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    Publicado em 24 de Junho às 21:10:47

    Bradesco (BBDC4) | Conversa com Investidores: Na direção certa

    Neste relatório, compartilhamos nossas impressões e os principais insights obtidos durante nossas reuniões de non-deal roadshow (NDR) com investidores institucionais e o time de Relações com Investidores do Bradesco.

    Durante as reuniões, ficou claro que o Bradesco está progredindo em sua reestruturação, com melhorias operacionais já ocorrendo em 2024. Esse avanço coloca o banco na trajetória correta para uma recuperação de rentabilidade. No entanto, a velocidade dessa melhora dependerá da execução eficaz do plano estratégico e da capacidade do banco em continuar expandindo sua carteira de crédito com a inadimplência sob controle. Nossa visão é que o processo de reestruturação levará tempo, com a maior parte dos resultados positivos sendo capturados em 2025 e 2026.

    No curto prazo, especialmente em 2024, a rentabilidade será impulsionada por três principais fatores:

    1. Melhoria nas provisões.
    2. Aumento na receita de crédito (NII clientes).
    3. Contenção de despesas.

    Esse relatório está organizado nos seguintes temas:

    1. Reestruturação: Detalhes das mudanças estruturais para melhorar eficiência operacional e competitividade.
    2. Guidance 2024: Conforto com o guidance e lucro implícito de R$ 18 bilhões.
    3. Carteira de Crédito: Crescimento em todas as linhas, com destaque para o segmento de pessoa física massificada e SMEs como diferencial para a receita.
    4. Receitas com Juros (NII Clientes): Expectativa positiva de inflexão no 2T24 e aceleração no segundo semestre de 2024.
    5. Qualidade do Crédito: Previsão de queda gradual da inadimplência.
    6. Custos: Custos sob controle com otimização da presença física em andamento.
    7. Lucro: Melhora gradual da rentabilidade.
    8. Capital: Nova regra pode ter impacto no capital.
    9. Cielo: Após OPA, a Cielo ganhará mais agilidade e flexibilidade comercial.

    Apesar de não sabermos a velocidade das mudanças do Bradesco, o roadshow nos mostrou que a direção da companhia está certa. No curto prazo, entendemos que a volta do crescimento com a inadimplência controlada deve ajudar na melhora da rentabilidade mais a frente. Além disso, vemos que o risco x retorno das ações estão assimétricos, negociando a um valuation atrativo de apenas 0,8x P/VP 24e e 5,3x P/L 25e. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço-alvo de R$ 17.

    Reestruturação: Avanços em diversas frentes

    Avanços tecnológicos, aliados às mudanças regulatórias promovidas pelo Banco Central, trouxeram transformações significativas à indústria bancária, facilitando a entrada de novos players digitais. Estes neobanks, mais ágeis e com estrutura de custos mais enxuta, têm desafiado o pool de lucro dos bancos incumbentes. Paralelamente, a pandemia global acelerou uma transformação digital já em curso, impulsionando tanto clientes tradicionais quanto novos usuários a adotarem soluções bancárias online.

    Em adição a esses fatores, a rápida elevação da Selic no pós pandemia e da inflação de alimentos pressionaram a inadimplência, principalmente dos segmentos de menor renda de pessoas físicas e pequenas empresas, aos quais o Bradesco tem maior exposição que seus principais pares, resultando em uma queda significativa do ROE, de 18%-20% para 10% em 2023.

    Em novembro de 2023, o Bradesco anunciou Marcelo Noronha como novo CEO. Em fevereiro de 2024, o Bradesco lançou um novo plano estratégico de reestruturação, com um cronograma de implementação até 2028.

    No início do projeto, a McKinsey teve poucos meses para delinear esse plano, contando com entrevistas com vários executivos do banco, mapeando as frentes de trabalho. Atualmente, a equipe está finalizando a programação detalhada das iniciativas, algumas das quais já em implantação. A consultoria está ajudando na implementação desse plano.

    A meta de eficiência estabelecida pelo banco é de 40%. No primeiro trimestre de 2024, o índice foi de 50%, indicando que serão necessários cortes significativos de despesas e aumento de receita para se alcançar a meta de eficiência. O banco está comprometido em entregar mais do que o prometido, sem divulgar amplamente os detalhes relacionados à redução de custos, embora indique estar otimizando a sua presença física.

