Nessa terça-feira, 18 de janeiro, a Microsoft Co. (MSFT34) anunciou o seu maior acordo da história: a compra da Activision Blizzard (ATVI34).
Avaliado em US$ 68,7 bilhões, este é o acordo mais ambicioso da Microsoft desde a aquisição do LinkedIn, em 2016, fechado em US$ 26,2 bilhões (ou US$ 196 por ação).
Uma empresa trilionária, a Microsoft é conhecida por seus softwares corporativos, como o pacote Office e Skype, pela sua plataforma de computação em Nuvem, a Azure, e também pela sua integração com a franquia de correios eletrônicos, o Outlook.
A empresa fundada por Bill Gates está oferecendo US$ 95 por ação para adquirir a Activision Blizzard – o que representa um prêmio de 45% em relação ao fechamento da desenvolvedora de Games na última sexta-feira.
Neste relatório, explicaremos alguns pontos fundamentais sobre essa transação: qual o objetivo da Microsoft em comprar a Activision Blizzard? Quais os possíveis problemas a serem enfrentados? Mas, antes de irmos fundo neste assunto, vamos relembrar quem é a empresa que está sendo adquirida.
Você lembra quem é a Activision Blizzard?
Já faz pouco mais de 6 meses desde o nosso relatório sobre a Activision Blizzard. Caso não tenha visto, você pode conferir aqui: “O Mercado de Games: A diversão rentável do futuro!”.
Mas, resumindo a fio, a Activision Blizzard é uma holding global de entretenimento que desenvolve e publica conteúdo e serviços de vídeo interativo. A companhia é popular no mundo dos “gamers”, conhecida por franquias de sucesso como World of Warcraft, Call of Duty, StarCraft, Diablo e Overwatch.
Fundada em 2008 a partir da fusão da Activision e da Vivendi Games, a empresa desenvolve e distribui seus videogames e serviços em consoles de jogos, computadores pessoais (PCs) e dispositivos móveis, além de também operar em ligas de E-sports e em vendas de publicidade digital.
Abaixo, trazemos como a Activision Blizzard tem gerado receita. Tanto em 2016, quanto em 2020, o segmento da Activision é o maior gerador de cifras para a companhia.
Ao olhar a geração de receitas, você pode estar se perguntando o que compreenderia o segmento “Outros”. Bom, a Activision Blizzard também gera receitas através de seu negócio de distribuição, que não é representado como um segmento reportável, logo, se enquadra nesta categoria.
O ambicioso plano da Microsoft
Feita a devida recordação, vamos ao que mais interessa: por que a Microsoft está comprando uma desenvolvedora de jogos?
A resposta é bem simples: recorrência de receitas.
Ao longo desses anos, a Microsoft se esforçou para trazer seus clientes corporativos para contratar seus serviços em nuvem baseados em assinatura, o que ajudou a elevar suas receitas e impulsionou a “big tech” a ultrapassar a marca de US$ 2 trilhões em valor de mercado.
A aquisição da Activision pela Microsoft visa agitar a indústria de jogos, construindo a biblioteca de videogames de sucesso da gigante do software e reforçando os seus esforços para atrair consumidores e aumentar a recorrência de receitas ligadas ao seu serviço de jogos em nuvem.
Jogos em nuvem são uma tecnologia emergente que permitem que as pessoas transmitam jogos por meio de praticamente qualquer dispositivo conectado à Internet com uma tela, assim como fazem streaming de vídeos usando Netflix, Hulu e outros. O metaverso é real!
A Microsoft diz que incluirá todos os jogos da Activision Blizzard em sua assinatura XBox Game Pass, que recentemente atingiu 25 milhões de assinantes.
Se a Microsoft conseguir converter alguns dos cerca de 400 milhões de usuários ativos mensais da Activision em assinantes, a big tech poderia aumentar significativamente suas receitas de serviços baseados na nuvem.
Segundo a consultoria Omdia, os gastos dos consumidores em serviços de jogos na nuvem atingiram US$ 3,2 bilhões em 2021. Apenas o Game Pass, da Microsoft, responde por 60% dessa cifra. É esperado que a receita total de jogos na nuvem chegue a marca de US$ 12 bilhões até 2026.
Já aprovada pelos conselhos de administração da Microsoft e da Activision Blizzard, a transação está sujeita às condições habituais de fechamento e conclusão da revisão regulatória e aprovação dos acionistas da Activision Blizzard. Espera-se que o acordo seja concluído no ano fiscal de 2023.
Descascando os abacaxis dessa transação
O primeiro abacaxi 🍍
Não há dúvidas quanto a potencial sinergia operacional dessa aquisição. Com o metaverso cada vez mais em evidência, a Microsoft fez uma jogada ousada no tabuleiro dessa corrida armamentista. A aquisição de hoje é um momento chave para as ambições da big tech na indústria de jogos.
No entanto, até agora, a Microsoft evitou quaisquer tipos de escrutínios por parte de uma regulação antitruste, algo a qual a Alphabet Google e o Facebook têm enfrentado, dia após dia.
Este acordo para aquisição da Activision mudará essa situação e colocará a Microsoft no radar dos reguladores. Vale lembrar que a dona do XBox já é um player considerável na indústria de jogos. A compra da companhia dona da franquia de Overwatch, colocaria a “big tech” como a terceira maior empresa de games do mundo (em relação às receitas), ficando atrás apenas da Tencent e da Sony.
A Microsoft parece confiante que o acordo passará pelos reguladores. No entanto, caso fracasse, a “big tech” precisará pagar uma multa bilionária.
O segundo abacaxi 🍍
Um outro abacaxi a ser descascado diz respeito a potenciais conflitos culturais. Em um passado não muito distante, pipocou na mídia acusações de assédio contra o cofundador da Microsoft. A situação levou a big tech a revisar sua política contra o assédio sexual e discriminação.
Em novembro de 2021, a Bloomberg noticiou que o chefe da divisão Xbox estaria reavaliando seu relacionamento com a Activision Blizzard, após a companhia desenvolvedora de jogos se tornar alvo de acusações de sexismo e conduta imprópria no ambiente no trabalho, com afirmações de que Bobby Kotick, atual CEO da empresa, “fazia vista grossa” em relação às ocorrências.
Segundo comunicado da Microsoft, Bobby Kotick continuará atuando como CEO da Activision Blizzard. A sua equipe irá se manter focada em impulsionar os esforços para fortalecer ainda mais a cultura da empresa e acelerar o crescimento dos negócios.
Assim que o acordo for fechado, o negócio da Activision Blizzard se reportará a Phil Spencer, CEO da Microsoft Gaming.