Após um ciclo de crédito desafiador e resultados abaixo dos concorrentes, o Bradesco anunciou hoje (23/11/2023) a substituição do CEO, Octavio de Lazari, pelo então Vice-presidente de Varejo, Marcelo Noronha. Lazari assumiu a liderança do banco em 2018, antes da pandemia. Nos últimos anos, o ROE do banco registrou uma queda significativa, passando de 20% em 2019 para 12% em 2023 (consenso), enquanto alguns de seus concorrentes conseguiram atravessar o ciclo adverso de crédito praticamente ilesos, mantendo ROE acima de 20%, como é o caso do Itaú e do Banco do Brasil.
A transição de liderança sinaliza a procura por novas estratégias para confrontar os desafios e revigorar o desempenho do banco. Diante da deterioração dos resultados e com o 3T23 e possivelmente no 4T23 com resultados ainda bem fracos, devido principalmente aos custos elevados com provisões para crédito, o mercado reagiu favoravelmente às mudanças. As ações do Bradesco apresentam hoje um aumento de cerca de 3% a 4% na B3 após o anúncio.
Lazari permanece participando ativamente dos principais comitês de assessoramento do conselho de administração e terá seu nome submetido ao cargo de membro do conselho.
Lucro: Em 2023, o Bradesco deve registrar o menor lucro dos últimos anos
Apresentando um ROE de apenas 12% em 2023, o Bradesco figura com a pior rentabilidade entre os principais bancos incumbentes
Naturalmente Noronha
Diante da falta de candidatos óbvios para a posição de liderança, a seleção de Marcelo Noronha surge como uma escolha natural, na nossa visão, trazendo talvez uma perspectiva de renovar e revitalizar a instituição.
Normalmente, o Bradesco dá preferência a talentos internos (prata da casa), com quase todos os CEOs começando suas carreiras no banco, bem jovens, muitas vezes como menores aprendizes. Apesar da trajetória de 20 anos de Noronha no Bradesco, o banco abre uma exceção quebrando uma tradição ao escolher um executivo que iniciou sua carreira fora da instituição – outra exceção foi Marcio Cypriano também oriundo de uma aquisição, presidente do banco de 1999 a 2009. Noronha iniciou sua carreira no Banorte em 1985 e ingressou no Bradesco em 2003, quando o banco adquiriu as operações do BBVA, onde ele atuava como diretor.
Outra mudança na escolha de Noronha foi que ele não passou pela seguradora, uma das unidades mais cruciais do conglomerado e um elemento vital durante este período de deterioração do crédito. Se não fossem os resultados robustos da seguradora, o ROE do banco teria sido consideravelmente inferior. Tradicionalmente, todos os CEOs lideram a Bradesco Seguros antes de assumirem a posição de CEO. Esses indicadores de mudança podem sugerir uma alteração significativa de paradigma.
O novo CEO terá um desafio significativo, mas com o pior do ciclo já encerrado ou próximo do pico, pode traçar uma agenda mais construtiva a partir de 2024, alinhando possivelmente os milhares de colaboradores para recuperar o market share perdido.
Durante os 20 anos de Bradesco, Noronha liderou as áreas de atacado e cartões do banco. Em janeiro de 2023, assumiu a responsabilidade pelo varejo e pela alta renda Prime do Bradesco, incluindo as iniciativas digitais (Next, Digio e Bitz).
Inicialmente, havia seis Vice-Presidentes (VPs) potenciais para a posição de CEO. Contudo, Moacir Nachbach, Rogério Câmara e José Rocha foram recentemente nomeados VPs. Cassiano Scarpalli, mais antigo no cargo de VP desde 2018, estava responsável pela tesouraria do banco, que, como veremos no próximo tópico, não teve um bom desempenho nos últimos dois anos.
Por fim, outro candidato em potencial para liderar a instituição, em nossa visão, era Eurico Fabri, atual Vice-Presidente do Atacado. No entanto, Fabri ocupou a posição de comando da área de Crédito e Varejo de 2019 até janeiro de 2023, período em que a deterioração da inadimplência impactou os resultados do banco.
