Com a rápida deterioração de uma resolução das condições financeiras das Americanas após reportar uma inconsistência financeira gigantesca de algo em torno de R$ 20b na semana passada, tudo indica que a empresa caminha para uma recuperação judicial.
Nesse relatório, tentamos mensurar o impacto da crise que o rombo bilionário da Americanas (AMER3) pode ter no sistema bancário. Com a potencial entrada em recuperação judicial (RJ), os bancos terão que provisionar necessariamente 30% da dívida reportada e não reportada pelas Americanas, que a própria empresa estimou um total de R$ 40b nesta última sexta feira. Em adição a esse impacto, os bancos também encarteiram muitas vezes as debêntures e bonds de vários clientes como uma forma de empréstimo indireto. Ou seja, aproximadamente R$ 12b irão transitar nos balanços dos bancos no 1T23.
Ainda existem muitas dúvidas dos números finais, mesmo porque os bancos tentam evitar a entrada em RJ das Americanas e pedem aporte de R$ 10b pelos controladores (3G). Portanto nosso exercício ainda é preliminar, baseado nos números que temos no momento. Após a entrada efetiva em recuperação judicial, acreditamos que os bancos divulguem números mais detalhados já que o sigilo bancário de clientes acabaria com a RJ.
Entre os maiores bancos listados, concluímos que o Bradesco e BTG Pactual seriam os mais impactados, seguidos de Itaú e Santander. Finalmente, o Banco do Brasil teria menor exposição a Americanas. Apesar do impacto no lucro ser de quase 11% na média, o impacto no capital Nível I de capital é baixo em 0,3 pp.
Na última sexta-feira, a Americanas entrou e ganhou uma petição de tutela de urgência cautelar. Essa decisão suspende temporariamente a possibilidade de um bloqueio, sequestro ou penhora de bens da empresa, e adia a obrigação da Americanas de pagar suas dívidas até que uma solicitação de recuperação judicial seja oficializada. Ao mesmo tempo, para entrar com esse pedido de proteção temporária, a Americanas reportou uma dívida de R$ 40b, cerca de R$ 20b a mais que havia reportado ao final do 3T22. Ou seja, pelos números indicados, a empresa não estava reportando cerca de R$ 20b, número próximo a das inconsistências financeiras.
O mistério contábil
Em tese, o rombo de R$ 20b tem origem no crédito de risco sacado oriundos de contas a pagar (passivo) com fornecedores PJ. Pelo que entendemos, a empresa pagava fornecedores com crédito bancário, mas não reconheciam essas transações como dívida no balanço. O mais impressionante é que contas a pagar com fornecedor era de apenas R$ 5,0b (passivo) no 3T22, bem menor que o rombo de R$ 20b. A conta estoque (ativo) era de apenas R$ 5,77b no 3T22, condizente com a conta fornecedor. Ou seja, tudo indica que a empresa pagava fornecedores com crédito e baixava da conta fornecedores e estoque.
Carteira varejo/comércio de cada banco
Para chegar nos nossos cálculos finais, usamos os dados reportados pelos bancos no segmento varejo/comércio da carteira pessoa jurídica (PJ) e consideramos o saldo de R$ 222b de varejo de bens duráveis e não duráveis reportado pelo Banco Central para alocar os R$ 40b para cada banco. Importante salientar que cada banco agrega os saldos de varejo/comércio de forma diferente. Uns quebram detalhadamente os números, outro bancos agregam de forma mais abrangentes, o que vai impactar nossa análise. Por isso nossos números podem variar bastante, principalmente nos bancos menores.
Entre os principais bancos, as maiores exposições no segmento varejo/comércio em relação ao total de crédito são: BTG Pactual (6,7%), Bradesco (5,9%), Itaú (3,7%) e Santander (3,1%).
Qual o tamanho do impacto?
Considerando o cenário de recuperação judicial da Americanas, os bancos deveriam fazer uma provisão de 30% em relação ao total de exposição ao crédito concentrados no 1T23. Levando em consideração 100% de impacto sobre o lucro (após impostos), o impacto nos bancos seria uma redução média nos lucros de -15,5% nos últimos 12 meses.
Excluímos do nosso cálculo o Banrisul, dado que o banco relatou não ter exposição a Americanas e consideramos apenas R$720m do BNDES reportados separadamente no balanço da varejista no 3T22.
Levando em consideração os principais bancos listados (Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BTG Pactual) o impacto seria uma redução média de -12,3% nos lucros acumulados de 12 meses e uma queda média de -0,3 pp no capital nível I. Importante destacar que dentre esses bancos, levando em consideração um impacto de 30% sobre o lucro, os mais impactados negativamente seriam o Bradesco com uma redução de -6,9% nos lucros, BTG Pactual (-3,6%) e Itaú (-3,5%).
Para os bancos menores e não listados as informações fornecidas não são tão detalhadas, o que pode fazer com que tenha uma maior dispersão nas projeções.