Empresa errou no sortimento, precificação e timing da troca de coleção de outono/inverno no 1º trimestre. Esses erros, junto ao cenário macroeconômico ainda restritivo para varejo discricionário, acabaram sacrificando parte da margem desse 2º trimestre.
O resultado foi a foto que vimos nesse trimestre. Não foi uma foto bonita! Apesar de um fluxo de caixa livre maior (que pode ser explicado dado o menor nível de investimentos nas controladas, menor capex do período e otimização do contas a receber), a companhia mostra um resultado operacional ainda mais anêmico do que o apresentado no 1º trimestre – resguardado os impactos sazonais.
Apesar de entender que a partir do 2º semestre, a base comparativa começa a ficar mais interessante, mantemos a nossa visão NEUTRA em LREN3 (target 2023E de R$ 20,50).
Analisando os acessos mensais dos apps de vestuário low price (Gráfico 1), vemos a Shein ganhando espaço no mercado vestuário. Ainda que não seja possível inferir sobre a conversão desses acessos em compras, continuamos a ver o consumidor ainda sensível a preço.
Esperaremos resultados mais concretos do ajuste de sortimentos a ser feito pela Renner ao longo dos próximos meses, que terá um maior foco na exposição de produtos de entrada (low price). Em release, a companhia briefou que a estratégia começou a trazer resultados em junho (a ver). Se acertada, essa estratégia poderia voltar a alavancar operacionalmente a companhia. Ficaremos de olho!
Gráfico 1: Acessos mensais dos aplicativos, retirado do Similarweb e elaborado pela Genial. Não considera iOS.
Separamos os cinco principais destaques desse resultado. Confira!
Separamos cinco tópicos que acreditamos serem os principais do resultado postado:
(I) Retração de receitas
Em meio a um cenário macroeconômico que pressiona o poder de compra dos clientes, a Renner segue lidando com uma demanda enfraquecida. Frente a um menor apetite por consumo por parte dos clientes, a dinâmica do trimestre não foi diferente do que comentamos em nossa prévia – sendo marcada por tickets reduzidos e menos itens na cesta. Somando o fraco volume de vendas a uma forte base de comparação consolidada no 2T22, a Renner postou uma desaceleração de -6,0% a/a da receita de varejo.
(II) Alto nível de remarcação
Quando colocamos o resultado em comparação com o 2T22, vemos uma forte desaceleração. A base do ano passado, é marcada por um aumento de volume – caracterizado pela demanda reprimida da pandemia e um inverno antecipado – provocando um dos menores níveis de remarcação da história da Renner.
Nesse ano, o fato de a companhia ter antecipado sua coleção de outono/inverno no 1º trimestre de maneira equivocada, trouxe um estoque pesado e fora de época para o 2º trimestre. O clima, ao ter temperaturas médias maiores em suas principais praças (ver gráfico 2A e 2B), penalizou a estratégia da Renner.
O fruto disso? Menores volumes de venda e maiores níveis de remarcações, trazendo pressão significativa na rentabilidade. A companhia reportou um lucro bruto de R$ 2,1b (-4,9% a/a; +1,2% vs. Est. Genial) e uma margem de varejo de 53,9%, caindo -220 bps a/a e -75 bps vs. nossa estimativa.
Gráfico 2: Evolução da temperatura anual para São Paulo e Porto Alegre. Elaborado pela Genial a partir de dados do INMET.
(III) Baixa alavancagem operacional
Devido a maiores níveis de despesas operacionais, principalmente nas linhas de gastos com o novo CD Omni e reestruturação administrativa, e a queda anual de receita, a proporção do SG&A dentro do faturamento aumentou +330 bps, saindo de 33,3% no 2T22 para 36,6% neste 2º trimestre.
A soma desses fatores junto de maiores níveis de remarcações e a queda da margem bruta, fez com que o EBITDA retraísse -31,4% ano contra ano, para R$ 482m, com margem de 13,7% (-560 bps a/a).
(IV) Realize: de mal a pior
Se avaliamos que o resultado de varejo foi operacionalmente fraco, a situação fica ainda pior quando olhamos para a Realize. Diante de um macro ainda desafiador para o consumo discricionário, a Renner tem apertado o freio na concessão de crédito.
Sem dúvidas, essa é a estratégia correta a ser feita nesse cenário. Contudo, mesmo com a desaceleração do book, as safras de concessão de crédito antigas vêm cobrando o seu preço para a varejista, que precisa lançar um maior provisionamento do portfólio em atraso. O NPL>90 do Co-Branded aumentou 1,40 p.p. na visão sequencial, atingindo 20,3% do portfólio.
O pior dos dois mundos. Ao somarmos o menor crescimento de carteira com a maior perda estimada de crédito (Gráfico 3), a vertical de soluções financeira da Renner se consagrou como uma grande detratora de margem operacional para o grupo, apresentando um resultado negativo em R$ 53,7m (anteriormente positivo em R$ 11,9m no 2T22).
Gráfico 3: Crescimento da carteira de crédito do Meu Cartão e perdas estimadas. Elaborado pela Genial a partir de dados da companhia.
(V) Uma alíquota maior que a nossa estimativa
Favorecida por um maior reconhecimento de incentivos fiscais como subvenção para investimentos (operação de importação em SC e crédito presumido de ICMS em SC e RJ), a última linha do resultado ficou acima de nossa projeção.
Com um IRPJ/CSLL de R$ 34m (vs. Est. Genial negativa em R$ 21m), a Renner consolidou um lucro líquido 60% superior ao estimado, em R$ 230m (-36,4% a/a) e uma margem líquida de 6,6% (-340bps a/a).