forte Aumento na Recuperação de Crédito (e sem Americanas ainda)
O custo de crédito do Banco do Brasil atingiu R$ 7,8 bilhões no trimestre, representando uma redução de -8,6% t/t e um aumento de +8,8% a/a. Este desempenho positivo foi impulsionado pelo robusto volume de recuperação de crédito, que alcançou R$ 2,98 bilhões, refletindo um crescimento significativo de +49,8% t/t e +38,8% a/a. O avanço na recuperação de crédito foi em grande parte devido aos esforços intensivos da rede do banco, especialmente no segmento de grandes clientes.
Apesar da melhora na recuperação de crédito, os valores não incluem nenhuma reversão de Americanas. O BB tinha uma exposição de aproximadamente R$ 1,6b em Americanas que foram 100% provisionadas (transitaram pelo demonstrativo de resultado do banco) e posteriormente baixadas para prejuízo (baixa de ativos do balanço). Esperamos uma reversão desse montante nos próximos trimestres que será feita provavelmente pela linha de recuperação de crédito.
Apesar da significativa melhora na recuperação de crédito, os valores apresentados não incluem nenhuma reversão relacionada às perdas com Americanas. O Banco do Brasil tinha uma exposição de aproximadamente R$ 1,6 bilhões em Americanas, que foram integralmente provisionadas e posteriormente baixadas como prejuízo no balanço. Esperamos que uma reversão desses valores ocorra nos próximos trimestres, provavelmente refletida na linha de recuperação de crédito, à medida que o banco finalize os acordos com a Americanas.
Apesar da melhoria trimestral, o aumento anual do custo de crédito é atribuído principalmente ao crescimento do risco de crédito, que subiu +13,1% a/a. Essa elevação no custo é um reflexo da maior exposição ao risco, que impactou a evolução dos custos de crédito ao longo do período.
O índice de inadimplência total acima de 90 dias (NPL 90+) registrou um leve aumento, passando para 3,0%, com variações de +0,1 pp t/t e +0,3 pp a/a. Esse crescimento é atribuído principalmente ao aumento da inadimplência no setor do Agronegócio, que alcançou 1,32%, marcando uma elevação de +0,13 pp t/t e +0,74 pp a/a. O cenário reflete desafios específicos enfrentados pelo setor, impactando o índice geral de inadimplência. Além disso, o segmento de empresas também apresentou uma deterioração na inadimplência, ficando em 3,38% (+0,19pp t/t e +0,80pp a/a).
Apesar do aumento da inadimplência, os dados do Banco do Brasil continuaram abaixo do Sistema Financeiro Nacional que está em 3,2%.
No trimestre, o BB apresentou mais um trimestre de consumo do índice cobertura, impactado pela inadimplência e write-off (baixa de ativos), chegando a 191,3% (-4,7pp t/t e -10,0pp a/a). Já o índice médio do setor bancário ficou estável t/t e aumentou +4,6pp a/a, ficando em 187,5%.
Despesas Administrativas e Outras Despesas/Receitas: Aumento em provisões cíveis
As despesas administrativas totais atingiram R$ 14,4b (+5,3% t/t e +9,4% a/a). O aumento foi puxado principalmente pelas outras despesas administrativas, que cresceram +7,6% t/t e +13,7% a/a, totalizando R$ 7,15b no 2T24, impulsionadas principalmente pelas despesas cíveis que expandiram +18,4% t/t e +85,9% a/a.
As despesas de pessoal ficaram sob controle a despeito do aumento de colaboradores na área de tecnologia, crescendo 3,1% t/t e 5,4% a/a, totalizando R$ 7,3b no trimestre.
Além disso, a linha de “outras receitas/despesas” ficou em -R$ 1,2b, aumento de +14,4% t/t e +71,6% a/a. As receitas com Revisão dos Ativos e Passivos Atuariais da Previ devem passar de R$ 616m nesse trimestre para algo próximo a R$ 700m nos próximos 2 trimestres dado que a taxa real de desconto aumentou com a abertura da curva de juros.
Imposto: Beneficiado pelo JCP e subsidiárias
Alíquota de imposto ficou em 20%, beneficiada pelo pagamento de Juros Sobre o Capital Próprio (JCP) e por ser líquida dos impostos de suas subsidiárias não controladas, como Cielo.
Capital: Impactado pelo aumento do RWA
No 2T24, o capital principal (CET1) piorou 0,3 pp t/t, atingindo 11,60%. O índice foi impactado especialmente pelo RWA (ativos ponderados pelo risco), que consumiu -0,6pp t/t. O RWA foi impactado principalmente pelo aumento do crédito. O Índice de Basiléia atingiu 14,19%, forte queda de -0,94pp t/t e -1,53pp a/a. O índice de capital nível I (TIER1) alcançou 13,01% (-0,87pp t/t e -1,12pp a/a).