Nossa leitura dos resultados do 3T24 do Bradesco, divulgados esta manhã, é positiva. O Bradesco apresentou um desempenho consistente com a narrativa de melhoria gradual (step-by-step) e superou o consenso, reforçando uma abordagem de “under promising and over delivering” (prometer menos e entregar mais). Talvez essa expectativa adicional tenha desapontado o mercado hoje, resultando em uma queda de 4% nas ações após a divulgação do resultado. O lucro líquido atingiu R$ 5,2 bilhões, aumento de +10,8% t/t e +13,1% a/a, em linha com nossas expectativas e 3% acima do consenso. O ROE expandiu novamente (+1,2pp t/t e +1,4pp a/a), alcançando 12,9%, ainda aquém de seus pares. Apesar da foto não ser boa quanto as expectativas do mercado e o cenário no Brasil permanecer desafiador, o filme do banco continua apontando para uma gradual melhora de rentabilidade.
Neste trimestre, observamos um desempenho modesto na receita líquida de juros (NII), que cresceu apenas 2,7% t/t e 0,9% a/a, mas em linha com a estratégia de crescimento em linhas de crédito de menor risco e menor spread. O banco provavelmente não cumprirá o guidance de crescimento de NII de 3% a 7%, dado o acumulado de apenas -4,8% nos primeiros nove meses de 2024. Em contrapartida, as despesas com provisões para crédito (PDD) continuam bem controladas, totalizando R$ 7,13 bilhões, com queda de -2,2% t/t, -22,4% a/a e um desempenho 9,7% acima de nossas expectativas. Consequentemente, a margem financeira líquida de PDD cresceu 6,8% t/t e 28,0% a/a. A inadimplência segue em tendência de queda, refletindo um melhor controle de qualidade de crédito.
No lado menos favorável, as despesas administrativas apresentaram um aumento significativo de 4,0% t/t e 12,1% a/a, impulsionado pelo maior volume de contratações e pela incorporação da Cielo. Mesmo desconsiderando a incorporação, as despesas ainda teriam apresentado um crescimento substancial, principalmente devido a um comparativo mais duro em relação a 2023, quando outras despesas ficaram em níveis mais baixos. O lucro antes do imposto, de R$ 6,8 bilhões, superou nossas expectativas em 8,3%, com crescimento de 15% t/t e 29% a/a.
Lucro, Custo de Crédito e ROE: Melhora de ROE puxado por diminuição das despesas com PDD e bom resultado de Seguros

Guidance 2024: No 9M24, Margem financeira líquida fica dentro do Guidance

Em relação ao plano de transformação, o banco continuou avançando com: (i) a redução de 155 agências, totalizando 2.355 unidades (-6,1% t/t e -14,4% a/a); (ii) diminuição do quadro total de funcionários, com incremento no pessoal de tecnologia; (iii) implementação do novo plano de remuneração para todo o banco, abrangendo executivos e agências; (iv) contratação de executivos externos para posições chaves do banco; (v) lançamento do novo segmento alta-renda, denominado Bradesco Principal, voltado para o público afluente.
Agências e PAs: Forte redução nos últimos anos em busca de ganho de eficiência

O Bradesco Principal será posicionado logo abaixo do segmento Private e acima do Prime, oferecendo um atendimento diferenciado para clientes com renda mensal superior a R$ 25 mil ou com mais de R$ 300 mil em investimentos. Unidades flagship serão inauguradas na Faria Lima, no Leblon e em Campinas para marcar o lançamento do novo segmento.
Embora o banco tenha apresentado uma melhora em sua rentabilidade, refletida em um ROE em crescimento gradual (12,9% no 3T24), ainda permanece inferior ao seu custo de capital de cerca de 15,0%, o que justifica um valuation abaixo de seu valor patrimonial (P/VP menor que 1x), e explica a queda do papel pós resultado.
Apesar do desempenho do Bradesco ainda estar aquém do ideal, avaliamos que a tendência de melhoria na rentabilidade continua válida, possivelmente com uma composição diferente entre linhas de NII e PDD. Acreditamos em uma recuperação gradual nos próximos períodos, consistente com a tese de melhora. Negociando com múltiplos atrativos (7,9x P/L 2024e, 6,4x P/L 2025e e 0,9x P/VP 2024e), reiteramos nossa recomendação de COMPRA para BBDC4, com preço-alvo de R$ 19,00 (upside de 31%) até o final de 2025.
Bradesco 3T24: Lucro e rentabilidade expandem – PDD Controlada, mas dinâmica de receitas ruim