    Alguns dos principais pontos do plano de reestruturação e seus resultados:

    • O banco contratou pessoas de fora para posições-chave, quebrando a antiga cultura de promover apenas internamente. Exemplos disso são:
      • Novo C-Level de RH: Silvana Machado, que anteriormente trabalhou na Advent.
      • Novo C-Level em negócios digitais: Túlio Oliveira, com experiência prévia no Mercado Livre e Mercado Pago.
      • Novo diretor para gestão do portfolio de crédito: Júlio Guedes, que antes ocupava cargo na Serasa.
    • Com a nova executiva de RH, um novo plano de remuneração está planejado para ser anunciado em breve.
    • A nova gestão sob o comando de Noronha já cortou camadas hierárquicas e hoje 100% dos executivos estão até 3 níveis abaixo do CEO, fazendo com que os processos de tomada de decisão sejam mais ágeis.
    • Foi criado um grupo chamado “change the bank”, focado na implantação do plano estratégico e que já conta com aproximadamente 800 pessoas, várias das quais de elevada senioridade.
    • Está ocorrendo um processo de otimização de cross-selling, buscando maior integração entre as áreas.
    • Ressegmentação das áreas de atendimento do banco
    •  Criação de uma estrutura C-level de wealth. Lançamento de um novo segmento de Alta Renda “Afluente”: A companhia está criando um segmento que terá atendimento diferenciado para fortalecer sua presença no alta renda, ocupando a posição imediatamente abaixo do segmento Private. A divulgação desse novo segmento deve ocorrer ainda esse ano.
    • Varejo. O cliente de média renda do varejo tradicional terá um serviço híbrido, atendido por presença física e/ou digital.
    • Massificado. Clientes de menor renda não serão mais atendidos na agência, terão apenas atendimento digital ou via Bradesco Expresso (correspondente bancário).
    • Pessoa jurídica de pequenas e médias. Esses segmentos também terão alteração e no primeiro trimestre foram entregues 122 agências empresas, reorganizando as equipes comerciais para aumentar ainda mais o foco nesses segmentos.
    • Foco em otimizar o índice de eficiência com a meta de chegar a 40% vs 50% reportados no acumulado 12 meses até o 1T24. Na nossa visão, para chegar a esse índice, o banco terá que ajustar significativamente seu footprint.

    Cronograma do Plano Estratégico

    Despesas Operacionais x Índice de Eficiência: O índice de eficiência piorou desde 3T22

    O que pode atrapalhar a reestruturação?

    O Bradesco acredita que o processo de reestruturação demandará tempo e que, se o cenário macroeconômico se mantiver relativamente semelhante ao atual, o plano pode progredir com sucesso.

    Em nossa visão, caso ocorra uma deterioração do cenário com o Banco Central elevando os juros novamente, isso poderá resultar em uma pressão adicional sobre a margem de mercado e no aumento da inadimplência nos segmentos mais arriscados (varejo massificado e PME), os quais o Bradesco está voltando a crescer.

    Guidance

    O banco considera viável alcançar o lucro líquido implícito no guidance, que – no seu ponto médio – analistas de mercado indicam algo ao redor de R$ 18 bilhões para 2024. Esse valor está R$ 600 milhões abaixo das nossas projeções de R$ 18,6 bilhões e R$ 400 milhões abaixo das projeções do consenso de mercado de R$ 18,4 bilhões. Caso se concretize em R$ 18 bilhões de lucro (11% de crescimento a/a), o retorno sobre o patrimônio (ROE) ficaria em apenas 11%, rentabilidade ainda fraca.

    A equipe de gestão acredita que o ponto de inflexão no crescimento da carteira de crédito já ocorreu no 1T24 e na margem financeira com clientes (NII Clientes) deve ocorrer no 2T24, porém persistem dúvidas quanto ao ritmo de melhoria daqui para frente. No 1T24, a carteira expandida apresentou um crescimento de apenas 1,2% em relação ao ano anterior, bem abaixo do intervalo do guidance de 7% a 11% para 2024.

    A equipe de gestão ressalta o desempenho da margem líquida de provisão, a qual cresceu no 1T24 e deve continuar a melhorar nos trimestres seguintes, em contexto de expansão de carteira com inadimplência controlada.

