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    Publicado em 07 de Novembro às 08:01:17

    Brasil Agro (AGRO3) | Resultado do 1T25AF: Operacionalmente melhor, mas longe do ideal

    A Brasil Agro reportou seu resultado do 1T25AF ontem, 06 de novembro de 2024, após o fechamento de mercado. O EBITDA Ajustado de R$61,4m superou nossas projeções (+3x vs. Genial Est.) devido ao desempenho positivo nas culturas de soja e cana-de-açúcar, que apresentaram preços e margens superior ao previsto, impulsionados por uma demanda resiliente e aumento nos preços de mercado.

    Além disso, a venda parcial da Fazenda Alto Taquari contribuiu robustamente para o resultado, atenuando a queima de FCF (-67% a/a) não precificada inicialmente pelo consenso. Em contrapartida, o lucro operacional líquido de R$11m ficou aquém das projeções (-205% vs. Genial Est.), pressionado por despesas financeiras (+61% a/a) e um ajuste negativo no valor justo dos ativos biológicos. Adicionalmente, na seção “Nossa visão” elucidamos alguns cenários tendo em vista a eleição de Donald Trump e uma potencial guerra comercial entre EUA e China, com os seus respectivos impactos para commodities agrícolas.

    Valuation e recomendação. Acreditamos que o mercado de terras agrícolas, pilar estratégico da companhia, deve enfrentar desafios contínuos para expandir suas aquisições neste ciclo. Apesar da queda nos preços dos grãos, que poderia, teoricamente, facilitar negociações, muitos produtores resistem em reduzir os preços das terras, influenciados pelo aumento nos pedidos de recuperação judicial, o que leva pequenos e médios produtores a manterem seus ativos para preservar valor em um contexto financeiro adverso. Acreditamos que um ciclo prolongado de baixa nos preços dos grãos poderá, eventualmente, forçar esses produtores a vender ou arrendar suas propriedades para gerar liquidez,mas essa oportunidade ainda está em fase de maturação e não se configura como uma janela imediata para aquisições estratégicas a preços reduzidos que proporcionariam incrementação de EBITDA não operacional, via braço imobiliário.

    Em resumo, mesmo sob perspectiva de melhora operacional acima do já precificado pelo consenso, acreditamos que tanto a dificuldade em expandir seu respectivo portfólio de terras, que proporcionaria vantagem sinérgica de custo somada à eventuais alterações das condições de mercado entorno de uma realização de preços de venda atrativos, quanto a escassezes de oportunidades de alienações de suas fazendas, devem mais que compensar os benefícios oriundos da surpresa operacional positiva realizado neste trimestre. Portanto, reiteramos nossa recomendação de MANTER com Target Price 12M de R$27,50, indicando um potencial upside de +12,75%.

    AGRO3 Resultado 1T25AF

    Volume faturado de soja e preço da cana-de-açúcar são destaques na Receita líquida.

    A receita líquida alcançou R$325m (+0,1% vs. Genial Est.), em linhas com nossas expectativas. Esse resultado (+20% a/a) reflete a demanda resiliente por soja e cana-de-açúcar, principais impulsionadores de crescimento do período. A soja apresentou um aumento de +3% a/a no preço unitário, sustentada por uma demanda internacional robusta, especialmente da China. A cana-de-açúcar superou expectativas com um incremento de +21% a/a no preço unitário, beneficiada pelo ajuste no ATR (+20% a/a) e por um mercado de açúcar sólido. Esses fatores compensaram os desempenhos menos favoráveis de outras commodities no portfólio, como o feijão e o caroço de algodão, que enfrentaram quedas significativas em preço e volume.

    Custos crescem, mas ligeiramente abaixo do esperado.

    Do lado dos custos, o COGS foi reportado em R$301m (-1,3% vs. Genial Est.). Embora em linha com nossa projeção, o crescimento de +22% a/a pode ser explicado, pelo aumento de +55% e +134% no volume comercializado de soja e algodão caroço, respectivamente. Isso pode ser somado ao aumento do custo de cana, em decorrência do (i) incremento nos gastos com arrendamentos, (ii) maior custo de colheita e (iii) necessidade de amortização dos investimentos em áreas novas de plantio. Em um contexto de pressões de custo, com câmbio e preços de combustíveis elevados, avaliamos que a  capacidade da companhia de mitigar esses impactos demonstra resiliência operacional.

