Quem diria, empresas de Valor estão de volta a moda?!
O lucro do Banco do Brasil (BB) no 1T22 foi de R$ 6,6b, superando em mais de 11% as nossas expectativas e em 20% as expectativas do mercado. O lucro cresceu 11,5% t/t e 34,6% a/a, puxado principalmente por menores despesas com provisões por ter uma carteira de crédito mais defensiva, controle de custos e pela continuidade da contribuição da Previ (plano de previdência definida). As boas tendências, que já vínhamos ressaltando há algum tempo, levaram o BB a entregar um ROE de 17,8%, patamar comparável a bancos privados.
Se o BB conseguir replicar o mesmo desempenho desse 1T22 nos próximos 3 trimestres (o que é bem factível) o lucro do banco ficaria acima da faixa superior do guidance de 2022 de R$ 26b. Acreditamos que os analistas devam rever para cima suas projeções em torno de 10% mais próximo a faixa superior do guidance.
Barato com melhora de desempenho. Com seus fundamentos melhorando e negociando ao valuation de meros 0,61x P/VP 22 e 3,97x P/L 22, reiteramos a recomendação de COMPRAR para BBSA3. Mas pode sair mais em conta ainda! Se utilizarmos o lucro do topo da faixa do guidance de R$26b (para onde o consenso deve migrar), o valuation cairia para a bagatela de 3,68x P/L 22. Além do valuation descontado, contribuem para a recomendação: a expectativa de melhora das receitas para o ano, carteira com mix mais conservador com bastante crédito consignado, bons níveis de provisão com índice de cobertura acima da indústria, bons resultados da Previ e capital robusto. Do lado negativo, o ambiente eleitoral de 2022 pode trazer volatilidade a cotação, dado risco político.
Margem financeira: ainda sob pressão da Selic, mas deve melhor
A margem financeira bruta do BB cresceu 5,6% a/a e 3,6% t/t. O crescimento foi abaixo da expansão da carteira de crédito de 13,1% a/a e 0,4% t/t por conta da elevação da Selic, que vem pressionando o custo de funding do banco. A receita financeira de operações de crédito (excluído custo de captação) subiu 38,6% a/a e 8,6% t/t. O custo de capitação subiu 263,8% a/a e 30,5% t/t.
O destaque para o trimestre na margem financeira foi o resultado de tesouraria, que totalizou R$ 5,87b. O resultado de tesouraria cresceu 94,3% a/a e 28,8% t/t, tendo sido beneficiado pela melhor remuneração de títulos com rendimentos atrelados à Selic para hedgiar a carteira do passivo (funding). Esperamos que a margem financeira bruta acelere ao longo do ano impulsionada por: (i) cap da poupança, que deve arrefecer elevação do custo de funding; (ii) crescimento da carteira; (iii) precificação da carteira, e; (iv) continuidade do bom desempenho na tesouraria.
Custo de funding da poupança melhora. Quando a Selic está abaixo de 8,5% a/a, o rendimento da poupança é de 70% da taxa de juros, somado a taxa referencial (TR). Acima dos 8,5% a/a, o rendimento da poupança é fixado em 0,5% ao mês somado a TR. Como parte dos recursos utilizados na concessão de crédito são provenientes da poupança, a limitação da taxa mitiga a pressão da elevação da Selic no custo de captação. Para 2022, o guidance aponta para um crescimento da margem financeira bruta (receita com juros) entre 11-15% acima do crescimento do crédito de 8-12%, sinalizando um arrefecimento da pressão do custo funding, acima mencionado.
Custo de crédito: patamares confortáveis com carteira defensiva
Assim como esperávamos, as provisões do BB cresceram 8,8% a/a e caíram 27,2% t/t. A queda anual contribuiu para a boa dinâmica dos resultados do trimestre. O menor provisionamento mesmo em um ciclo de alta da inadimplência se deve em uma carteira de crédito mais defensiva com mais consignado e níveis mais confortáveis de cobertura (provisões/inadimplência) do BB, que está em patamares superiores aos da indústria. O índice de cobertura (90d) do BB está em 297% (-31,2 pp a/a e -28 pp t/t). A inadimplência (90d) subiu para 1,89% (-6 bps a/a e +14 bps t/t), em comparação a 2,5% da indústria.
Previ: segue contribuindo para resultado
O plano de previdência do BB (Previ) continuou contribuindo com um resultado bruto de R$ 553m. Esperamos que a Previ também contribua para o desempenho do 2T. A participação em controladas, coligadas e JV teve melhora representativa, com alta de 20,1% a/a e 23,8% t/t. A melhora do resultado de controladas é reflexo do melhor desempenho de BB Seguridade e Cielo, cujos resultados vem apresentando dinâmicas positivas a/a.
A Previ é o fundo de previdência dos funcionários do BB. Em previdência há dois regimes principais. No regime de benefícios definidos, o beneficiário tem um montante fixo a receber, podendo ser indexado a alguma taxa, como Selic ou IPCA. No regime de contribuição definida, o beneficiário tem um montante fixo a contribuir, mas o benefício depende do resultado do fundo de previdência.
A Previ é um plano com regime de benefício definido. Neste caso, quando o resultado do portfólio supera o benefício a que os beneficiários têm direito, o excedente circula no resultado do BB. Caso contrário, o déficit prejudica o resultado do banco. A alta dos juros e posição em renda variável de Previ vem contribuindo para o resultado.
Capital: novo aumento
O capital principal de BB atingiu 12,71% (vs. 11,94% no 4T) e o capital nível I chegou a 15,47% (vs. 15,16% no 4T). Por incrível que pareça, já que anos atrás era o contrário, o índice de capital do BB segue substancialmente mais alto do que demais grandes bancos brasileiros.
Guidance: superando topo da faixa
O guidance do BB indica o lucro para o ano na faixa entre R$ 23 e 26b. No topo da faixa, o lucro trimestral seria de R$ 6,5b, indicando que o resultado do BB está acima da faixa indicativa. Acreditamos ser possível ver um resultado anual se mantendo no topo ou até acima da faixa indicativa, considerando dinâmicas expectativas positivas para os próximos trimestres. Dentre elas podemos citar: a expectativa de melhora de margem bruta; continuidade da contribuição de previ, e; provisões controladas.