Semana negativa para maioria das classes de ativos, com bolsas, commodities e moedas de países emergentes recuando após investidores reconsiderarem a trajetória dos juros nos EUA. No entanto, movimento favoreceu apreciação do dólar global, bem como das treasuries norte-americanas. No Brasil, a semana foi de volatilidade, com o governo e Banco Central suavizando o discurso mas com tensão ainda presente. A temporada de balanços ganhou corpo com resultados importantes das empresas brasileiras.
Mais juros nos EUA; ruim para ações, crypto e commodities
Após uma sequência de dados econômicos fortes, especialmente no lado da inflação e do emprego nos EUA, os ativos de risco voltaram a operar sob pressão. Nos últimos dias, a despeito de alguns “soft datas” mais fracos, vimos um Core CPI ainda em patamar incompatível com os desejos do Fed, um PPI reacelerando, além de Payroll e Jobless Claims (dados de emprego) extremamente fortes.
CPI (jan/23): Em janeiro, o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) avançou 0,5% na comparação mensal, vindo em linha com as expectativas de mercado. Desse modo, a inflação acumulada em doze meses ficou em 6,4%, desacelerando 0,1 p.p. frente aos 6,5% do mês imediatamente anterior, e ficando 0,2 p.p. acima das estimativas. No que diz respeito ao núcleo da inflação (que exclui alimentos e energia), a variação mensal foi de 0,4%, também vindo de acordo com o esperado pelo mercado. A métrica de 12 meses veio 0,1 p.p. acima do esperado e agora se encontra em 5,6%, recuando 0,1 p.p. ante os 5,7% registrados em dezembro.
E não bastasse os dados mais negativos, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester disse ter visto razões suficientes para apoiar uma alta de 0,50% para a próxima reunião FOMC, ao mesmo tempo em que Bullard, também afirmou que não descarta defender um aumento dessa magnitude. Importante dizer que ambos não possuem direito a voto em 2023.
Goldman Sachs agora espera que Fed eleve juro ao patamar de 5,25-5,5% em junho, com mais três altas de 0,25 pontos percentuais. Mercado precifica taxa de 5,3% em julho (de 4,9% há duas semanas). Assim como Goldman Sachs, o BofA, passou a estimar três altas de juros de 0,25 ponto percentual nos EUA (março, maio e junho), até taxa terminal de 5,25-5,5%.
IBC-Br (dez/22): Em linha com nossa projeção, indicador tem expansão de 2,9% em 2022.
Em dezembro, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) avançou 0,29% m/m, na série com ajuste sazonal, em linha com a mediana das expectativas de 0,3% m/m (Broadcast+). Ademais, houve uma revisão baixista para o dado de novembro aprofundando a queda apresentada, que passou de -0,55% m/m para -0,77% m/m. Em relação ao mesmo mês de 2021, houve expansão de 1,42% a/a.
CURVA DE JUROS
Apesar do fechamento da curva de juros na semana, a inclinação dos vencimento medianos e mais longos continua diante das incertezas sobre a trajetória da dívida pública. Como destaque da semana tivemos a participação do RCN no programa Roda Viva, no qual teve tom ameno e declarações menos intensas do governo em relação a âncora monetária. Na reunião do CMN não foi pautada a revisão as metas de inflação, mas o tema ainda segue em discussão.
PRÉVIAS: Temporada de Balanços
Minerva (BEEF3): irá reportar seus resultados do 4T22 na próxima quinta-feira (23/02). No geral, estamos em linha com as expectativas do mercado para o trimestre, e otimistas com a performance da Minerva. O ciclo de carne bovina no Brasil está em processo de reversão para o lado positivo – vimos os preços do boi gordo em altas históricas durante quase todo o ano de 2021, e, atualmente, com o número de bezerros em forte alta e uma maior disponibilidade de gado no país, fatores que vem sendo antecipados pelo mercado, o preço do gado vem passando por diversas quedas, o que beneficia a empresa.