Carteira de Crédito: Postura conservadora e crescimento comedido
O Bradesco acelerou o crescimento da carteira nesse trimestre, expandindo seu portfólio de crédito para R$ 688,4 bilhões (+4,6% t/t, +9,9% a/a) em linhas de baixo risco, priorizando concessões com ratings elevados em modalidades mais seguras. Embora com spreads mais apertados, essa estratégia exige menores provisões e preserva a qualidade geral da carteira.
Carteira por Modalidade:
Dentro do segmento de Pessoa Física (PF), que cresceu +3,6% t/t e +8,9% a/a, atingindo um total de R$ 388,1b, teve como destaque as linhas: 1) Crédito Pessoal (+5,9% t/t e +16,7% a/a), majoritariamente impulsionado por clientes Prime, cujo spread é mais baixo do que o segmento Massificado; 2) Financiamento Imobiliário (+3,3% t/t e +11,2% a/a); 3) Leasing de Veículos (+4,0% t/t e +7,1% a/a); e 4) Crédito Rural (+12,2% t/t e +6,9% a/a).
Dentro do segmento de Pessoa Jurídica (PJ), que cresceu +6,0% t/t e +11,2% a/a, atingindo um total de R$ 300,3b, teve como destaque as linhas: 1) Operações no Exterior (+10,9% t/t e +51,2% a/a); 2) Financiamento à Exportação (+9,4% t/t e +26,0% a/a); e 3) Capital de Giro (+4,8,2% t/t e +0,2% a/a).
Carteira por Porte:
Na visão da composição da carteira de crédito por porte, reportaram um crescimento de +8,6% t/t e +8,8% a/a na categoria Corporate, +3,6% t/t e +8,9% a/a na Pessoa Física (PF), e+4,1% t/t e +13,1% a/a na MPME, com destaque para o forte crescimento de originação de crédito para médias empresas, com risco mais baixo do que o foco estratégico prévio de Pequenas empresas, visando um crescimento gradual com preservação de margens por meio de um mix mais conservador.
Bradesco | Break-down Carteira por Modalidade 3T24