    EBITDA superando as estimativas, recuperando a/a.

    O EBITDA Ajustado atingiu R$61,4m (+3x vs. Genial Est.), superando amplamente nossas expectativas e registrando um crescimento de +166% a/a. Esse prognóstico positivo foi impulsionado, principalmente, pelo desempenho das culturas de soja e cana-de-açúcar, que apresentaram margens superiores ao que projetávamos, refletindo a valorização parcial nos preços e uma demanda resiliente exemplificados na elevação robusta do lucro bruto operacional (+300% a/a). Acreditamos que esses fatores, em conjunto, reforçam a eficácia da estratégia da companhia em maximizar a rentabilidade em um contexto de aumento não previsto nos preços de algumas commodities.

    Prejuízo na última linha, impactado pela variação de ativos biológicos.  

    O bottom-line operacional  apurou um prejuízo de -R$11m (-205% vs. Genial Est.), bem abaixo das nossas expectativas devido a uma combinação de fatores, incluindo (i) aumento da alíquota efetiva, (ii) despesas financeiras maiores e (iii) uma variação negativa no valor justo dos ativos biológicos.

    Impacto positivo da venda da Fazenda Alto Taquari.

    O braço imobiliário da Brasil Agro teve um impacto significativo, elevando o lucro não-operacional e fortalecendo a posição de caixa da companhia no 1T25. A venda da fazenda Alto Taquari (Fase II) proporcionou contribuição substancial ao EBITDA Ajustado total do trimestre. Entendemos que esse ganho é estratégico, pelo reforço imediato no FCF. Em geral, o forte desempenho de soja e cana-de-açúcar impulsionado por aumento de preços e demanda resiliente atrelado à venda parcial da terra, trouxe reforço estratégico à capacidade de geração de caixa da companhia, sintetizado pela menor queima de caixa anual (-67% a/a).

    Nossa visão e recomendação

    É possível que haja um upside para o Brasil refletindo o embargo Tarifário EUA-China.

    Nesse primeiro momento, entendemos que a perspectiva de um aumento nas tarifas norte-americanas sobre produtos chineses adiciona uma camada de complexidade ao mercado global de soja, com potenciais efeitos positivos e negativos para o Brasil. De um lado, tal medida pode fortalecer o posicionamento do Brasil como fornecedor principal para a China, substituindo parcialmente as exportações norte-americanas e atendendo a uma demanda robusta. Esse cenário abre uma oportunidade para o Brasil consolidar sua participação nas exportações de soja, especialmente se houver um distanciamento prolongado entre os EUA e a China.

    Nem tudo são flores… qual é o potencial downside para o Brasil?

    Por outro lado, ainda pouco falado desde a vitória de Donald Trump nas urnas de votação dos EUA ontem, avaliamos que um impacto econômico adverso do embargo tarifário poderia causar na China e por consequência, no Brasil. Julgamos que uma retração no PIB chinês, atualmente muito dependente das exportações, resultaria em uma pressão negativa sobre a renda média do consumidor, afetando diretamente o consumo de commodities, incluindo a soja.

    A consequente redução na demanda chinesa geraria uma pressão baixista sobre os preços globais, neutralizando o benefício esperado do aumento das exportações brasileiras. Para a companhia, essa dualidade implica um cenário de incertezas: enquanto existe um potencial de incremento nas vendas externas, a possibilidade de uma demanda doméstica na china enfraquecida coloca um limite no potencial de valorização de preços, mantendo as margens vulneráveis. Em geral, o mercado tem reagido de tal maneira que a potencial abertura de oportunidade para o Brasil e, portanto, esse viés está superando a eventual contração de preços nos grãos em virtude da retração da demanda chinesa. Pós eleições americanas, as ações da Brasil Agro fecharam em alta de +2,7%.

    Pressão persistente nos preços da soja devido à oferta global elevada.