    A margem financeira bruta registrou uma queda de 9% no 1T24 vs. 1T23, comparada ao intervalo esperado de crescimento de 3% a 7% para 2024. Nesse ponto, os questionamentos se concentraram no NII de Clientes, que precisará de uma aceleração significativa para alcançar os R$ 64,9 bilhões reportados em 2023, considerando que no 1T24 o valor foi de apenas R$ 14,5 bilhões. As nossas expectativas são de um leve crescimento sequencial t/t no 2T24, seguido por uma aceleração mais forte no 3T24 e 4T24. Já o NII de Mercado deve se manter volátil, mas retornar a níveis mais significativos em 2024, crescendo em relação a 2023.

    Lucro do meio do guidance aponta para R$ 18b: Desempenho ainda fraco para 2024

    Guidance 2024 vs. Realizado 1T24: NII, Serviços e Crédito abaixo do guidance

    Carteira de Crédito: Inflexão já aconteceu no 1T24

    O crescimento da carteira de crédito do banco continua pressionado pela desaceleração da concessão para controlar os altos níveis de inadimplência. No 1T24, a carteira de crédito na visão expandida apresentou uma expansão de apenas 1,2% a/a, enquanto na visão BACEN retraiu 0,9% a/a, ficando bem aquém do intervalo fornecido no guidance (7%-11% na visão expandida). No entanto, o banco prevê que a carteira deve acelerar durante o ano, com destaque para o segmento de PMEs e o Varejo Massificado, em contraste com um cenário de baixa procura por crédito pelas grandes empresas, que ainda mantêm Capex comedido e encontram alternativas de financiamento, como o mercado de capitais.

    Além disso, a redução da taxa de juros deve contribuir para o aumento da liquidez no Sistema Financeiro Nacional (SFN), configurando um cenário mais favorável para o crédito em 2024.

    Do lado da originação de crédito, o banco já está originando na pessoa física (PF) massificado em níveis acima de 2019. Com a perspectiva de melhora no ciclo de crédito, principalmente em segmentos mais arriscados como a PF massificado e PME, a originação do banco deve acelerar ao longo do ano, refletindo na expansão da carteira de crédito..

    Carteira de Crédito Pessoa Física e Pessoa Jurídica Expandida (R$b): Crescimento (%) modesto com inflexão no 1T24

    O Bradesco acredita que os segmentos de destaque serão o massificado pessoa física e PME tanto volume como principalmente receita, sendo provavelmente os maiores contribuidores para retomada na rentabilidade do banco se a inadimplência ficar sob controle. Como a originação desses segmentos foi muito afetada pela diminuição do apetite do Bradesco em 2023, a volta tem ocorrido com sucesso em 2024, segundo o banco. Os gráficos abaixo mostram uma recuperação gradual da originação (média de 2019 como base 100) a níveis pré-pandemia e a inadimplência (atraso de 30d) nas safras de 4 meses sob controle. O Bradesco planeja liberar crédito à medida que os níveis de inadimplência continuem em patamares aceitáveis.  

    Originação vs. Inadimplência | Pessoa Física Massificado: Originação acima dos níveis de 2019

    Originação vs. Inadimplência | Pequenas Empresas Massificado: Em recuperação

    • Pequenas e Médias Empresas: Em recuperação

    O banco está direcionando esforços para expandir sua presença em Pequenas e Médias Empresas (PMEs), segmento no qual é líder e apresenta grande oportunidade de crescimento devido à alta demanda por crédito. Devido à elevada inadimplência apresentada no passado, o Bradesco estava cauteloso quanto à originação de crédito para PMEs. Mas a inadimplência acima de 90 dias nesse segmento atingiu seu pico no terceiro trimestre de 2023 e tem caído. Apesar de ainda estar em níveis elevados, essa queda deve contribuir para o crescimento do crédito e menores níveis de provisão.

    Inadimplência 90+ (%) de PMEs: Queda após pico no 3T23

    Como estratégia para expansão, o banco já lançou 122 agências empresa, dedicadas ao atendimento de PMEs. Essas agências preservam o banco próximo dos seus clientes em diferentes regiões, a um custo mais baixo. Em uma conversa com analistas no início de 2024, o CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, previu a abertura de aproximadamente 150 dessas unidades de atendimento.

