Como já antecipados nos números divulgados pela SUSEP até fevereiro, o resultado do 1T24 do IRB mostrou uma melhora relevante, porém ainda com uma rentabilidade baixa. O lucro líquido recorrente da resseguradora, totalizando R$79,1 milhões, apresentou um considerável crescimento de +108,6% em relação ao trimestre anterior (t/t) e +132,6% em relação ao mesmo período do ano anterior (a/a). Além disso, superou nossas expectativas em 7,4% e ficou 11,4% acima do consenso. Apesar desse avanço, a rentabilidade (ROE) ainda se mantém modesta, alcançando apenas 7,4%, consideravelmente abaixo de seu custo de capital estimado entre 15-17%. No entanto, destaca-se uma melhoria significativa em relação ao 1T23 e ao 4T23, nos quais os ROEs registraram apenas 0,8% e 3,6%, respectivamente.
A melhora no desempenho foi impulsionada por uma significativa redução do índice de sinistralidade para 58,2%, com queda de -19,1pp em relação ao ano anterior. A melhora no sinistralidade foi parcialmente compensada por uma piora (aumento) no índice de comissionamento para 27,8%, incremento de +8,5pp a/a e queda de 7,2 pp t/t. Apesar da melhora trimestral, o índice de comissionamento ainda se encontra bem acima do usual patamar de algo em torno de 20%. Com isso, o índice combinado ficou em 99,0%, em linha com nossa estimativa, alcançando um breakeven operacional (índice combinado igual ou inferior a 100%) pela primeira vez desde 4T19 – um trimestre antes do imbróglio com fraudes contábeis e falsidades sobre a participação acionaria da Berkshire no IRB.
Em relação às fortes chuvas no estado do Rio Grande do Sul, o IRB alega que não é possível estimar o impacto dos sinistros na região, uma vez que o evento ainda está em andamento. No entanto, o IRB está exposto a diversas linhas de negócio que podem ser afetadas, incluindo patrimonial, rural e residencial, contanto que haja cobertura para alagamentos e enchentes nesses contratos. Ademais, o impacto potencial pode ser atenuado por meio de operações de retrocessão, que visam a reduzir o tamanho das perdas.
Para 2024, por enquanto sem contar com grandes impactos das enchentes no RS, projetamos um lucro de R$ 341 milhões, um crescimento expressivo de 92,3% em relação ao ano anterior. No entanto, a rentabilidade (ROE) deve permanecer baixa, em 7,8%, mas com uma melhoria significativa de 3,6pp em comparação a 2023. Esperamos que o lucro seja impulsionado pela retomada do crescimento dos prêmios emitidos e pela melhoria do índice combinado ao longo do ano, encerrando em 98,2% (-10,3pp a/a).
Ciclo Melhora em 2024 e Suaviza em 2025. A Fitch Ratings prevê que as margens de subscrição dos resseguradores atinjam seu ápice em 2024, após aumentos significativos de preços e termos mais rígidos em 2023 e nas renovações de janeiro de 2024. Espera-se que o mercado de resseguros comece a se suavizar em 2025, à medida que os altos retornos atraiam novo capital. Nas renovações de janeiro de 2024, os preços subiram em linha com os padrões de inflação de sinistros, variando entre 5% e 10% na maioria das linhas de negócios.
Crescimento da Indústria de 10%. Nos últimos três anos, o mercado segurador brasileiro registrou um crescimento acima de 10%, conforme dados da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras). De acordo com a plataforma IRB+Inteligência, o mercado segurador iniciou 2024 com um crescimento de 10,3% em relação a janeiro de 2023.
Apesar da sinalização de melhora nos resultados do IRB, reiteramos nossa recomendação de MANTER, pois consideramos que a empresa está negociando com múltiplos justos para uma empresa de capital intensivo com rentabilidade (ROE de 7,8%) bem abaixo do seu custo de capital (Ke de 16,6%): 9,5x P/L para 2024, 6,1x P/L para 2025 e 0,7x P/VP para 2024. Além disso, a piora esperada no ciclo de precificação a partir de 2025 pode postergar ou suavizar os planos de recuperação de rentabilidade do IRB. Em 2023, as resseguradoras globais entregaram uma rentabilidade (ROE) recorde entre 15-23%, níveis bem acima do histórico da indústria, em um ano benigno em termos de preço. O nosso receio é que em anos em que a indústria está com desempenho recorde, a IRB está se recuperando. Quando o mercado virar, o IRB poderá pegar um mercado bem mais competitivo.
Mais a longo prazo, as principais resseguradoras têm investido em robotização e automação de processos, utilização de dados em tempo real, análise de dados para insights de negócios e desenvolvimento de produtos, bem como a aplicação de Inteligência Artificial e Machine Learning.
Nosso preço-alvo de R$ 44,1 considera o modelo de Gordon Growth com um ROE de longo prazo de 14,5%, custo de capital próprio (Ke) de 16,6% e crescimento (g) de 5,5%.
