Esperamos que o Bradesco reporte um trimestre um pouco mais fraco, com uma leve queda no lucro em relação ao 2T22, mas ainda um pouco acima na base anual. Estimamos um lucro recorrente de R$ 6,85b para o 3T22, 2,8% menor que o 2T22 e 1,2% acima do 3T21. Acreditamos que a inadimplência continue a afetar os bancos em geral, movimento mais visível no Bradesco, por ter uma carteira de crédito concentrada em pessoa física (PF). Com isso, esperamos que o Bradesco termine o ano com uma provisão para crédito duvidoso um pouco acima do guidance de R$ 17b a R$ 21b. Além disso, acreditamos que a receita da margem com o mercado (tesouraria) continue negativa nesse trimestre.
Mesmo com esse trimestre mais fraco em termos de lucro, continuamos com uma boa visão de longo prazo, visando melhoria no NII Mercado e normalização do resultado de seguros, que ainda apresenta sinistralidade acima do histórico. Desse modo, reiteramos a nossa recomendação de COMPRAR, com 6,52x P/L 23E e 1,11x P/VP 23E, acrescida de uma atualização de preço alvo (PA) de R$ 21,40 para R$ 24,00.
O nosso novo PA de R$ 24,00 foi alcançado com base no modelo de Gordon Growth, considerando um ROE de longo prazo de 19%, taxa de crescimento nominal de 8,5% e um custo de capital (Ke) de 15,55%. O nosso PA implica em um valuation de 7,8x P/L 24E e 1,35x P/VP 23E.
Carteira: busca de melhoria no mix
Projetamos um crescimento da carteira em 11% no ano de 2022. No 3T22 esperamos 11,5% a/a e 2,4% t/t, com crescimento anual caindo em relação ao 2T22, por conta de tough comps (forte base comparativa) no 3T21. Acreditamos que a carteira seja ainda puxada por um crescimento mais rápido da linha de pessoa física (PF). Crédito rural e capital de giro devem seguir o mesmo bom desempenho do 2T22.
Margem Financeira: tesouraria deve continuar comprometendo o resultado
Devemos continuar observando um bom desempenho da margem com clientes (NII clientes), crescendo 24,4% a/a e 3,2% t/t. O bom resultado é decorrente do crescimento da carteira e da melhora do mix. Já na linha da margem com o mercado, ainda esperamos mais um resultado negativo, devido a marcação negativa à mercado de títulos como consequência da rápida subida da Selic. Esperamos melhora nessa linha apenas em 2023, com a estabilização e eventual queda das taxas de juros.
Custo de crédito: PF continua em altos níveis de inadimplência
Esperamos um crescimento de PDD (provisão para devedores duvidosos) acima do guidance em 2022, crescendo 39,8% no ano. Para o trimestre, estimamos uma despesa de provisão de R$ 5,34b, crescendo 0,7% t/t e 59,3% a/a.
Vemos a elevação de PDD em consequência de sua alta exposição em crédito PF, que mostra níveis de inadimplência maiores. Entre os concorrentes, o Bradesco é o segundo maior banco com presença nessa linha de crédito, atrás somente do Santander, que também deve sofrer com a piora no ciclo de crédito
Seguros: forte, mas financeiro pressionando
A linha de seguros foi uma forte contribuidora para o crescimento do lucro no 2T22. Acreditamos que o resultado operacional venha em linha com o visto no trimestre passado, devido ao crescimento de prêmios e possível diminuição da sinistralidade, causada pela diminuição da cauda de procedimentos represados na pandemia.
Mas esperamos um resultado financeiro mais fraco, causado pela deflação no IPCA no 3T22 de -1,32%, impactando o desempenho financeiro, mesmo com uma Selic mais alta. Sendo assim, acreditamos que o resultado financeiro seja um detrator da rentabilidade da seguradora nesse tri.
Despesas: em linha com a inflação
Esperamos que as despesas fiquem sob controle, em linha com a inflação, com um crescimento de 5,7% para 2022. O resultado, deve ser puxado principalmente pela despesa de pessoal por conta do dissidio trabalhista impactando o mês de setembro no 3T22 e o 4T22 como um todo. O aumento acordado foi de 8% (com base no INPC). Para 2023 já foi estabelecido um reajuste salarial de inflação + 0,5%.