    Além disso, o aumento da participação das PMEs no mix da carteira do banco deve ser benéfico para a margem financeira, dado que esses clientes geralmente têm spreads mais altos devido ao maior risco envolvido.

    No que diz respeito à competitividade no setor bancário, outros incumbentes também estão se movendo para se posicionar nesse segmento. Por exemplo, o Itaú planeja lançar o Itaú Emps (codinome Atlas), um aplicativo exclusivo, 100% digital, direcionado para pequenas empresas (com receita anual de R$200 mil a R$5 milhões), com o objetivo de aumentar o engajamento desses clientes.

    Carteira PME (pequenas e médias empresas): Crescimento acompanha queda na inadimplência

    • Varejo Massificado: A grande aposta

    O Bradesco é o único banco entre os incumbentes que manifestou a intenção de expandir sua carteira no segmento massificado pessoa física, no qual o único bem-sucedido neobank, Nubank, tem feito grandes avanços no cartão de crédito. Apesar do maior risco de execução nesse segmento, o banco acredita que existem subsegmentos rentáveis dentro do varejo massificado. Devido à grande demanda e aos bons spreads, esse segmento também será um foco para a expansão durante a execução do plano estratégico. Nesse caso, desafio importante é ajustar o modo de servir, contando mais com os canais digitais e o Bradesco Expresso (rede de correspondentes).

    • Grandes Empresas: Maior competição no momento

    No segmento de grandes empresas, devido aos juros elevados, atuação do mercado de capitais e alta competição entre os principais bancos, o cenário de crédito fica ainda mais desafiador. Portanto, a expansão de crédito nesse segmento deve ser limitada em 2024.

    A preocupação com o aumento da competição e consequentemente queda dos spreads no segmento de grandes empresas foi pauta recorrente nas reuniões com os investidores institucionais. O Bradesco olha cada cliente como um todo, atento ao retorno ajustado ao risco das operações, incluindo linhas de crédito bancário e outros produtos como cash management, mercado de capitais, investimentos etc. Com isso, o banco eventualmente pode ter taxas de crédito mais agressivas dependendo da rentabilidade de cada cliente como um todo.

    Receita: Ponto de inflexão na Margem com Clientes

    • Margem Financeira com Clientes (NII Clientes): Depois do fraco desempenho no 1T24, o 2T24 pode ser um ponto de inflexão

    Com a maior discrepância em relação ao guidance no resultado do 1T24, a Margem Financeira (NII) foi pergunta recorrente durante o roadshow. No 1T24, o NII do Bradesco contraiu -9% a/a, enquanto o guidance para o ano indica uma expansão de +3% a +7%. O banco acredita que o NII clientes atingirá ponto de inflexão no 2T24 e deve acelerar no 2H24. O ritmo de crescimento sequencial dos próximos trimestres vai depender bastante do comportamento da inadimplência. À medida que a inadimplência se comporte bem, o Bradesco deverá conceder mais crédito, principalmente nos segmentos massificados que vem de uma base baixa de originação em 2023.

    O Bradesco planeja intensificar sua atuação em linhas de crédito de maior risco, particularmente no segmento massificado PF e para Pequenas e Médias Empresas (PMEs), o que deverá melhorar a NIM (spread global) ao longo do ano.

    O fraco desempenho do 1T24 pode ser explicado pelo processo de maior seletividade realizada nos últimos trimestres. De modo geral, o mix da carteira mudou e ficou mais conservador, com crescimento da participação de crédito consignado, rural e imobiliário, por exemplo. Em casos específicos de produtos de maior risco, como cartões, o banco elevou a participação do alta renda (menos tomador de crédito), resultando em uma retração de -4,5% a/a na carteira. Com isso, o NII de Clientes registrou R$ 14,5 bilhões no 1T24, uma redução de 14,4% a/a. A principal incerteza reside exatamente nesta linha de NII Clientes, que precisará de uma aceleração significativa ao longo do ano para alcançar ao menos o patamar de R$ 64,9 bilhões registrados em 2023.

