Como havíamos antecipado em nosso relatório de conversa entre investidores (clique aqui), o Bradesco deve anunciar junto com o resultado do 4T23 e o guidance de 2024, um amplo plano de reestruturação que deve abranger desde mudanças de gerências, redução de custos, investimentos em tecnologia, até mudanças culturais no banco.
Sob o novo comando do recém-empossado CEO, Marcelo Noronha, esperamos que o banco mude gradualmente ao longo dos próximos 2-3 anos para fazer frente as mudanças de um mundo mais tecnológico, ágil e menos presencial. O banco pretende voltar a crescer no segmento baixa renda, mas para isso terá que diminuir muito o custo de servir, o custo de aquisição e melhorar a inadimplência do segmento.
Esperamos que o 4T23 seja marcado por uma contínua e gradual melhora em relação ao 3T23. Em relação ao trimestre, não esperamos grandes mudanças, com um lucro recorrente esperado de R$ 4,7b (+1,9% t/t e +195% a/a) e um ROE ainda fraco em relação ao seu histórico, ficando em apenas 11,6% (+0,09pp t/t e +7,54pp a/a). Em nossa avaliação, os pontos positivos do trimestre são (i) melhora significativa t/t do NII Mercado e (ii) leve aumento da receita com tarifas. Por outro lado, o NII clientes deve continuar pressionado e as provisões devem sofrer uma leve expansão t/t com a retomada em algumas linhas mais agressivas.
Para 2024, vemos a carteira de crédito voltando a crescer em linha com o mercado e retomando aos poucos em produtos mais agressivos, ajudando na composição do NII Clientes (volume e spread). Além disso, acreditamos que o NII Mercado deva melhorar significativamente com a queda da taxa de juros e as provisões devem começar a aliviar com a queda da inadimplência. Projetamos um lucro recorrente de R$ 23,3b (+28,4% a/a) e um ROE de 14% (+2,4pp a/a), ainda aquém do nível de 20% estimado para Itaú e Banco do Brasil.
Com a perspectiva de melhora (conjuntural e estrutural) e de um valuation descontado, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço-alvo de R$ 20,3 (upside de +30%). Vemos as ações atrativas negociando apenas 7,1x P/L 24E e 1,0x P/VP 24E.
Carteira de crédito
Para o 4T23, esperamos que a carteira de crédito atinja R$ 656,5b, apresentando estabilidade a/a e fechando 2023 abaixo do guidance. Na comparação trimestral, devemos ver uma melhora na carteira, com expansão estimada de 5% t/t.
Apesar do fraco desempenho da carteira para 2023, acreditamos que essa situação pode se inverter para os anos seguintes. Esperamos que com a melhora nos indicadores de inadimplência, o banco deve voltar acelerar a carteira de crédito e aos poucos a retomar a originação em linhas mais agressivas, o que deve ajudar na composição do NII clientes. Assim, para 2024, esperamos um crescimento em linha com as estimativas da Febraban para o mercado, próximo de 8% a/a.
Com o aumento da inadimplência a partir do 1T21, notamos que o banco começou a compor sua carteira em linhas menos agressivas como consignado (saiu de uma representatividade de 13,8% no 1T21 para 14,5% no 3T23), agro (de 2,6% para 3,8%) e financiamento imobiliário (de 12,1% para 14,0%). A linha de cartões continuou aumentando, saindo de 7,7% no 1T21 para 11,2% no 3T23, no entanto, vimos o banco enxugando a oferta para indivíduos baixa renda e focando no alta renda.
Receita de juros (NII)
Margem com clientes: esperamos que a linha continue apresentando pressão neste trimestre. Estimamos uma queda de 0,9% t/t e 10,2% a/a, fechando o ano abaixo do guidance com um total de R$ 65,2b. Para 2024, esperamos que a linha volte acelerar ao longo dos trimestres conforme o banco melhore os spreads com a introdução de créditos mais agressivos, no entanto, projetamos que a linha deva ficar abaixo da carteira de crédito (+3% a/a), totalizando R$ 67,3b.
Margem com mercado: para o 4T23, esperamos uma melhora significativa no NII Mercado, chegando a R$ 654m, beneficiado pela queda da Selic e remarcação de ALM. Para 2024, esperamos que a linha tenha uma melhora expressiva em relação a 2023, totalizando R$ 3,6b.
Receita com tarifas
Acreditamos que as receitas de tarifas continuem pressionadas no 4T23, mas com aumento de +2,5% t/t e +1% a/a. Assim, para o ano fechado, a receita com tarifas deve ficar levemente abaixo do guidance com um total de R$ 36b (+0,7% a/a).
Para 2024, esperamos que a linha continue levemente pressionada com uma expansão de 4% a/a, representando uma ligeira melhora em relação a 2023.
Receita com seguros
Para o 4T23, a frente de seguros deve continuar sendo o grande destaque do resultado. Estimamos que a linha atinja R$ 5b no trimestre (+9,6% t/t e +17,9% a/a), ficando próximo do topo do guidance em R$ 18,2b (+23% a/a). Para 2024, esperamos que a linha continuará entregando bons frutos com um total de R$ 20,4b (+12% a/a).
Custo de Crédito (PDD)
Para o 4T23, esperamos um leve aumento t/t de +4% nas provisões (PDD) chegando a R$ 9,5b. Na comparação a/a, a PDD deve retrair 36% (lembrando que no 4T22 houve reconhecimento das provisões de Americanas). Assim, 2023 deve fechar entre o meio e o topo do guidance com um total de R$ 38,6b (+19,4% a/a).
Para 2024, esperamos que as provisões apresentem uma melhora de -8% a/a, já que estimamos que a inadimplência deve começar a melhorar, fazendo com que o banco necessite realizar menores provisões.
Despesas administrativas
Para este trimestre, estimamos um aumento de 6,9% t/t e 4,7% a/a nas despesas administrativas totais, impactado em parte pelo dissídio realizado em set/23 que afeta o 4T como um todo. Assim, 2023 deve fechar próximo do meio do guidance. Para 2024, esperamos que as despesas cresçam próximo da inflação (+4,3% a/a).
Imposto
Para os impostos, esperamos uma alíquota de 10,6%, beneficiado pelo pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) sobre o lucro operacional mais fraco. Já para 2024, estimamos que a alíquota comece a se normalizar com a retomada do resultado operacional, ficando em 20%.