Panorama Geral
No mês passado, comentamos sobre uma possível diminuição nos lockdowns na China a partir do início de Junho. Isso de fato ocorreu, mas não por muito tempo. Uma semana depois do afrouxamento das restrições sanitárias, Xangai, o principal polo industrial do país, voltou a relatar alguns casos de infecção por covid, o que, devido a política de “covid zero” do governo chinês, fez com que fossem reimplementados alguns confinamentos obrigatórios.
A contínua aplicação dessas medidas agravou ainda mais a crise de semicondutores, que segue impactando diretamente a oferta e consequentemente os preços dos automóveis no Brasil. A Volkswagen anunciou que irá reduzir a jornada de trabalho em uma de suas fábricas em 24% devido à falta de componentes para fabricar os veículos. Além disso, a Toyota informou um corte no seu plano de produção no mês de julho. Devido à falta de chips, a montadora deixará de produzir 50 mil veículos globalmente.
Como consequência, de acordo com o IPCA divulgado em maio o preço de automóveis novos e usados já acumula alta de 17% e 15% no acumulado de 12 meses e 5,62% e 3,77% desde o início do ano de 2022.
No fim de junho, o governo federal anunciou o Plano Safra 22/23, mas na nossa visão o impacto nas vendas de caminhões não deve ser tão relevante. Embora os recursos para custear a produção agrícola tenham subido em 36% em relação ao plano anterior, desta vez o custo operacional do produtor agrícola também subiu.
Brasil
A Fenabrave divulgou os dados de emplacamentos de automóveis no mês de maio. O total de veículos vendidos somou 139 mil, um aumento de 27% em relação ao mês de abril e uma leve queda de 2,2% na comparação anual. No ano de 2022, os registros somam aproximadamente 550 mil, número 18% menor no comparativo do ano anterior.
Já o emplacamento de caminhões totalizou 10 mil veículos no mês de maio, sendo 10% maior que o mês de abril e 9% menor que o mesmo mês no ano de 2021. O acumulado foi de 46 mil, sendo 1% menor na comparação anual.
Reparem que a produção de caminhões tende a ser menos impactada pela diminuição na oferta de semicondutores, devido a menor complexidade que os chips destes veículos possuem quando comparados aos automóveis, além de serem produzidos em menor escala. Ademais, existe uma maior priorização das montadoras em caminhões devido as margens maiores. Isso aliado ao crescente desempenho da indústria agropecuária fez com que a produção de caminhões durante a crise de semicondutores fosse maior que a média dos últimos 20 anos
O emplacamento de implementos somou pouco mais de 7 mil unidades no mês de maio, quando comparado ao mês anterior mostra um número 9,78% maior, já na comparação com maio de 2021, esse número foi 11,47% menor. No acumulado, o número de implementos chegou a 33 mil, sendo 14,79% menor que o mesmo período do ano anterior.
As vendas de máquinas agrícolas subiram 24,8% de março para abril, chegando a 6,1 mil unidades segundo balanço divulgado Fenabrave. Na comparação com março do ano passado, as vendas tiveram alta de 35,1%, o que resultou em um crescimento de volume acumulado nos quatro primeiros meses do ano de 36,6%, totalizando 20,2 mil unidades até abril. As estatísticas de máquinas agrícolas têm defasagem de um mês em relação ao balanço das vendas de carros.
EUA e EU
Nos EUA, o registro de automóveis e caminhões recuou levemente com relação ao mês de abril. O que nos chama a atenção nos números desse ano é que eles foram muito abaixo dos reportados em 2021, se igualando aos números de produção de 2020, ano de pandemia.
Os automóveis somaram 242 mil unidades, sendo 9,8% menor que o mês passado e 36% menor que o mês de maio em 2021. Já a venda de caminhões leves e pesados totalizou 896 mil, número 11,2% menor na comparação mensal e 27% menor na base anual.
Na Europa os números de veículos comerciais apresentaram variações mistas. Os registros de comerciais leves subiram 6,6% m/m e caíram 23,5% a/a, totalizando 121 mil no mês de maio. Já os comerciais pesados subiram 7,5% na comparação mensal e 5,4% na comparação anual, somando aproximadamente 19 mil unidades.
Um notícia divulgada recentemente reforça nossa tese de que o mercado de blocos e cabeçotes de motor não está com os dias contados. No segmento de pesados, Cummins e a Komatsu anunciaram um acordo para desenvolver caminhões de mineração com soluções como a célula de combustível de hidrogênio.
Empresas
Tupy (TUPY3): Embora as vendas de veículos pesados nos EUA continuem caindo, acreditamos que a empresa deve se beneficiar no movimento de recomposição de estoques. Mesmo com agendas de investimento em infraestrutura espalhadas pelo mundo, o cenário de recessão global não abre espaço para incrementos significativos de volume. Apesar disso tudo, quando olhamos para o valuation de Tupy vemos uma companhia exageradamente descontada. Anulando o crescimento da MWM entre 2021 e 2023, nossas estimativas apontam para um EBITDA de R$ 1.2 bilhões para a Tupy em 2023. Adicionando os R$ 216 milhões de EBITDA reportados pela MWM em 2021 enxergamos as empresas combinadas à 3,7x EV/EBITDA 2023. Em tese, esse número deve ser ainda mais baixo, à medida que a aquisição da MWM traz inúmeras sinergias e expande as avenidas de crescimento de ambas as companhias.
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Randon (RAPT4): Embora as vendas de implementos rodoviários tenham se enfraquecido no Brasil a empresa divulgou ótimos números relativos à receita no mês de maio. O valor de R$932 milhões foi 34,8% maior que o mesmo período do ano passado e 10,82% maior que o mês de abril. No acumulado de 2022 os R$ 4,25 bilhões representam um crescimento de 28,9%. A Fras-Le teve seu melhor mês de 2022, totalizando 259,1 milhões, crescimento de 26,9% a/a e 11% m/m. A Randon abriu mão de market share nos últimos trimestres em troca de margem, perdendo a liderança para sua principal concorrente (Facchini). Visando recuperar sua participação no mercado de implementos, a companhia deverá apresentar pequenas reduções de margens nos próximos trimestres.
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