Naturalmente, Noronha foi uma escolha natural na nossa avaliação. De longa data, o Bradesco enfrentava o desafio da sucessão do comando do banco, especialmente após a perda de grandes executivos, como Marco Antônio Rossi, que infelizmente faleceu em um acidente de avião em 2015, e o afastamento de Domingos de Abreu em 2018, devido ao envolvimento no caso Zelotes, apesar de ser inocentado posteriormente.
Mas o que derrubou os resultados do Bradesco?
Na nossa análise, identificamos três pontos principais que contribuíram para o desempenho inferior em comparação com os concorrentes:
- Custo de crédito. Altas provisões de crédito, principalmente vindo do aumento de inadimplência no Varejo baixa renda, resultado de uma gestão que não conseguiu antecipar a deterioração do ciclo de crédito;
- Tesouraria. Os resultados de NII mercado com resultados negativos em 2022 e 2023, quando historicamente rodavam com receitas de R$ 8b a R$11b por ano;
- Digitalização. A estratégia de manter bancos digitais (Next, Bitz e Digio) como entidades separadas para competir com os neo-banks e fintechs não alcançou o sucesso desejado, possivelmente subestimando a verdadeira necessidade de acelerar a transformação digital do núcleo do Bradesco. Além disso, os resultados pouco expressivos da sua adquirente, a Cielo, e a ausência de produtos e iniciativas integradas entre o banco e a adquirente também contribuíram para os desafios enfrentados.
Custo do Crédito: A deterioração da inadimplência levou ao aumento relevante das provisões de crédito de R$15b em 2018 para quase R$ 40b em 2023
Tesouraria (Receita de NII Mercado): O desempenho passou de muito positivo para negativo, indicando uma significativa reversão de tendência
Para corrigir o curso e retomar o crescimento, o banco precisa reduzir o apetite de risco, desacelerar a concessão de crédito e ajustar os modelos de crédito antes de retomar a expansão. No entanto, essa abordagem tem um lado negativo, pois a desaceleração no crescimento do crédito impacta a geração de receita de crédito (NII Clientes), que provavelmente permanecerá fraca nos trimestres seguintes.
Crédito: Nos últimos 2 anos, a carteira do Bradesco cresce pouco, perdendo market share
Breve Histórico Profissional do novo CEO. Com 58 anos de idade e natural de Recife, o novo Diretor-Presidente iniciou sua carreira bancária em 1985 no Banco Banorte, permanecendo até 1996. Em seguida, atuou como diretor comercial no Banco Bilbao Vizcaya Argentaria Brasil (BBVA) até a aquisição do BBVA pelo Bradesco em 2023, quando Noronha integrou-se ao quadro do banco. Em fevereiro de 2004, foi eleito diretor departamental do Bradesco, tornando-se diretor executivo adjunto em dezembro de 2010, diretor executivo gerente em janeiro de 2012 e diretor vice-presidente executivo em fevereiro de 2015, cargo que ocupou até novembro de 2023, quando foi eleito Diretor-Presidente. Durante esse período, Noronha liderou as áreas de atacado e cartões do banco. Em janeiro de 2023, assumiu a responsabilidade pelo varejo e pela alta renda Prime do Bradesco.
Outras experiências profissionais atuais:
- Membro da Mesa Regedora e Diretor Gerente da Fundação Bradesco
- Membro do Conselho de Administração da Elo Participações S.A.
- Membro do Conselho de Administração da Alelo Instituição de Pagamento S.A., Elo Serviços S.A. e Livelo S.A.
- Presidente do Conselho de Administração do Banco Digio S.A.
- Membro do Conselho de Administração da Cielo S.A. – Instituição de Pagamento
- Diretor Geral do Banco Bradesco BBI S.A.
- Membro do Conselho de Administração da BBD Participações S.A.
- Diretor Vice-Presidente da Bradesco Leasing S.A. – Arrendamento Mercantil.
- Membro do Conselho de Administração da Cidade de Deus – Companhia Comercial de Participações.