Receita com Juros (NII): Fraca expansão
O banco reportou uma evolução moderada na sua receita líquida com juros (NII) no trimestre, com expansão de +2,7% t/t e +0,9% a/a, totalizando R$ 16b.
Após sucessivas quedas, o NII Clientes apresentou um ponto de inflexão no 2T24, que se consolidou neste trimestre com uma contínua evolução, ainda que modesta, atingindo R$ 15,6b (+2,5% t/t e -1,3% a/a). O avanço trimestral foi impulsionado por um maior volume em todos os segmentos e pelo aumento na quantidade de dias corridos, que compensaram a leve contração no spread para 8,4% (vs. 8,6% no 2T24).
Gráfico Margem Financeira (NII): Menor spread, mas avanço no NII
O NII Mercado registrou uma expansão no 3T24 de +12,0% t/t, totalizando R$ 364m, embora permaneça abaixo dos níveis observados em anos anteriores, quando a linha girava em torno de R$ 2b. A melhora trimestral reflete principalmente o aumento no resultado de ALM e maiores ganhos com arbitragem, mas ainda é afetada pela elevação dos juros futuros, que impactou a marcação a mercado. Durante a videoconferência, a gestão afirmou que está menos sensível a alta de juros, que deveria impactar negativamente o resultado de NII Mercado.
Provisão para Devedores Duvidosos (PDD): Menor t/t e a/a
A provisão para devedores duvidosos líquida de recuperações de crédito registrou uma expressiva melhora no trimestre, totalizando R$ 7,81 bilhões, com quedas de -2,2% t/t, -22,4% a/a e 9,7% melhor que nossas estimativas. Isso reflete a estratégia do banco de expandir crédito em linhas menos arriscadas, melhorando a qualidade das novas safras, que devem continuar exigindo menos provisão para devedores duvidosos. A expectativa, conforme apontado na videoconferência, é de que os níveis de provisão possam se manter ou até mesmo ficar abaixo do período pré-pandemia a longo prazo.
A inadimplência para atrasos acima de 90 dias teve uma retração de -0,2 pp t/t e -2,0 pp a/a, fechando em 4,1%, com destaque para PMEs (-0,2 pp t/t e -2,0 pp a/a). A gestão afirmou que a tendência de melhora continua nos próximos trimestre, possivelmente para níveis pre-pandemia de cerca de 3,8% ou até melhor que isso.
Por fim, o índice de cobertura apresentou leve queda trimestral de –1 pp t/t, mas aumento de +14 pp a/a, alcançando 169%. Pelo cálculo (E-H), o índice foi de 150,2% (+0,1 pp t/t e +10,6 pp a/a). Esse recuo marginal não preocupa tanto devido ao mix de carteira em tendência mais conservadora, mas esperamos ver um aumento nos próximos trimestres. No entanto, ponderamos que esse trimestre, o ganho com o fim do caso Americanas de R$1,4b (antes de imposto) e subsequente provisionamento para crédito deveria ter aumentado o índice de cobertura em aproximadamente 4,6pp.
Seguros: Ótimo desempenho
A unidade de seguros apresentou um lucro líquido sólido no trimestre de R$ 2,4b, representando uma expansão de +8,1% t/t e +0,9% a/a, sendo mais uma vez um dos destaques do trimestre. A unidade teve um bom desempenho operacional, com um ROE de 23,7% (+1,6 pp t/t e +1,7 pp a/a) e uma melhora na sinistralidade de –2,4 pp t/t e –4,3pp a/a, atingindo 76,2%.
O resultado das operações de seguros, previdência e capitalização (linha que compõe os demonstrativos de resultado consolidado) ficou em R$ 5b (+8,7% t/t e +9,2% a/a). A robusta expansão foi guiada pelo forte aumento nos prêmios ganhos (+7,6% t/t e +8,2% a/a).
Ao analisar as unidades separadamente, percebemos um resultado consistente do segmento de Saúde, que contou com uma robusta expansão de +9,6% t/t e +40,0% a/a, atingindo R$ 367m. Já a vertical de Vida e Previdência teve um desempenho negativo, com retração no lucro de –7,6% t/t e –2,1% a/a, alcançando R$ 1,27b.
Receita com Prestação de Serviços (Fee): Sólido Desempenho
A receita com prestações de serviços reportada demonstrou um crescimento de +6,3% t/t e +8,7% a/a, com forte influência do aumento de participação na Cielo, refletida na linha de Rendas de Cartão, maior contribuinte do crescimento trimestral dessa linha de receita, crescendo +9,2% t/t e +10,4% a/a e totalizando 41% do total da receita com prestação de serviços; desconsiderando esse efeito, a variação t/t seria de +2,8% e a/a +5,1% – vale ressaltar a concentração de clientes alta renda (60%) no faturamento total de Rendas com Cartão.
A receita de Administração de Fundos, que cresceu +11,0% t/t e +13,7% a/a, continua demonstrando o crescimento contínuo visto nos últimos trimestres, com forte desempenho da Bradesco Asset.
O banco reportou também crescimento consistente em suas Operações de Crédito (+8,9% t/t, +40,0% a/a), Rendas de Serviços de Custódia e Corretagens (+8,7% t/t, +6,9% a/a), e Tarifas de Administração de Consórcios (+6,6% t/t, +15,6% a/a).
Despesas: Forte expansão, impulsionada por incorporação da Cielo
As despesas administrativas totais apresentaram um forte crescimento de +2,3% t/t e +6,8% a/a, totalizando R$ 14,7b, enquanto as outras receitas e despesas cresceram +17,2% t/t e +57,4% a/a, chegando a R$ 2,47 bilhões. Esse crescimento foi impulsionado pelo maior volume de contratações e pela incorporação da Cielo no 3T24 – desconsiderando o efeito de Cielo, a variação teria sido de 2,0% t/t e 9,9% a/a.
Imposto: Maior por mudanças de mix
A alíquota efetiva de imposto nesse trimestre foi de 22% (-3pp t/t e -11,5pp a/a). A elevação está relacionada com o ganho de representatividade no resultado de segmentos com maiores alíquotas, como consórcio.
Tínhamos estimado uma alíquota de 16,3%, mesmo assim, a lucro reportado veio um pouco acima das nossas expectativas.
A nova expectativa para o ano de 2024 é de uma alíquota efetiva de cerca de 18-19%, implicando em uma alíquota do 4T24, parecida com esse 3T24 de 22%.
Capital: Aumenta apesar do crescimento de crédito
O índice de Capital Principal aumentou +0,1pp t/t, mas caiu -0,7pp a/a, totalizando 11,2%. Já o índice de Basiléia ficou em 15,1%, com queda de -0,1pp t/t e -0,9pp a/a. A queda trimestral na Basiléia ocorreu devido à queda no capital de nível 2 (-0,2pp t/t e -0,1pp a/a).