    NII Clientes e Taxa Média: Margem com clientes continuou sob pressão, enquanto a Margem liquida de PDD melhorou t/t no 1T24

    Mix da Carteira de Cartões: Maior composição do alta renda

    Adicionalmente, a margem com mercado pode apresentar recuperação em 2024 em relação a 2023.

    Apesar da queda de depósitos à vista de 11,1% a/a e 8,4% t/t no 1T24, o banco argumenta ter melhorado o custo de funding ao ganhar eficiência na captação. As captações totais com clientes, líquidas de recolhimento compulsório, cresceram 5,1% a/a no 1T24.

    Além disso, o Bradesco entende que a margem líquida de PDD deve continuar se expandindo, pois os indicadores de inadimplência mantêm uma tendência de queda gradual. Isso levará a menores necessidades de provisionamento e à melhora da margem líquida nos próximos trimestres.

    • Receita de serviços (fees)

    As receitas de serviços (fees) tiveram uma expansão modesta de apenas 1,3% a/a no 1T24, ficando abaixo do intervalo do guidance de 2% a 6%. No entanto, a equipe de gestão acredita que, ao final do ano, esses números devem se enquadrar dentro do intervalo previsto. A linha continua sofrendo pressões devido a diversos fatores: (i) as contas correntes enfrentam a concorrência de bancos que introduziram tarifas zero, além do impacto do PIX, que eliminou as taxas de transações; (ii) o segmento de cartões, que tem focado mais no público de alta renda — um grupo que paga menos anuidade, embora compense em parte pelo uso dos cartões como forma de pagamento, gerando receitas no intercâmbio; e (iii) a receita de gestão de fundos (asset) está enfrentando desafios em cenário macro instável e com taxa básica Selic em dois dígitos.

    Receita de Serviços: Conta-Corrente é a mais pressionada

    Receita de Serviços (Base 100): Conta-Corrente e Administração de fundos com pior desempenho

    • Seguros

    A seguradora do Bradesco deve continuar apresentando bom desempenho no ano. No 1T24, a seguradora ficou acima do intervalo do guidance (4% a 8%) com uma expansão de +8,9% a/a, mas deve caminhar para dentro da faixa do Guidance durante o ano.

    O Bradesco vem trabalhando no segmento Saúde com o objetivo de reduzir a sinistralidade que ficou em 89,7% no 1T24, melhora de -4,9pp a/a, mas ainda em níveis elevados. No entanto, espera-se que essa sinistralidade continue nesses patamares mais altos por algum tempo. O desempenho operacional (índice combinado) ficou em 100,2% no 1T24, melhora de -4,3pp a/a e abaixo da média de 102,2% de 2023.

    Recentemente, o Bradesco anunciou uma joint venture com a Rede D’Or para criar uma nova rede hospitalar chamada Atlântica D’Or. Essa parceria visa garantir oferta de leitos modernos e serviços de qualidade para os clientes do Bradesco, e é parte da estratégia de investir na cadeia de valor do setor de saúde por meio de colaborações com players estabelecidos na operação de hospitais.

    Índice de Sinistralidade Saúde: Melhor a/a, mas ainda em níveis elevados

    Índice Combinado Saúde: Melhor a/a e melhor que a média de 2023

    Qualidade do Crédito: Melhora gradual da inadimplência

    Para o Bradesco, o ciclo de crédito foi mais severo do que o normal em relação às safras originadas em 2021 e 2022. A pandemia e a significativa alta da inflação foram particularmente negativas para o segmento de massificados (PF e PJ), e o banco demorou para desacelerar a concessão de crédito. Assim, o banco verificou rápida elevação da inadimplência já em 2022, forçando-o a desacelerar expressivamente a originação de crédito no final de 2022. Em 2023, o banco apresentou contração da sua carteira de crédito, conseguindo controlar a inadimplência e fazê-la iniciar trajetória de queda.

    Como parte dos aprimoramentos em curso, o Bradesco criou uma unidade de negócios que reúne todas as etapas do ciclo de crédito. Há pouco tempo, anunciou a contratação do Júlio Guedes, anteriormente diretor de analytics do Serasa, para a função de Gestão de Portfólio de crédito nessa unidade de negócios.  Essa contratação exemplifica os investimentos e aprimoramentos em curso no Bradesco.

