O lucro líquido recorrente do BMG veio em R$ 23m, abaixo de nossas expectativas de R$ 50m. O ROE do trimestre caiu para fracos 2,3%, com queda de 5,2 pp t/t e 2,7 pp abaixo das nossas expectativas.
Os principais gatilhos para o resultado mais fraco foram:
- Selic alta pressionando custo de captação, o qual cresceu 12,1% t/t e 53,9% a/a;
- Provisão de crédito acelerando 14,2% t/t e 82,1% a/a, consequência da maturação das novas linhas de crédito;
- Avanço de 21,1% t/t e 4,2% a/a nas contingências para ações cíveis.
Em consequência dos sucessivos resultados fracos com pouca geração de crescimento orgânico de capital, o banco vem consumindo rapidamente seu Índice de Basileia. Acreditamos que se a baixa rentabilidade, somada a agressivas distribuições de rendimentos e crescimento acelerado da carteira continuarem, o resultado será mais consumo de Basiléia, podendo gerar preocupações. Para evitar esse consumo, vemos algumas opções: (i) cessões de crédito consignado; (ii) diminuição de distribuição de proventos; (iii) 2,1pp de aumento na basileia nos próximos trimestres devido ao marcação a mercado de títulos públicos a medida que forem maturando; (iv) emissão de dívida subordinada. Além disso, possivelmente o banco também conta com destrave regulatório de capital mediante as novas metodologias para cálculo de RWA propostas pelo BACEN.
Desse modo, mesmo com um valuation negociando em 4x P/L 23E e 0,3 P/VP 23E não vemos grandes drivers para um re-rating dos múltiplos do banco, assim, reiteramos nossa posição de MANTER com preço alvo (PA) de R$ 2,5.
Carteira de crédito
A carteira de crédito cresceu 4,9% t/t e 46,5%. No trimestre, as linhas de principal crescimento foram de cartão benefício (+28,2% t/t) e antecipação do FGTS (+23,5% t/t), ambos produtos mais recentes, do 2T22 e 3T21 respectivamente. No comparativo anual, a base do 1T22 era mais fraca, por não contar com diversos produtos lancados ao long de 2022, como o cartão benefício (que originou R$ 2b até o 1T23), FGTS, LOAS, e aumento de margem consignável, além do forte avanço do empréstimo consignado (+86,9%) com adição de R$ 2,15b na carteira de crédito.
Receita de Juros (NII)
A receita de juros de R$ 1,08b cresceu +1,2% t/t e +14,4% a/a, mas veio 5,2% abaixo de nossas expectativas. Acreditamos que o maior custo de captação foi o principal detrator da margem, subindo 12,1% t/t e 53,9% a.a%. A forte evolução do custo de captação é consequência das taxas de juros mais altas.
Para o 2T23, a perspectiva de uma melhora substancial no NII deve ser arrefecida pela novo limite da taxa do cartão consignado INSS. Como o saldo dos empréstimos do cartão consignado são tratados como rotativo, a receita de todo o saldo do cartão passa a ser remunerada com uma taxa que sai de 3,06% ao mês para 2,89% ao mês. Estimamos que esse saldo do cartão consignado INSS seja em de R$3,5b – 4,0b.
Inadimplência e Provisão
A inadimplência 90d foi de 5,6% (+0,5 pp t/t e +0,1 pp a/a). O aumento da inadimplência foi em praticamente todas as linhas, mas de maneira mais expressiva no empréstimo consignado (+0,9 pp t/t e a/a) e cartão de crédito benefício (+0,4 pp t/t) por conta do tempo de maturação da carteira originada em períodos mais recentes.
A provisão para devedores duvidosos (PDD) teve aumento em 14,2% t/t e 82,1% a/a. Em nossa visão, o crescimento de PDD seria visto no trimestre, decorrente da maturação dos novos produtos da carteira de crédito. Há um descasamento entre a originação da carteira e a inadimplência, assim, acreditamos que a PDD deve ser mais presente nesse ano em seu balanço.
Despesas
As despesas avançaram 3,8% t/t e 6,2% a/a. O principal destaque do trimestre foi o aumento de 21,1% t/t e 4,2% a/a na linha de “Outras despesas/ receitas operacionais líquidas” consequência do avanço de contigências para ações cíveis massificadas.
Capital
O Índice de Basiléia do trimestre foi de 12,8% (-0,7 pp t/t e -1,3 pp a/a). As pressões no capital são decorrentes de um forte avanço nos ativos ponderados ao risco (RWA) de maneira mais intensa do que a evolução do patrimônio de referência (PR). Na comparação t/t, o RWA cresceu 3,4%, já o PR caiu em 2,3%. No comparativo anual, o RWA cresceu em 33% enquanto o PR em 20,4%.