BRASIL: Temporada de Balanços
Assaí (ASAI3): Assaí reportou um resultado positivo, com a companhia apresentando uma rentabilidade acima do esperado. A dinâmica de faturamento do Assaí veio perfeitamente dentro do esperado. A maior contribuição para esse crescimento, +27,8%, veio das 60 lojas abertas (47 conversões + 13 orgânicas) nos últimos 12 meses – um número que se consolidou acima da banda superior do guidance inicial de 52 unidades. A surpresa agradável veio da manutenção de margem bruta, ano contra ano. Tínhamos a expectativa de que o Assaí precisaria “gastar um pouco mais de munição”, haja vista o agressivo cronograma de abertura de lojas nesse cenário macroeconômico mais desafiador (inflação alimentar ~2x superior à inflação geral).
B3 (B3SA3): B3 reportou mais um trimestre com pouca evolução de lucro (de lado t/t e 8% abaixo do 4T21). Com o cenário de juros alto que desfavorece a maior parte de seus produtos, a B3 reportou um lucro contábil de R$ 1,0b no 4T22, em linha com nossas expectativas, mas 13% menor que o consenso do mercado. De certa forma, as receitas até tiveram uma boa evolução de +5,6% a/a e +2,4% t/t, impulsionadas por maiores volumes no balcão, principalmente nos produtos de renda fixa, e receita de dados e tecnologia com a incorporação da aquisição da Neoway. As despesas, no entanto, tiraram um pouco do brilho operacional do trimestre.
Banco do Brasil (BBAS3): Com um lucro recorrente de R$ 9,0b no 4T22, o Banco do Brasil (BB) reporta o maior lucro entre os bancos incumbentes no trimestre e também no ano. Título que se manteria, mesmo se tivesse contabilizado 100% de provisões de Americanas no trimestre. Com um solido resultado, o lucro do BB de R$ 9,0b evoluiu +52,4% a/a e +8,1% t/t, +7,0% acima das nossas expectativas e +11,4% acima das estimativas do mercado. A rentabilidade também ficou acima de todos os pares privados, com um ROE de 22,5% no trimestre. O banco fecha 2022 com um lucro de R$ 31,8b, aumento de 51% a/a, consolidando sua trajetória de melhora de rentabilidade, que partiu de um ROE de apenas 13,5% em 2018 para 20,6% em 2022.
Carrefour (CRFB3): Em linhas gerais, o top line nos surpreendeu positivamente, tendo em vista o maior faturamento do braço de varejo. Em relação à rentabilidade operacional, o resultado veio conforme esperado, com a integração do Grupo BIG ainda mostrando uma maior pressão sobre as despesas do grupo. As vendas brutas do Atacadão foram de R$ 20,7b (+23,9% a/a; R$19,2b Atacadão e R$ 1,6b Maxxi), com um Like-for-Like de 10%, demonstrando mais um sólido resultado. O desempenho das vendas vieram de acordo com nossa estimativa de R$ 20,7b (+0,4% vs. Est. Genial), além de reportarem um forte indicador LfL (-1 p.p. Est. Genial).
Engie (EGIE3): Empresa apresentou um resultado sólido no 4T22. O grande destaque do ponto de vista estritamente operacional veio da rapidez da empresa em aumentar a sua contratação em meio a um cenário de quedas no preço da energia. De acordo com o seu balanço energético apresentado, a empresa fechou o ano de 2022 totalmente contratada e o ano de 2023 com uma descontratação de apenas 5% de sua capacidade (vs 10-15% de descontratação histórica para se proteger do déficit hidrológico). Sendo assim, ao menos por hora, a empresa deve atravessar o ano de 2023 com impactos mínimos na queda do preço da energia em seus resultados (para maiores informações, clique aqui e leia nosso relatório sobre o mercado de geração de energia elétrica)
JSL (JSLG3): Mesmo reportando números ligeiramente inferiores às nossas expectativas, a JSL entregou um resultado positivo e acima das expectativas do mercado. Vale destacar que os números vieram impactados por alguns eventos não-recorrentes no 4T22. Esperávamos incrementos nos volumes devido à combinação copa do mundo + melhora na produção veículos (atípico nessa época do ano) + black friday. O setor automotivo apresentou uma manutenção incomum no volume de veículos produzidos por parte das montadoras.