IRB Re (IRBR3) | 1T24: Lucro operacional (EBIT) positivo
Nossos sentimentos pelo falecimento de Willy Otto Jordan Neto, Vice-Presidente do IRB e amigo (♰ 12 de maio de 2024)
Caixa: Fortalecido por precatórios
Em maio/24, o IRB recebeu o valor líquido R$ 277,4m referente a um precatório pago pela União Federal. O saldo efetivo de adição de caixa será de R$ 185,5m devido ao resgate antecipado das debêntures da 3ª emissão no montante de R$ 91,9m. Acreditamos que este fato deve contribuir positivamente para o resultado financeiro da empresa para os próximos trimestres.
Prêmios: Ainda em queda
Os prêmios emitidos totais chegaram a R$ 1,44b no 1T24, representando uma contração de -8,6% t/t e -9,1% a/a. O prêmio emitido no Brasil alcançou R$ 1,06b, um aumento de +5,3% a/a, alinhado à estratégia de foco no mercado local, com destaque positivo para os segmentos Patrimonial (+14,8% a/a) e Rural (+13,8% a/a). O prêmio emitido no exterior atingiu R$ 380m, contração relevante de -34,2% a/a. Essa redução é resultado da estratégia de limpeza de carteira, e da diminuição da exposição internacional, que representou 26% do total no trimestre.
Retrocessão. A despesa total com retrocessão ficou em R$ 315,7m, apresentando uma melhora de -57,6% t/t e -5,7% a/a. O índice de retrocessão chegou a 21,9%, uma forte redução de 25,3pp t/t, mas com leve aumento de 0,8pp a/a, impactado pelo menor nível de receita (prêmios ganhos).
Prêmios ganhos. Apresentaram queda de -15,1% t/t e -24,7% a/a, em linha com a diminuição do prêmio emitido.
Sinistralidade: Robusta melhora a/a
O índice de sinistralidade reduziu-se significativamente na comparação anual, passando de 77,3% para 58,2%, uma queda de -19,1 pp, refletindo o movimento de limpeza da carteira feito nos últimos trimestres. Além disso, houve uma reversão de R$ 30m de IBNR, melhora considerável quando comparado a constituição de R$ 130m de provisões no 1T23.
- Brasil: O índice de sinistralidade ficou em 44,7%, melhora relevante de -31,5pp a/a. No trimestre, a linha foi beneficiada pela redução da sinistralidade do segmento property (-40pp a/a) e Agro (-30,4pp a/a).
- Exterior: O índice de sinistralidade atingiu 79% no 1T24, uma melhora significativa em relação aos 93,3% reportados no 1T23. A melhora é reflexo da queda da sinistralidade no segmento Vida (-59,8% no 1T24 vs. 303,4% no 1T23).
Comissionamento: Acima do histórico de 20%+
O índice de comissionamento atingiu 27,8% (-7,2pp t/t e +8,5pp a/a), ainda acima do usual próximo de 20%. O aumento na comparação anual ocorreu, novamente, devido aos adiantamentos de comissões no segmento Vida. Tirando esses efeitos dessa vertical, o índice de comissionamento teria se comportado de maneira mais estável, próximo a casa dos 20%, com leve aumento a/a (+1pp).
O custo de aquisição da empresa alcançou R$ 252,5 milhões, um aumento de +8,2% a/a em relação aos R$ 233,2 milhões do 1T23.
Despesas: Melhora t/t
O índice de despesas administrativas ficou em 8,2%, uma melhora de -1,4pp t/t e piora de +0,9pp a/a. Apesar da piora anual do índice, o montante das despesas administrativas no 1T23 foram de R$ 88m, maior que os R$ 75m reportados neste trimestre, devido ao acordo com o DoJ de R$ 25m que ocorreu naquele período.
Resultado de underwriting (subscrição): Forte melhora a/a
No 1T24, o IRB reportou um resultado de underwriting (resultado após sinistros e comissão) positivo de R$ 122,4m, em comparação com os meros de R$ 3,4m no 1T23. O trimestre foi reflexo de melhorias em praticamente todos os segmentos (excluindo “outros” que piorou -41% a/a). Segundo a empresa, os ajustes no portfólio estão gradualmente contribuindo para melhorar o resultado de underwriting à medida que os contratos mais recentes amadurecem, prevendo uma sinistralidade mais baixa, enquanto os sinistros dos contratos mais antigos se tornam menos significativos em sua contribuição para o resultado.
Combinado: Finalmente inferior a 100%
O índice combinado, que reflete a capacidade de geração de resultado operacional da companhia, ficou em 99%, atingindo o breakeven operacional (menor ou igual a 100%), com uma significativa melhora de 11,9pp a/a.
Resultado financeiro e patrimonial: Fortalecendo o lucro
O resultado financeiro e patrimonial totalizou R$ 141,6m (+13,6% t/t e -2,7% a/a), impactado na comparação anual pelo menor volume de ativos financeiros e menor taxa de juros. A linha continua contribuindo significativamente para o lucro da companhia.
Imposto
A alíquota de imposto no trimestre foi de 40,7%. Acreditamos que a companhia não usufruiu do crédito tributário no trimestre.
Suficiência do patrimônio
A suficiência de patrimônio líquido ajustado atingiu 169% no trimestre, apresentando um aumento de 13pp t/t e 64pp a/a, superando o capital mínimo requerido de 100%.
Cobertura das provisões técnicas
O índice de cobertura de provisões técnicas ficou em R$ 370m, em comparação com R$ 239m no 1T23, representando um crescimento de 55% a/a.