De maneira geral, acreditamos que o 1T23 seja um trimestre neutro para as empresas do setor industrial. Se por um lado, a demanda permanece alta no continente americano, por outro, a mudança de governo no Brasil gerou ao longo do 1T23 uma diminuição do fluxo de investimentos nos setores ligados a economia doméstica. Além disso, uma redução da atividade industrial na Europa também deve frear parte das exportações para o continente. Sendo assim, o cenário mais resiliente nos EUA deve manter as receitas nos segmentos industriais em patamares favoráveis, contribuindo para o aumento do volume de produção/exportações.
O dólar, apresentou mais um trimestre de queda, com uma média de R$ 5,19 ao longo do 1T23, mas ainda se manteve em um patamar elevado se comparado com a média de 2022. Com isso, esperamos que caso hajam quedas nas receita destinadas ao mercado externo.
Olhando para os PMIs de manufatura das 3 principais regiões de atuação das empresas do setor (Brasil, EUA e Europa), vemos que o sentimento de confiança no continente norte-americano melhorou, contrariando nossas expectativas de que a região pudesse apresentar certa desaceleração no início do ano.
Na Europa, apesar de o inverno menos rigoroso, os índices de inflação continuam em uma tendência altista, diminuindo ainda mais o nível de atividade do continente. Adicionalmente, apesar de uma menor pressão de custos de matéria-prima, ainda assim vemos uma redução da atividade industrial quando observamos o PMI da Zona do Euro.
Custos
No que diz respeito aos custos, esperamos que a normalização dos preços de frete e matéria-prima ajudem no processo de recomposição/manutenção de margens. Apesar de uma dinâmica de custos melhor, a diminuição de demanda em alguns setores pode fazer com que uma manutenção de preços se torne algo mais difícil, contrabalanceando a redução dos custos e travando as margens.
No entanto, os recentes eventos de China e Turquia impactaram a oferta mundial de aço. Tanto a reabertura chinesa quanto o terremoto no país turco ocasionaram um aumento elevado no preço do metal. No entanto, dado que o estoque utilizado pelas empresas ainda deve ser contabilizado utilizando o preço do 3º e 4º trimestre, esperamos que o efeito desse aumento seja sentido apenas nos próximos trimestres.
Por fim, quando falamos de energias renováveis, esperamos que o fim do benefício fiscal para a instalação de usinas solares voltadas geração distribuída diminua o nível de vendas de células e módulos fotovoltaicos numa velocidade maior do que a esperada pelo mercado.
Já no segmento eólico, o ano promete ser totalmente diferente do que observamos em 2022, permanecemos com perspectivas mais positivas. Segundo a Abeeólica, a estrutura regulatória voltada para viabilizar a realização de estudos e projetos de parques offshore já está em andamento. Além disso, tivemos o anúncio da implantação de 4 novos parques eólicos onshore no Rio Grande do Norte, que ao todo, totalizam cerca de 202,5 MW de capacidade instalada, com um investimento total previsto de R$ 1,3 bilhões. Esses anúncios, são importantes não apenas pelo volume de investimentos destinados, mas sim por refletir um rearranjo de toda a cadeia eólica no Brasil. Os novos contratos firmados no passam a imagem de que a cadeia está se adaptando ao novo patamar de custos.
Weg (WEGE3)
Para o 1T23, estimamos uma receita líquida de R$ 7,8 bilhões (+14% a/a e -2,5% t/t) e um EBITDA de R$ 1,5 bilhões (+20,9% a/a e -4,4% t/t), com um lucro líquido de R$ 1,1 bilhões (+21,2% a/a e -4,1% t/t).
Em suma, acreditamos que a Weg deverá reportar um trimestre misto. A mudança de governo no Brasil aliada a diminuição de atividade industrial na Europa deve diminuir a receita de produtos de ciclo curto, algo que já conseguimos antever se observarmos as exportações de máquinas realizadas durante o 1T23. Por outro lado, a carteira de pedidos voltada para produtos de ciclo longo deve ser o grande destaque positivo do trimestre. Os projetos de expansão de capacidade em T&D nos EUA e da fábrica de motores no México devem garantir um bom desempenho das linha de energia e motores industriais no mercado externo.
Quando falamos de GTD, em nossa visita à fábrica de transformadores, observamos uma operação em capacidade próxima à máxima, reflexo da boa carteira de pedidos construída nos últimos anos. O bom desempenho de transformadores no Brasil, deve compensar a piora na linha de placas solares. Na nossa visão, embora o segmento de geração distribuída tenha apresentado queda relevante no aumento de capacidade instalada no 1T23 vs 4T22, o bom desempenho da geração centralizada deve mitigar parcialmente essa queda.
Mantemos nossa recomendação de COMPRAR para WEG com preço alvo de R$ 47,50.
Aeris (AERI3)
Projetamos para o 1T23 uma receita líquida de R$ 829 milhões (+54,4% a/a e +26,5% t/t) e um EBITDA de R$ 93 milhões (+79,9% a/a e +14,6% t/t), além de um prejuízo de R$ 11 milhões.
Já para Aeris, esperamos mais um trimestre positivo em termos operacionais, porém ainda pressionada pelo alto nível de despesa financeiro. A falta de aditivos contratuais ainda não da margem para novos incrementos de receitas. Além disso, esperamos que o ticket médio das pás do trimestre seja relativamente semelhante ao que observamos no 4T22.
Continuamos com uma perspectiva mais otimista para Aeris em relação a 2023. A viabilização de novos projetos offshore e a implantação de novos projetos no nordeste devem auxiliar no processo de adição de contratos.
Em maio, a maior cliente da Aeris a Vestas (43% receita total), anunciou que recebeu um pedido de turbinas eólicas equivalentes a 1,31 GW, que serão utilizados no lançamento de dois complexos eólicos no Nordeste. Somados, ambos os projetos totalizam R$ 9 bilhões em investimentos. Dado que a Aeris é a principal fornecedora de pás da empresa dinamarquesa, acreditamos que, muito provavelmente, os projetos utilizarão pás fabricados por ela. Com isso, estimamos que entre 20 ~ 22% dos investimentos previstos sejam destinadas para compra de pás eólicas. Apenas esse novo contrato da Vesta, poderia gerar algo próximo a R$ 2 bilhões de receita para a fabricante brasileira, montante este que é superior ao ao seu valor de mercado.
Mantemos nossa recomendação de COMPRAR para Aeris com preço alvo de R$ 2,80.