O Banco do Brasil registrou um lucro de R$ 9,4b no 4T23 (+7,5% t/t e a/a), ficando 4% acimas das nossas estimativas e 3% acima do consenso de mercado. A rentabilidade (ROE) atingiu um novo patamar, chegando a 22% (+1,2pp t/t). Em termos de lucro e rentabilidade, o BB ficou acima do Itaú no trimestre, mostrando o bom momento do banco estatal, que continua a ser negociado com um bom desconto dos demais.
O guidance de 2024 aponta para mais um bom ano, com um lucro de R$ 38,5b no meio da faixa indicativa, indicando um crescimento de 8,3% a/a e ROE de 21%. Na parte superior do guidance, o lucro é de R$ 40b, crescimento de 12,5% e ROE de 21,7%. Por fim, o BB aumentou seu payout de 40% para 45%.
No trimestre, o resultado foi positivamente influenciado por: (i) um bom desempenho comercial, o crescimento da carteira de crédito e da tesouraria (efeito do Banco Patagonia), que contribuíram para um aumento da margem financeira bruta; (ii) leve crescimento t/t das receitas de prestação de serviços; (iii) despesas administrativas controladas; (iv) resgate do fundo garantidor que reduziu a linha de outras despesas; e (v) menor alíquota de imposto devido ao hedge do Banco Patagonia.
Do lado negativo, houve um aumento considerável na provisão (PDD) devido a agravamentos de risco no segmento empresas e em outras provisões que inclui questões cíveis, fiscais e trabalhistas. Além disso, houve um aumento na inadimplência mesmo excluindo o efeito de Americanas.
Com o resultado de margem financeira acima do guidance, o banco teve espaço para reforçar o balanço com provisões de crédito, principalmente para fazer frente a carteira de atacado. Estimamos um reforço de balanço em provisões na ordem de R$ 2,5b a 3,0b (R$ 1,2b de reforço por agravamento de risco no segmento Empresas e R$ 1,3b-1,8b em agravamento de risco de crédito).
Com ventos favoráveis para a lucratividade do banco, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço-alvo de R$ 64,90 para o final de 2024. Apesar do desempenho superior a seus pares, o banco estatal continua a ser negociado com desconto. Com o valuation atraente de 0,97x P/VP 2023 e 4,3x P/L 2024, BBAS3 continua a ser negociado um pouco abaixo de seu valor patrimonial (abaixo de 1x P/VP), apesar da rentabilidade (ROE) acima de seu custo de capital. Aplicando o novo payout de 45%, estimamos um dividend yield de 10,3%, um pouco melhor que os 9,2% com o payout antigo de 40%.
Banco do Brasil 4T23: Maior lucro do setor
Guidance 2024: ROE acima de 20% factível mesmo com queda da Selic impactando a tesouraria
O guidance para 2024 aponta para mais um ano de lucro robusto, mas com uma significativa desaceleração em relação a 2023. Em nossas projeções, o meio do guidance está em linha com nossas projeções de algumas semanas atrás, resultando em um crescimento de aproximadamente 8,3% a/a. Além do lucro ainda em níveis atrativos, o ROE deve se manter em patamares bem elevados próximo de 21%, competindo com o Itaú em rentabilidade.
Em relação ao guidance de 2023, o banco entregou tudo dentro das expectativas, com exceção das provisões (PDD), que teve reforços adicionais para fazer frente a potenciais pioras de deterioração de carteira de crédito. O reforço de balanço com despesas de provisão foram mais que compensados pela margem financeira acima do guidance. A entrega deste ano, e os reforços de provisão, nos dá a confiança de que 2024 deve ser mais um ano de forte compromisso com o guidance, inclusive com queda nominal de PDD, mesmo com o crédito crescendo aproximadamente 10%.
Dividendos: Payout cresce de 40% para 45%
Em complemento ao resultado, o Banco do Brasil anunciou o aumento do seu payout (distribuição de lucro) de 40% para 45%. Além disso, anunciou R$ 2,38b em remuneração complementar aos seus acionistas (JCP + Dividendos), resultando em um dividend yield de 1,4% nesse trimestre. Terão direito os acionistas que possuírem a ação no da 21/fev, ficando ex-proventos em 22/fev. O pagamento será realizado em 29/fev.
Carteira de crédito: Bom crescimento deve continuar em 2024
A carteira de crédito (visão BACEN) alcançou R$ 975b no trimestre (+3,2% t/t e +9,4% a/a), apresentando uma leve desaceleração em relação ao trimestre anterior, mas com expansão bem acima dos outros incumbentes.
No trimestre, a carteira pessoa física (PF) cresceu 2,8% t/t; pessoa jurídica (PJ) 3,6% t/t e agro 3,5% t/t. Já na comparação anual, a PF variou +7,9% a/a, PJ +9,7% a/a e agro +12,0% a/a.
Para 2024, o guidance entre 8%-12% indica uma continuidade no ritmo de expansão da carteira de crédito.
Receita Líquida de Juros (NII): Forte crescimento, mesmo sem a ajuda do Patagonia
No 4T23, a Receita Líquida de Juros (NII) atingiu R$ 25,8b, com um aumento 8,8% t/t e 20,1% a/a, continuando com crescimento acima da carteira de crédito.
