Custo de funding deve continuar pressionando
O BMG entrega mais um trimestre fraco. Nesse 3T21, o lucro de BMG de apenas R$ 50m despencou 57% a/a e 35% t/t, entregando um ROE de míseros 5,0%. Já esperávamos uma piora de rentabilidade por conta desse efeito negativo da alta da Selic nas despesas de capitação, mas o efeito foi mais nefasto que esperávamos, levando o lucro do BMG vir 26% abaixo das nossa expectativa de R$ 68m.
Com a subida da taxa Selic em ritmo mais rápido que esperado, o custo de funding do banco aumentou consideravelmente em 71% a/a, enquanto as receitas de intermediação cresceram apenas 11%, mais ou menos no ritmo do crescimento de crédito (15%). Esperamos que esse efeito nocivo continue por algum tempo, dado que a maior parte dos produtos de crédito do BMG são prefixados com limites regulatório de juros. Mesmo com um eventual aumento regulatório das taxas de empréstimo do crédito consignado, não acreditamos que o aumento seja suficiente para melhorar os spreads de forma relevante. Lembrando que estamos próximo a um ano eleitoral e saindo de uma pandemia com efeitos profundos na economia. Os ânimos regulatórios e políticos não estarão muito favoráveis para aumentos substanciais nas taxas de consignado. Para piorar, o banco não esta conseguindo crescer o volume de credito no mesmo patamar que seu custo de funding é impactado pela politica de alta de juros para conter uma inflacao galopante.
Do lado positivo, o banco vem tentando diversificar sua linha de receita com produtos fora do consignado como o crédito FGTS, mas ainda com volumes insuficientes para contribuir de forma mais contundente com o lucro do banco. A diversas federações de bancos (incluindo a Febraban) vem tentado intermediar um aumento das taxas de consignação junto ao INSS. Eventualmente, acreditamos que a majoração da taxa deve acontecer (aparentemente até o final do ano). Caso aconteça, a carteira de cartão consignado é imediatamente reprecificada gerando um ganho extraordinário. Mas, pelos motivos acima mencionados, o spread dos produtos consignáveis deve permanecer menor que em anos pré-pandêmicos, pelo menos por um bom tempo.
Pontos Positivos:
- Clientes. Crescimento de 4,3% t/t e 45,5% a/a, tendo atingido 8,1m de clientes.
- Inadimplência. Queda de 0,1 p.p. t/t e 0,2 p.p. a/a.
- Digitalização. Contas digitais cresce 183% a/a para 5,3 milhões.
Pontos Negativos:
- Carteira de crédito e cartão consignado. Crescimento desacelerou de um patamar acima dos 20% a/a em 2020 para 15% a/a nesse trimestre. O mais preocupante é que seu principal produto, o cartão consignado, caiu O número de cartões consignado caiu 10% para 4,1 milhões, fruto de uma política mais cautelosa para evitar os processos cíveis que pressionaram a rentabilidade do banco desde seu IPO em 2019.
- Custo de funding. Despesas de intermediação financeira subiram 13% t/t e 71% a/a, gerando retração do resultado de intermediação (NII) de 1,62% t/t e 4,3% a/a. Ademais, podemos continuar a ver pressão nesta linha com a continuidade da elevação da Selic.
- Despesa de pessoal. Crescimento de 9,2% t/t e a/a, em decorrência do dissídio dos bancários de 11% este ano. Como não impactou na totalidade do trimestre, devemos ter uma pressão maior no 4T21.
- Outras Despesas. Crescimento de 4% t/t e 22% a/a, em função de processos cíveis, cujos potenciais litígios são provisionados. As provisões cresceram 35,8% a/a e 17,3% t/t.
- Capital. O índice de basileia (nível I) caiu 2,3 p.p. t/t para 14,1%.