    Desde 2023, o Bradesco vem aprimorando mais intensamente seus modelos de crédito, ao incorporar mais dados transacionais e machine learning. Os modelos atuais utilizam uma quantidade maior de informações, incluindo dados de clientes previamente subutilizados nos modelos do banco.

    Após uma contração na concessão de crédito em 2023, o Bradesco está expandindo a sua carteira, mantendo a inadimplência em queda. O Bradesco agora está aumentando a originação de crédito, inclusive no segmento massificado, capturando oportunidades à medida que a inadimplência cai.

    Inadimplência e Cost of Risk: Sinais de recuperação

    Como resultado, a inadimplência do banco apresentou uma redução no primeiro trimestre de 2024, diminuindo 0,2pp t/t e 0,1pp a/a, atingindo 5%, um nível que ainda consideramos alto. O NPL Formation, por sua vez, teve uma queda significativa, de R$ 12,0 bilhões no 1T23 para R$ 9,7 bilhões no 1T24, representando redução de -19% a/a.

    Acreditamos que, com a melhoria nos processos da área de precificação e um cenário de ciclo de crédito mais favorável para 2024 (queda na inadimplência do SFN e aceleração do crédito), os índices de inadimplência e o custo do risco deverão continuar a diminuir até o início de 2025. Além disso, espera-se que a formação de NPL continue a reduzir à medida que a inadimplência continue melhorando.

    Esses fatores, segundo a visão da gestão, deverão contribuir para a queda da carteira renegociada, que já demonstrou um ponto de inflexão no final de 2023.

    Carteira Renegociada: Deve cair

    A queda nos índices de cobertura não tem sido motivo de preocupação para a gestão. Eles consideram natural que o índice fique baixo no final do ciclo de crédito. No primeiro trimestre de 2021, a cobertura estava em 350%, enquanto no primeiro trimestre de 2024 caiu para 164%. A gestão espera que o índice aumente nos próximos trimestres com o maior controle da inadimplência e retomada da expansão do crédito.

    Custos: Ajuste do footprint

    A linha de custos é um dos principais fatores para a recuperação da rentabilidade (ROE) do banco. No primeiro trimestre de 2024, o Bradesco apresentou um índice de eficiência de 50%, distante da meta de 40%. No entanto, as despesas operacionais ficaram sob controle, com um aumento de apenas 4,4% a/a, ficando abaixo do intervalo do guidance de 5% a 9%.

    O banco está avaliando seus pontos de atendimento, pois seus clientes mudaram seu comportamento nos últimos anos e já fazem 98% das transações por canais digitais.

    Ajuste dos Canais Físicos

    Por outro lado, em movimento contrário dos outros bancos, o Bradesco pretende contratar cerca de 3 mil pessoas para tecnologia (trocando profissionais atualmente terceirizados), visando ganhar agilidade na sua transformação. Atualmente, 45% dos processos já estão na nuvem e querem chegar a 75% até 2025. Assim, espera-se que as contratações dos programadores com os investimentos em tecnologia devem ofuscar parte da economia com otimização da presença física no curto prazo.

    Lucro: Melhora da inadimplência, aumento de NII e custos sob controle devem elevar a lucratividade

    Quando assumiu o cargo, o discurso inicial do novo CEO Marcelo Noronha foi que o Bradesco alcançaria uma rentabilidade (ROE) próxima do custo de capital de 14,6% apenas em algum trimestre de 2026, mas não descarta a possibilidade de atingir essa meta antes desse período. Os principais impulsionadores para a recuperação do ROE são: (i) Redução das Provisões; (ii) Melhora da NII clientes; e (iii) Contenção de Custos. Durante o período de queda significativa do ROE (saiu de 20% em 2019 para 10% em 2023), os fatores mais impactantes foram a deterioração na inadimplência, principalmente de pessoas físicas massificadas (varejo) e pequenas e médias empresas (PME), e a expressiva deterioração da margem com o mercado devido ao forte e rápido aumento da Selic.

    O banco entende que, para o ROE voltar a patamares mais atrativos, é preciso atacar em várias frentes e capturar as oportunidades que se apresentam, particularmente nos segmentos de maior spread/risco de varejo massificado e PME.