Na visão gerencial:
- A Margem com Clientes contraiu 2,0% t/t e expandiu 4,1% a/a, impactada no trimestre pela menor quantidade de dias úteis (61 no 4T23 vs 64 no 3T23) e também pela retração na margem de captação comercial.
- A Margem com Mercado evoluiu +80,5% t/t e +168,1% a/a. O forte crescimento trimestral ocorreu pelo efeito da variação cambial na margem financeira do Banco Patagonia. O resultado de hedge cambial de final de ano teve forte efeito positivo com a desvalorização da moeda argentina.
Na visão contábil (nossa tabela de resultado), as receitas financeiras cresceram 2,1% t/t, impulsionadas pela elevação do saldo médio da carteira crédito. Além disso, as despesas financeiras caíram 4,5% t/t, puxadas pela redução de -6,2% t/t na captação comercial (beneficiada pela menor taxa média da Selic).
Serviços: Termina o ano na faixa inferior de crescimento do guidance
As receitas de prestação de serviços atingiram R$ 8,7b no 4T23, representando um aumento de apenas 0,9% t/t e 3,6% a/a. O trimestre foi beneficiado pelas linhas de mercado de capitais (+66,4% t/t), operações de crédito (+13,3% t/t) e consórcios com (+2,8% t/t). Do lado negativo, a linha de administração de fundos contraiu -4,1% t/t, conta corrente (-0,8 t/t) e renda de cartões (-8,1% t/t).
Em 2023, a receita com serviços cresceu 4,6%. Para 2024, o BB estima receitas de prestação de serviços crescendo entre 4,0% a 8,0%, acima da inflação projetada, mas marginalmente abaixo das estimativas de crescimento de despesas administrativas (6,0% a 10,0% de guidance de crescimento)
Provisão e Inadimplência: Aumento para reforçar o balanço
As despesas de provisão para devedores duvidosos somaram R$ 9,9b, apresentando um forte crescimento de +32,8% t/t e +52,8% a/a. O trimestre foi impactado por um reforço de balanço no segmento de empresas, elevando as provisões de crédito e imparidade.
O índice de inadimplência acima de 90 dias (NPL 90+) aumentou 0,11pp t/t, atingindo 2,92%. Excluindo o efeito dos créditos tóxicos de Americanas, o NPL 90+ teria ficado em 2,75% no 4T23, piora de 0,12pp t/t. A inadimplência no trimestre foi impactada negativamente pelo NPL 90+ do segmento PJ que aumentou em 0,34pp t/t ex-Americanas, ficando em 2,83%. O agro também apresentou aumento na inadimplência neste trimestre, ficando em 0,96% (+0,25pp t/t). No entanto, a inadimplência do banco está bem abaixo do sistema financeiro (3,3%).
No trimestre, o BB consumiu um pouco de cobertura, com o índice chegando em 196,7% (-2,4pp t/t). O índice da indústria foi reduzido em -0,5pp no mesmo período para 184,8%. Na comparação anual, a cobertura do banco foi consumida em 30,4pp.
Despesas Administrativas e Outras Despesas/Receitas: Também tiveram reforços de provisionamento
As despesas administrativas totais atingiram R$ 14,5b (+2,8% t/t e +8,5% a/a). Esse incremento no trimestre foi impulsionado pelo crescimento de +6,1% t/t nas despesas de pessoal, porém, compensado pela diminuição de -0,3% t/t em Outras Despesas Administrativas. Já na comparação anual, as despesas administrativas aumentaram +8,5% a/a, influenciado em parte pelo dissídio coletivo e pelo aumento de +10,3% a/a nas outras despesas administrativas.
Em relação as outras receitas/despesas que ficaram em -R$ 135m no 4T23 vs -R$ 813m no 3T23, o impacto positivo veio do resgate de cotas de fundo garantidor que apresentou um saldo positivo de R$ 1,8b.
Por outro lado, houve também um aumento considerável de despesas em outras provisões em torno de R$ 1,0b (vs R$ 50m no 3T23), relacionadas a um reforço patronal do plano de saúde.
Capital: Com folga, aumentou o payout e recomprou divida nível 1
No 4T23, o capital principal piorou 0,37 pp t/t, atingindo 12,12%, impactado negativamente por questões atuariais, marcação a mercado e variação cambial, além de ajustes prudenciais e RWA. O Índice de Basileia atingiu 15,47% (-0,77 pp t/t e -1,18 pp a/a) e o índice de capital nível I alcançou 13,91% (-0,73 pp t/t e -0,83 pp a/a).
O Banco do Brasil em 18/jun irá realizar a recompra total do título de dívida subordinada de capital nível I emitido em 2014 (Banbra) no montante de US$ 1,37b (em circulação), o que deverá reduzir o capital nível I em aproximadamente 0,53pp.
Apesar do consumo de Basiléia, os índices de capital seguem bem acima dos mínimos regulatórios, dando espaço para o banco aumentar o payout de dividendos de 40% para 45% e recomprar uma dívida subordinada Nível I.