Lojas Renner (LREN3): Em linhas gerais, o resultado veio de acordo com as nossas projeções, sem efeito surpresa. Tivemos três dinâmicas específicas durante o trimestre que desaceleram o ritmo das vendas. Contudo, a companhia conseguiu se sair bem e entregou um EBITDA e margem acima de nossas estimativas. Lojas Renner reportou uma receita líquida de R$ 4b (+3,7% a/a; +26,3% vs. 4T19; -2% vs. Est. Genial). Com os meses de outubro e novembro enfraquecendo o crescimento do faturamento, as duas últimas semanas do ano, sazonalmente fortes devido à dinâmica de Natal e Ano Novo, precisaram “segurar” o crescimento a/a.
Sanepar (SAPR11): Sanepar reportou um resultado operacional acima de nossas expectativas e do consenso. Como em trimestres passados, a empresa apresentou outro resultado sólido, com crescimento single digit de EBITDA e de receita operacional líquida, pequeno acréscimo na linha de custos e lucro de R$350 milhões no trimestre. Apesar dos bons resultados que a empresa vem apresentando, ela segue sendo a mais descontada do setor devido ao risco regulatório do órgão regulador estadual, aliado ao processo da 2° Revisão Tarifária periódica, previsto para acontecer em maio de 2023, que segue sob termos pouco interessantes para a tese da empresa.
Vale (VALE3): Os números vieram com algumas dinâmicas piores e outras melhores que o esperado, com a receita total e o EBITDA ficando próximos das nossas estimativas. Ressaltamos um efeito não recorrente afetando positivamente o lucro líquido. Com o 4T22 se consolidando como um trimestre de leve recuperação de margens tanto t/t quanto a/a, acreditamos que a recuperação foi influenciada pela reabertura chinesa e toda a expectativa de consumo atrelado ao final da política de Covid-zero. O destaque do trimestre foi uma aceleração no preço realizado, que mesmo vindo ainda abaixo da Est. Genial, acertamos na tendência de alta.
Vamos (VAMO3): Vamos apresentou números fortes no 4T22. Julgamos o resultado como positivo, com destaque para os resultados do segmento de locação, que apresentou aumento dos níveis de rentabilidade e da expansão de frota. O contínuo aumento do Yield (2,9% vs 2,7% 3T22) demonstra a capacidade da Companhia em reajustar e precificar os novos contratos conforme a nova realidade da curva de juros. Os ótimos e crescentes níveis de rentabilidade reforçam nossa visão de que o cenário de juros alto aliado ao novo patamar de preço dos caminhões deve continuar impulsionando o setor de locação de pesados.
Vivo (VIVT3): Vivo divulgou números bastante em linha com a nossa expectativa. Com a entrega de um trimestre sólido operacionalmente, a Vivo mostrou recuperação de margem t/t pelas sinergias da aquisição da Oi Móvel. Apesar disso, o aumento do endividamento atrelado a necessidade de capital pelos investimentos em (i) Leilão 5G, com mais de R$1,1b para a concessão do uso das novas faixas de frequência, junto a um CAPEX adicional para a implementação dos projetos conforme o calendário da Anatel, e (ii) a aquisição da Oi Móvel, em R$5,5b por 10,5 milhões de clientes, foram sentidos no resultado do 4T22, com as despesas financeiras vindo mais fortes que o esperado.
WEG (WEGE3): Julgamos o resultado de WEG como positivo, embora em linha com as nossas e com as expectativas do mercado. Destacamos principalmente a manutenção de receita e margens, além de uma boa geração de caixa e aumento do ROIC. A boa carteira de pedidos da Companhia segue suportando seus resultados, principalmente no que diz respeito aos segmentos voltados para produtos de ciclo longo. Outro ponto de destaque foi a excelente geração de caixa no trimestre, aproximadamente R$928 milhões, finalizando 2022 com geração de caixa de R$ 2.983 milhões. Sendo assim, 31% do caixa gerado no ano ocorreu no 4T22.