    Inadimplência (%): Forte elevação da inadimplência em PF e PME

    Margem com Mercado se deteriorou expressivamente em anos recentes

    Capital: Nova regra pode ter impacto negativo no capital do banco

    A expectativa para o ano é de manutenção do nível de capital Tier 1 do banco. O Tier 1 do banco no 1T24 foi de 12,7%, que deve fechar o ano próximo desse nível.

    Outro tema recorrente das reuniões com investidores está relacionado às recentes mudanças na legislação tributária brasileira, que poderão ser implementadas a partir de 2025. Segundo nossas estimativas, a nova regulação pode ter implicações significativas para o capital de Tier 1 do Bradesco, impacto de -1,5 pp no core Tier 1.

    A Lei 14.467, aprovada em 2022, altera a dedutibilidade fiscal das provisões para perdas com empréstimos, impactando diretamente o patrimônio de referência e o RWA dos bancos. O banco não revela estimativa de impacto pois aguarda esclarecimentos sobre a implementação da lei. Caso a nova lei venha a ser aprovada sem mudanças, acreditamos que o Bradesco tenha como mitigar parte desse impacto, enviando excesso de capital de várias subsidiárias para o banco.

    Atualmente no Brasil, as despesas com provisões de crédito não são dedutíveis do imposto de renda, apenas após os write-offs (baixa para perda) e extinção dos esforços de cobrança que essas despesas se tornam dedutíveis para fins de imposto de renda, o que ocorre tipicamente em prazos de 12-18 meses após o crédito se tornar inadimplente. Isso acaba gerando um descasamento entre o imposto contábil e o imposto pago efetivamente. Esse efeito acaba gerando créditos tributários por diferença temporal.  A nova lei aprovada muda esse esquema tributário a partir de 2025. De acordo com a nova lei, parte de um empréstimo vencido (mais de 90 dias) será dedutível do imposto de renda, reduzindo substancialmente o nível de crédito fiscais diferidos (DTAs) dos bancos ao longo do tempo.

    Apesar da nova lei aproximar os livros fiscais dos livros contábeis e também aproximar as regras do padrão internacional, no curto prazo, essa mudança provavelmente será negativa para as posições de capital de muitos bancos, incluindo o Bradesco.

    Pelo texto atual da regulação o estoque de ativos fiscais diferidos (DTAs) de um banco relacionados a perdas de crédito poderá ser amortizado de forma linear por 36 meses, começando em abril de 2025. No entanto, o problema para alguns bancos é que seu lucro fiscal antes dos impostos não será suficiente para amortizar todos os seus DTAs. Com isso, o valor não amortizado será transformado em prejuízo fiscal, o que seria dedutível diretamente do valor patrimonial de referência dos bancos. Na versão corrente, os créditos tributários por diferença temporal são acrescidos no cálculo dos ativos ponderados por risco (RWA).

    Como o capital Tier 1 é calculado dividindo o patrimônio de referência pelos ativos ponderados pelo risco, o impacto das amortizações seria nocivo ao capital de alguns bancos no curto prazo (diminuiria capital Tier1), principalmente dos bancos com pouco EBT (lucro antes de imposto) e alto valor de DTAs a serem amortizados.        

    Cielo: Após OPA, a Cielo pode ganhar mais agilidade e flexibilidade comercial

    O Bradesco também atualizou os investidores sobre o andamento da deslistagem da Cielo. O processo teve início em fev/24 e provavelmente deverá ter fim na segunda quinzena de ago/24, após o fim do leilão das ações, como já havíamos estimado (link para acessar o relatório).

    O preço estabelecido para a OPA aprovado em assembleia com minoritários foi de R$ 5,60 em abril de 2024, com correção pelo CDI diário até o último dia do leilão das ações. Em nossa nova simulação, ajustando nossas expectativas para o CDI e a data de conclusão da deslistagem, estimamos que o preço da OPA ao final do leilão deve ficar entre R$ 5,91 e R$ 5,95.

    Simulação de Correção do preço da OPA pelo CDI Até o final do Leilão: Deve ficar entre R$ 5,91 e R 5,95

    Do ponto de vista estratégico, o Bradesco acredita que a OPA da Cielo pode simplificar sua estrutura corporativa e organizacional, conferindo assim maior flexibilidade comercial e na gestão financeira e operacional no Brasil.

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