    O cenário para a soja segue adverso, com um equilíbrio desfavorável entre oferta e demanda que mantém os preços sob pressão. A abundância na oferta global—sustentada por produções robustas no Brasil e nos EUA 24/25—vem limitando qualquer recuperação significativa de preços. Observamos que o Brasil continua a direcionar volumes expressivos ao mercado chinês, atendendo a uma demanda relativamente resiliente, enquanto a ampla disponibilidade nos Estados Unidos reforça o abastecimento do mercado global.

    Embora a recente seca no Brasil tenha elevado temporariamente os preços, principalmente devido ao atraso no plantio, esperamos que esse suporte seja de curto prazo, pois o excesso de oferta ainda configura um ambiente estruturalmente baixista nos preços . Essa tendência gera um desafio direto na preservação de margens operacionais. Em nosso entendimento, sem fatores disruptivos na oferta, as margens da companhia devem continuar comprimidas.

    Impacto positivo das condições climáticas nos preços da Cana-de-Açúcar.

    Apesar dos desafios que afetam outras culturas no portfólio da Brasil Agro, a cana-de-açúcar segue apresentando um desempenho positivo, impulsionado por condições climáticas favoráveis e fundamentos sólidos. A influência de um La Niña fraco deve contribuir para uma produção mais consistente e robusta, enquanto a estabilidade nos preços de mercado sustenta a rentabilidade da cana-de-açúcar  em níveis significativamente mais atraentes do que os obtidos com grãos. Adicionalmente, o mercado global de açúcar nos parece apresentar fundamentos de demanda resilientes, reforçando uma expectativa otimista para os preços.

    Cenário global do Algodão: Incertezas e pressões externas.

    O mercado global de algodão segue envolto em incertezas, com variáveis externas exercendo pressões significativas sobre a demanda e a competitividade do setor. Entre os principais fatores, destaca-se a possível implementação de tarifas adicionais pelos Estados Unidos sobre produtos chineses, o que poderá impactar diretamente o consumo de algodão, particularmente no setor de vestuário e têxteis. Dado que Donald Trump foi eleito, conhecido por sua postura protecionista, esperamos que barreiras tarifárias mais rígidas reduzam a competitividade dos produtos chineses, prejudicando o varejo discricionário ao desacelerar a demanda por têxteis e, por extensão, reduzindo a demanda por algodão.

    Em contrapartida, a potencial desvalorização dos preços do petróleo no médio prazo, justificados tanto pelas novas diretrizes de autorizações extrativas via fracking nos EUA quanto pelo efeito de atenuação da demanda chinesa como prerrogativa da deterioração do vigente crescimento econômico tendo vista os impactos da eventual guerra comercial, podem neutralizar parcialmente a contração de margens operacionais do algodão mediante a redução do custo do frete. Isso acaba adicionando uma complexidade à avaliação do efeito líquido sobre o cenário em potencial. Ainda assim, continuamos com o nosso cenário base de o preço do algodão sofra uma desaceleração mais acentuada já a partir do 2S25.

    Operacionalmente melhor, mas longe do ideal.

    Sob o âmbito do mercado de terras agrícolas, pilar estratégico da companhia, a empresa deve continuar a enfrentar desafios significativos para expandir suas aquisições neste ciclo. Embora a queda nos preços dos grãos, teoricamente, devesse facilitar as negociações, muitos produtores ainda resistem a reduzir os preços das terras. Um fator explicativo chave para essa retenção tem sido o aumento nos pedidos de recuperação judicial, incentivando pequenos e médios produtores a manter seus ativos ao invés de disponibilizá-los para venda, na tentativa de preservar valor em meio a um contexto financeiro desfavorável.

    Todavia, acreditamos que um ciclo de baixa prolongado para os grãos poderá, eventualmente, pressionar esses produtores, levando-os a vender ou, ao menos, arrendar suas propriedades para obter liquidez. Ainda assim, essa oportunidade está em fase de maturação e, por ora, não se apresenta como uma janela imediata para aquisições estratégicas a preços reduzidos. Diante desse cenário, reiteramos nossa recomendação de MANTER, com Target Price 12M de R$27,50, apontando para um potencial de valorização de +12,75%.

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